•Capítulo Vinte e Um•

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Giuseppe

Aos sete anos

Acordei. De novo acordei com os gritos de mamãe. Me sentei na cama e olhei ao meu redor,pelo quarto escuro. A porta estava entreaberta,apenas um feixe de luz passando por ela. Podia ouvir os passos do meu pai no quarto mais a frente,depois da escada. Os gritos da mamãe foram ficando mais baixos,até sumirem.

Eu odiava acordar quase todas as noites com os gritos dela. Odiava saber que meu pai a machucava,que ela sofria com ele. Não podíamos ser apenas uma família normal?

Queria que o meu irmão estivesse aqui agora,mas o quarto dele estava longe do meu. Meu pai disse que não precisavamos dormir perto um do outro,não éramos menininhas.

Eu o odeio,ele nos machuca e fere a minha mãe. Ela que sempre cuida da gente,acaba levando a culpa em nosso lugar,e eu estava cansado de ter que suportar isso.

Me levantei da cama e abri a porta,saindo do quarto. Andei devagar até o quarto do meu pai e parei na porta,apenas ouvindo. Mamãe respirava com dificuldade. Fechei os olhos,sentindo as lágrimas os queimarem.

"Ele" sempre fala pra mim não chorar,se eu chorar terei de ser punido,então apenas segurei as lágrimas. Mesmo aos meus sete anos já sabia que não seria uma criança normal,e que não teria uma vida normal. Ele só faz mal,apenas mal.

A porta ao meu lado se abriu com brusquidão,batendo contra a parede. Meu pai saiu do quarto,seus olhos vermelhos irritados me olhando.

- Eu não disse que era pra ficar longe do meu quarto?! - gritou,suas roupas, mão e rosto cobertos de sangue.

Ele agarrou o meu braço com força,as lágrimas saindo pelos meus olhos sem que eu pudesse controla-las.

- Inútil! Você é um merda,seu merda! - ele berrou em meu rosto,me fazendo fechar os olhos.

Não falei nada,sabia que se falasse seria pior. Mas para o meu horror,ele me puxou para dentro do quarto,e a cena que vi fez meu estômago revirar.

Mamãe estava no chão ensanguentada,as roupas rasgadas,seu rosto inchado e cheio de cortes. Assim que ele me soltou eu corri para ela,me sentando ao seu lado no chão.

Ela me olhou pelos olhos inchados,os olhos idênticos aos meus. Sua mão tocou meu rosto suavemente,enquanto ela respirava com dificuldade.

- Meu filho - ela não conseguia falar direito,mas estava tentando,tentando me dizer...- Eu amo muito você e seu irmão,p-por favor,não se transformem no mesmo monstro que o pai de vocês,nunca batam em uma mulher..

Engoli em seco,contendo as lágrimas. Meu pai parecia ter saído,mas eu sabia que ele logo voltaria.

- Mamãe..

- Shh..shhh.

Senti meu corpo ficando tenso quando a mão do meu pai agarrou meu braço,me forçando a segurar uma faca.

- Verme inútil! - xingou me obrigando a ficar com a faca na mão - Está vendo Diana? Seu filho está se tornando um merda como você!

Ele agarrou mamãe pelos cabelos. Ela fez uma cara de dor,mas não lutou contra ele. Parecia cansada de tudo.

Ele voltou sua atenção para mim.

- Mate-a! - mandou.

Neguei várias vezes,me arrastando para trás. Mas ele segurou o meu braço,a mão que segurava a faca e me forçou a ir para frente.

- Não! Por favor! Por favor! - gritei me debatendo,tentando sair de perto dele. Mas ele era muito forte,e acabou me arrastando de volta.

Mamãe apenas suspirou e fechou os olhos.

- Mamãe! Pare com isso! Por favor! - gritei em altos pulmões desesperado.

Ele me segurou em cima do corpo da minha mãe e agarrou a minha mão.

- Garoto inútil! - xingou segurando minha mão,me forçando a enfiar a faca na barriga da minha mãe. A sensação horrível da lâmina perfurando sua pele,seus órgãos,o som estranho.

- Nããão! Me solta! - já estava ficando louco vendo o corpo da minha mãe se debatendo enquanto meu pai me forçava a enfiar a faca várias vezes,o sangue espirrando pelo meu rosto,manchando a minha mão.

Quando o corpo de mamãe parou de se mexer,ele soltou a minha mão,seu olhar maníaco em mim.

- Verme! - vocíferou entre os dentes,se levantando.

Ele saiu e entrou em uma porta que tinha ali. Me arrastei até o corpo da minha mãe,chorando. Eu a matei,eu a matei. Nunca me perdoaria por isso. Matei a minha mãe e nunca teria o seu perdão.

Chorei sobre seu corpo,me sentindo indigno até mesmo de fazer isso. Não merecia misericórdia, não depois disso.

A porta misteriosa se abriu de novo e meu pai saiu de lá com um ferro nas mãos,a ponta era curvada em um V,alaranjada. Ele se aproximou de mim,e apenas quando ele chegou bem perto vi que era a mesma coisa que as pessoas usam para marcar gado.

Me afastei apavorado,me arrastando no sangue da minha mãe,o líquido vermelho molhando minha bermuda de dormir,ensopando minha blusa.

- Não! Por favor! Não faz isso! - gritei desesperado,mas ele não ligou,continuou andando até mim.

- V de verme. Você é um bosta,nunca conseguirá chegar aonde eu cheguei! Seu merda!

Coloquei a mão na frente quando ele aproximou o ferro quente de mim,mas escorreguei no sangue e caí de lado. Só senti o ferro quente pressionado contra a minha coxa,a dor agonizante e o cheiro de pele queimada. Parecia que ele estava me marcando até o osso,como se me perfurasse e queimasse ao mesmo tempo.

O grito que dei foi tão alto,que o ouvi ecoar pela mansão inteira.
Ele tirou o ferro da minha perna ardente,queimada e ficou parado me observando. Ao longe eu podia ouvir os gritos endurecidos de Enrico,meu irmão,com certeza estava tentando chegar até mim para me ajudar. Ele já era mais velho,mais forte,até Tommaso o temia.

- Verme! - disse cuspindo no corpo da minha mãe - Agora você levará essa marca para o túmulo,será sempre um rejeitado inútil para mim.

Apenas o olhei partir,sentindo o ódio crescer dentro de mim e a culpa,puro terror,por ter matado a minha mãe.

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Eu chorei escrevendo esse capítulo 😭agora todas sabem o que aconteceu 😭😭😭tadinho!!

Meninas,tô esperando vcs no grupo do whatsapp eim,o link está no meu perfil! Até mais tarde, aguardo vcs 😘😘😘😘😘

Amor e Ódio | Série "Donos da Máfia" | Livro 2 [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora