Obsessão (Camren)

2 - Empenho

Traverse City, em Michigan, tem um clima típico de primavera durante a maioria do ano, o verão não é  muito quente e o inverno não costuma chegar a ter temperaturas abaixo de zero, como é costume na maioria das outras cidades de Michigan. Eu particularmente me apaixonei por esse clima. Em Miami, minha cidade natal e que eu morava até algumas semanas atrás, eu tinha totalmente o oposto, a cidade era uma das mais quentes dos Eua.

Traverse City é um verdadeiro paraíso para mim, é ótima para passeios ao ar livre além de ser banhada por lagos e  dunas ao redor, então não faltam opções de passeios de barco e praias de água doce. Também é um bom lugar para provar cervejas artesanais.
A cidade simplesmente é encantadora, as pessoas são muito simpáticas e calorosas, para te comprimentar já vão abraçando e beijando no rosto.

Eu era a conselheira/psicóloga que cuidava dos problemas dos alunos na antiga escola que eu trabalhava, e sempre fui ótima na minha função.

Evan é um amigo meu de profissão, fizemos faculdade juntos e seguimos o mesmo ramo da psicologia, mas não trabalhávamos no mesmo colégio até então.

Evan quando comentou comigo que precisavam de mais um psicólogo na escola onde ele estaria prestes a ser contratado eu não tardei em pesquisar sobre, apesar de minha família e amigos estarem em Miami eu sempre soube que a cidade não era pra mim, sempre quis mudar para uma cidade pequena e tranquila, e vi uma oportunidade perfeita, além do salário ser superior ao da escola que eu trabalhava a cidade era um verdadeiro sonho. Após vários protestos contra, eu mesmo assim resolvi aceitar a vaga de emprego, e me mudei para a pequena cidade.

Logo fiz amizade com com uma das professoras da escola, ela era muito gentil e amigável, Alisson, que tinha uma queda por Evan, mas que com o tempo acabou se dissipando.

Os alunos também eram muito simpáticas e atenciosos, claro que nem tudo eram flores, alguns eram um tanto inconvenientes, me cantando na primeira oportunidade... e tinha a Camila.

Ela ia falar comigo no quinto tempo, das quintas e sexta-feiras, por estar tendo uma série de comportamentos um tanto conflituosos, como irresponsabilidades nas aulas e até mesmo violência, por isso ela foi a primeira aluna a destinada a mim.
Nossos primeiros contatos não foram nem um pouco agradáveis.

— O que aconteceu com o Cortez? — perguntou com as sobrancelhas franzidas, Cortez era o psicólogo do colégio antes da minha transferência e do Evan.

— Ele decidiu se aposentar mais cedo — Disse com um sorriso sem mostrar os dentes, Camila concordou para depois dar de ombros e jogar a mochila amarela no pequeno sofá de dois lugares que tinha no lugar e se sentou na cadeira da minha mesa, colocando os pés calçados por um converse sobre a mesma — Posso chamar você de Camila? — ela me olhou com desdém e moveu os lábios sem som em um "foda-se" debochado, suspirei em resposta — Segundo o relatório sobre você... — continuei sem me importar com o comportamento de Camila, com o dedo indicador apontei para a pasta preta em cima da mesa —... seu irmão morreu recentemente.

Ela parece ficar desconfortável com a menção do irmão e nesse momento vi a armadura da garota falhar por um segundo mas logo ela voltou a ficar indiferente.

— É, Jauregui — murmurou fria após olhar a placa que havia sobre a mesa com meu nome, tirou uma cartela de chiclete do bolso da jaqueta jeans para em seguida o colocar na boca e começar a mascar com a boca aberta fazendo um barulho desconfortável se espalhar no ambiente.

— Pode me chamar de Lauren apenas, não gosto de formalidades e por favor tire os pés de cima da mesa — a garota revirou os olhos mas tirou os pés da mesa, para depois ficar com as pernas em formato de índio na cadeira, respirei fundo para manter a paciência, coloquei a xícara vazia sobre a mesa para em seguida me sentar na cadeira estofada.

— Que foi... — peguei a pasta e tirei a ficha dela e após uma lida rápida continuei — ...apenas dois anos após o assassinato do seu pai.

— Exatamente — mesmo não tendo sido uma pergunta ela respondeu, prolongando a palavra ao máximo com calma.

— Sinto muito por voltar a falar disso, sei que trazer esse assunto a tona lhe afeta, mas você tem que me contar o que sente se quer virar a página — disse calmamente procurando os castanhos que Camila Cabello mantinha abaixados enquanto limpava algo inexistente na calça jeans com as mãos.

— O que você quer que eu conte pra você? — ela abraçou seus braços e me  olhou revirando os olhos.

— Camila, foram duas perdas, duas pessoas amadas, você precisa desabafar, não ficar descontando suas frustrações nos outros e fingir estar bem.

— Não tem nada que eu precise contar, eles infelizmente morreram, eu chorei, mas hoje estou melhor.

— Na sua ficha está escrito que antes da morte do seu irmão, suas notas eram altas, uma das melhores, e que você era uma menina calma, fato que está muito diferente hoje em dia.

— As matérias estão muito difíceis, e as pessoas que me provocam pedem para eu ser violenta com elas — diz olhando as unhas.

Suspirei novamente e coloquei os cotovelos na borda da mesa para ficar mais perto dela.

— Já tentei uma vez guardar as coisas pra mim, não acabou bem, eu acabei me machucando e machucando as pessoas que queriam me ajudar — fui sincera.

— Essa é a parte que você conta pra mim que... — olha para cima pensativa —... Já passou por uma situação semelhante a minha para tentar me fazer voltar a mim mesma? — termina voltando a me fitar intensamente.

"Ela está se negando, negando que está sofrendo com a perda das pessoas que amou, negando que está afetada, por isso esse comportamento tão contraditório ao que ela era, mas vou trabalhar esse sentimento nela e descobri o motivo por essa negação"

— Olha só... — olha o pequeno relógio digital que estava no pulso — Nosso tempo vai acabar em 3,2... — Camila se levantou no exato momento que o sinal tocou — Até nossa próxima sessão inútil.

Tentou de varias formas me fazer desistir de ajudar ela, sendo com misteriosas invasões de baratas na minha sala, ou com pés que  apareciam na minha frente nos corredores me fazendo cair.

A família dela é emigrante, segundo o que uma amiga dela falou no relatório ela sempre sofreu bullying por ser latina, mesmo assim nunca se deixou abalar e sempre foi uma ótima aluna, amorosa e sempre esforçada a se dar bem todos, mesmo com a discriminação que sofria.

O pai dela trabalhava em um banco, mesmo com a dificuldade pelo preconceito ridículo de alguns moradores ele conseguiu fazer sua vida na cidade, chegando a se tornar até mesmo gerente no único banco da cidade, a família Cabello tinha uma boa condição financeira, infelizmente em um assalto ao banco ele acabou morto junto aos assaltantes alguns anos atrás, deixando toda a família muito devastada, e a pouco tempo o irmão mais velho de Camila que morava em Portland sofreu um acidente de moto, no acidente ele acabou morrendo.
Claramente isso afetou extremamente às restantes Cabello. Por isso o comportamento agressivo e revoltado de Camila. A mãe da mesma diversas vezes veio ao colégio por coisas feitas por Camila, chegando ao ponto de Camila ser avisada que está prestes a ser expulsa do colégio. Eu fiquei determinada atentar derrubar essa armadura dela e no fim, não foi só a madura dela á cair.