14. Vibrações

6 1 0
                                    

Milla On

27/03 - 7:44 manhã

Liu se recusava falar, então depois de Vita e algumas de nós pedir muito, deixamos ele, alguns de nós ficaram acordados para caso ele tentasse alguma gracinha.
Uma coisa martelava minha cabeça, pedra, será se estou ficando louca? Não falei com ninguém sobre meu sonho, bem ninguém com exceção da Chaiana, mas, o que isso queria dizer?
Será que realmente há uma forma de sair daqui?

Mary Øn
Enquanto o pessoal ficou no alojamento guardando caixão, eu e Dante procurávamos alguma brecha, ou algo do tipo para sair, afinal, se entraram pessoas aqui então teve um lugar pelo qual fizeram isso, eu passei o caminho todo gritando:

- Uuuh, tem alguém aí do outro lado?

E Dante apenas me olhava com os olhos cerrados
- Ninguém vai responder, porque não tem ninguém do outro lado - Falou ele
- Se não tivesse ninguém pra que teria um muro? - Perguntei debochando
- Porque um muro serve para ficarmos presos até a morte - Disse ele irritado
- Será que eles deixaram nós aqui dentro pra morrer? - Perguntei espantada
- Mas isso é óbvio! Eu acabei de falar- Respondeu impaciente

De repente alguém gritou
- Alguém aí do outro lado?
...

Olhei pra Dante com um riso no rosto

- Eu tô aqui e você tá onde?
- Aqui, meu Deus não acredito que tem alguém do outro lado, socorro! - Gritou a voz

- Socorro também - Gritei

Dante me olhava sem acreditar
E então soltei pra ele que estava boquiaberto:
- Eu disse que tinha gente do outro lado!

Eu sentei no chão bem próxima ao muro, combinei com o garoto que se identificou como Juan para ele também ficar próximo ao muro e assim melhorar a comunicação, Dante sentou um pouco distante ainda incrédulo da situação

Eu e Juan conversamos sobre o cotidiano, ele me disse que grande parte dos seus colegas "sumiram" e que restavam apenas 25 deles, a comida estava escassa e todos já tinham perdido as esperanças, eu falei algumas coisas sobre nós também, até que ele disse o seguinte:
- Há algumas semanas um de nós disse que viu alguém atravessando um portal, ele disse ter visto outras coisas mas não nos disse tudo, e depois disso ele simplesmente sumiu, alguns dizem que ele atravessou o portal, então nós estamos acreditando nisso.
- Mas um portal? Isso parece absurdo, para onde seria esse portal? - Perguntei estranhando
- Aí que está, uma pessoa na nossa sala é empática e disse que ele foi pra outro mundo, mas sendo sincero, eu prefiro ir pra outro mundo, do que morrer aqui.

Após conversamos mais um pouco comecei teorizar algumas coisas, e daí falei com Dante
- Acho bom nós falarmos para o pessoal da turma sobre isso.
Ele então me respondeu ainda desconfiado:
- Tem duas possibilidades, primeira esse cara aí tá mentindo e pode até ser uma das pessoas que estão tramando contra nós, e segunda se esse portal existir vamos para um "outro mundo" e aí vamos fazer o quê?
- Mas mesmo assim, é como ele disse, melhor do que morrer aqui, vamos ter uma chance lá. - Falei
- Outro problema, e se isso for verdade, vamos falar pra todo mundo, um possível traidor vai saber que descobrimos isso, aí estaremos ferrados em dobro.

Nisso que ele disse eu voltei ao muro e perguntei a Juan:

- Vocês sabem que tem um traidor entre vocês?

Eu esperei a resposta mas parece que ele já havia saído do muro.
- Droga! - Soltei

Milla Øn

- Você não se importa com as pessoas que matou? - Perguntei para Liu
- Eu não matei ninguém, só fiz o que me mandaram! - Disse ele com um rosto abatido
- Quem mandou?
Ele ficou em silêncio

- Todos vocês possuem dons, são especiais, privilégiados, e é por isso que odeio vocês, todos vocês, deviam me matar, todos vocês vão morrer mesmo, só estão adiando o inevitável -  Me disse olhando no fundo dos olhos

- Não estamos adiando o inevitável, estamos sobrevivendo, nosso futuro não é predestinado, nós fazemos nossas escolhas, todos os dias - Falei firmemente

- Vocês nunca vão sair desse lugar, já pararam ao menos pra pensar o porquê de não ter turmas secundaristas ou terceiranistas na escola? Vocês entraram em um lugar sem ao menos procurar informações antes, apenas por status sociais, vocês vivem acreditando em contos de fadas e julgando as pessoas por suas aparências ou pelo que vestem, e acharam que ainda assim podiam ser cidadões felizes-
- 10 amigos nossos se foram, e você acha que acreditamos em contos de fadas? Nós entramos aqui não porque queríamos status, porquê merecemos, todos nós, e todos nós vamos sair daqui, juntos.

Gizzy que estava perto de nós ouvindo tudo perguntou:
- Já que citou, onde estão as outras turmas do segundo e terceiro ano?

Ele olhou para nós com um riso no rosto e disse:

- Eu sou o último vivo

Nesse momento estremeci e engoli seco.
- Nesse momento seus amigos estão coletando água da seiva, outros explorando em busca de uma saída inexistente, em certo momento se entregarão como nós fizemos, desistirão de tudo e os que restarem vivos serão como eu - Falou Liu

- Não seremos como você jamais - Respondi

Era o que pensávamos...

Dia 31/03 
Esse dia... nunca vou me esquecer dele, o início parecia maravilhoso, mas foi desastroso.

00:45
Mary nos contou ontem que tinha conversado com um garoto que estaria do outro lado do muro, porém, estamos começando a desconfiar de muitas pessoas que poderiam ser o assassino entre nós então mantivemos essa informação entre nós, Liu tem sido mantido preso em um quarto, e todos nós seguimos dormindo na sala, fazemos revezamento de horas, agora é meu momento de vigiar, tudo isso para evitar ataques surpresas, bem digamos que estamos divididos, Johanssen, Adrian, Armin e Dante estão mais juntos, nosso grupo está formado de Brunette, Mary, Dehs, Chaiana, Yaszok, Gizzy e Valéria, nós confiamos em nós e mais ninguém, mesmo que tenha sido difícil ter que desconfiar dos próprios amigos, Gyana, Griela, Vita, Janaína, Loma e Nata estão sempre unidas, os outros não sei bem o que dizer, Dehs é muito próxima de Tapê e confia nele, inclusive ela disse que ele foi quem percebeu o gás, mas eu não confio muito nele, afinal, como ele percebeu tão bem algo quem mais ninguém sequer notou?

Brunette, Valéria, Chai e eu estávamos acordadas fazendo nosso dever, o prédio inteiro continuava escuro por conta que não há energia.
Os outros seguiam dormindo, Mary e as outras garotas estavam dormindo próximas da gente, nós havíamos dito que iríamos proteger elas melhor se ficassemos sempre juntas...

Mas então eu comecei a me lembrar novamente daqueles sonhos, e flashbacks se passavam pela minha cabeça.

Milla
Milla
Você precisa fazer isso

Milla há um lugar que você ainda não foi, vocês irão morrer de fome antes de serem assassinados, lá, mais próximo do céu, vocês não foram lá!!

Era uma voz doce e suave, me lembrava...
- Mãe?

Nesse momento as garotas me olham
- O quê? - Perguntou Brunette assustada

- Minha mãe, a voz da minha mãe, vocês não ouviram? - Perguntei confusa
Ficamos em silêncio e logo eu percebi que falei algo que não devia, era estranho, mas não foi em vão, Chaiana me olhou, e seus olhos brilhavam em meio aquela suja escuridão

- Você está sentindo? - Disse ela aos fundos dos meus olhos

Eu não conseguia entender, mas meu corpo mais uma vez sentia a energia de todo o lugar, o vento, a respiração de cada pessoa dormindo, nesse momento meus olhos pareciam estar se afastando do planeta Terra, eu me sentia como se estivesse realmente fora da Terra, como se eu estivesse em um lugar distante, o ar tinha um cheiro diferente, o solo que eu tocava não era tão firme.

- Você está sentindo algo? - Falei em coro com Valéria
- Ih alá - Falou Brunette me encarando com um rosto totalmente abismado
- Eu não sei o que está acontecendo comigo! - Surtei
- Mas eu sei, pelo menos acho que sei - Falou Chaiana com um riso de canto da boca - Eu não estou ficando louca sozinha, você deve estar sentindo algo, algo inexplicável.

Assentindo com a cabeça repondi:
- Sim, estou sentindo... Estou sentindo um cheiro, cheiro de comida!

Escola InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora