DIAS

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A noite chegara de forma calada depois da longa trilha de andarilhos. Eivor nos deu ideia de descansarmos em umas certas colunas que aparentavam ser gigantes prédios de uma época passada, os suprimentos que ele trouxera da viagem era de extrema utilidade, como se fosse sútil em saber como deveríamos se acomodar antes de chegar em nossos destinos. Como homem de experiência Eivor detalhou seu cavalo com mochilas, alforjes e cestas que carregavam qualquer tipo de cabana improvisada para ser montada ou coisas do tipo, o que fez questionar se aquele cavalo era forte mesmo como demonstrava de sua aparência ou se simplesmente ele o judiava bastante com um acumulo de peso. Por fim a tarde se dissipou junto ao radiar do Sol se pondo, adentramos no mesmo prédio, em sua estrutura morta porém se reconhecia seus patamares futuristas, quase parecidas com metrópoles orientais e semelhantes às nova iorquinas com seus edifícios espessos em curvas exageradas no tom de vidros LEDs. Tanta tecnologia já fora desperdiçada que hoje se tornara um acumulo de pó e ruínas. Estamos bem perto do fim dessa longa caminhada e já conseguimos enxergar a curvatura final da muralha à frente, com um certo fiasco de luz, parecendo mais uma rachadura de parede em que o Sol se ultrapassa numa neblina escura e cinzenta, era quase bonito de se dizer que se passava de uma luz no fim do túnel.

A cidade em seu estado calento e silêncio que se arrepiava ficara por lá, e por tanto tempo e por tanto que andamos por aí, agora que estamos parados notamos a real diferença entre barulho e o calado. Incomoda e proporciona um certo mal estar, porém se você não fica pensando ou reparando, isso tudo se torna alheio e passageiro, como espera ser mesmo. Por fim as ''barracas'' fora ser construídas assim dizer, montadas em seu terreno abaixo das ruínas desses prédios, mais preciso no antigo estacionamento deles. Uma garoa começou a cair sob o solo e assim em diante à chuva, Eivor colocou lamparinas e velas onde estávamos cobertos, iluminando todo o ambiente em nosso redor, e deixando nossos cavalos amarrados e amordaçados bem perto. De nossa vista, as luzes e a chuva no seu som calando o silêncio do lugar, amontoamos as camas e tudo tipo de coisa para poder ter um pouco de descanso e voltar ativa na manhã seguinte. A fome estava roncando os estômagos e precisávamos da terceira refeição do dia até que Eivor decidiu de vez em preparar o que seria a nossa janta. Me posicionei e amontoei um pouco da lenha que havíamos pegado na cidade, coloquei no chão e em seguida já me esgueirei em minha mochila pra ver se não havia esquecido qualquer isqueiro ou alguma coisa que funcionasse em gás para que acendesse a fogueira. E por fim, ali estava o isqueiro e ainda bem. Liguei e piscara o fogo, as luzes e a faísca propuseram a iluminação de forma imediata, emudecendo a escuridão e tornando os olhos de todos fascinados, parecíamos os descobridores do fogo em plenas ruínas. Loren ou a Garota de Amarelo, seja qual nome no qual eu não me acostumei já sentara ao meu lado, oferecendo os pratos à todos nós, um espécime de vasilha curvada com teor de madeira antiga, eu diria que ela pegou da cidade de Eivor, já que apresentava tons culturais similares do local. Eivor deu a Aurora colheres antes da viagem, sendo assim entregando à todos, portanto estavam embaladas e com nomes em específico de cada um de nós, o que me fez ficar curioso, porque parecia associada a segurança de ambos, ou que dava-se entender. Minha dúvida deixara pensativo nesse momento, entretanto a fome dominava naquele lugar, os roncos embrulhados e nada baixos respondiam a situação da gente. Por fim não se passou nem aos dez minutos e se entupimos de comidas enlatadas, salmões, batatas doces e um tipo de frango atípico, parecia mais um peru, enchemos o que se falava à muito tempo o ''famoso bucho". Com o tempo satisfeito e já de prontidão para o amanhecer do dia seguinte, me propus a deitar, porém não era de acontecer de imediato, já que Eivor se erguera e me interrompera com um aceno para me levantar e supostamente ter uma conversa com ele. Diferente de antes parecia mais sério, mais sóbrio também já que se passou hoje oito horas de viagem e ele nem se quer bebeu algum tipo de rum no qual se tratava de sua bebida favorita. Parecendo-se mais firme e com um certo olhar diferente me encaminhou longe das meninas, entregando uma suposta intenção que isso era para evitar que elas soubessem de algo e no qual só nós dois deveríamos se falar, tá... Mas o que é afinal?

- Está tudo bem Eivor, por que estamos indo longe delas? - Questionei preocupado, enquanto ficávamos na ponta de um elevador destroçado do prédio que estamos abaixo dele, vendo a chuva recorrer sobre o piso cercado da mato e asfalto juntos.

- Você já parou pra pensar, por que nessa cidade chove muito? - Eivor me fez uma pergunta tanto estranha.

- Ahhh... Mas acabamos de chegar nessa cidade e não saberia di...

- Não estou falando dessa droga em ruínas. Estou falando da cidade continental, de toda ela, da Abgrund, cercada por um monte de pedras caluniadas e meia boca como muralha, impedindo que muitos de nós saiam para ver o mundo lá fora. Mas então você então nunca parou pra pensar o porque disso né? Da chuva? - Me interrompeu e questionou em seguida.

- Não, ou nunca reparei. - Respondi.

- Sim claro, é o que ouço de muitos sempre que pergunto. Pra ser sincero eu esperava que você respondesse outra coisa, mas não foi ao caso...

- Mas o por quê dessa pergunta, e curiosidade? - Questionando-o

- Huh. - Ele riu solenemente. - A Abgrund chove desde que a cidade foi auto declarada como um tipo de quarentena do mundo lá fora. Todas as vezes a meteorologista ressaltava que as semanas seriam chuvosas de um determinado mês. Só que na verdade essa cidade só chove e principalmente a noite, porém as pessoas jamais percebiam pois estavam esticadas em seu pranto de vida monótona e deixavam a se acomodar. A cidade que chove, e que não para, ela enferruja os postes e as vias de metais que percorrem por toda ela. É como se fosse que ela fizesse de propósito pra corroer até seu último instante, até o seu último suspiro, talvez ela esteja chorando e desabando o tempo todo, porém ninguém as vê, e os que enxergam, ignoram.

- Nossa... Só que... Eu vi um deserto, na verdade caminhei por ele, e me parecia vasto e nunca se quer passou uma gota da água, um amontoado de areia que parecia ter enterrado coisas que já foram do passado, eu diria que eram ruínas ou algo assim... Então não poderia dizer que toda Abgrund chovia, ou algo assim. Havia um deserto no qual eu e a garota sofremos pra passar, e era antes da cidade que conhecemos vocês. Parecia que o deserto não se acabava... - O respondi falando do sufoco anterior que passamos.

- Ah sim... Mas aquilo não faz parte mais de Abgrund, na verdade nunca fez. Esse deserto racha entre os caminhos, atravessando como se fossem frestas por toda as muralhas, e muitas das vezes dividindo cidades de outras, como se fossem fronteiras, porém o deserto atravessa toda essa maldita muralha. E ninguém até hoje soube explicar porque não chove nessa região mórbida, ou houve resíduo de água, fora que nem se quer alguém deu conta de saber. E por curiosidade a mais meu caro Flores, antes de ter sido um longo e vasto deserto, já se fora cidades enormes, construídas com o propósitos e sentidos, porém ela se dissipou com tudo, sendo soterrada, como se fossem histórias antigas. E sim jovem, a falta de gotas d'água nesse tal local areoso, torna-te mistério para muitos. - Eivor respondeu.

- É. Acho que ninguém optou por querer saber também, e creio que do lugar de onde vim, éramos um amontoado de não saber do além de Abgrund ou que poderia vim à mais dela. Lembro das vielas se dividiam numa neblina com o que achávamos que era um bairro, porém só mais uma cidade a fora, na rua seguinte, dada mais para uma avenida isso sim. Ninguém se quer suspeitava de algo, acho que eu também não... É estranho sabe. - Já estava confuso e respondi mais ainda dessa maneira.

- O que é estranho? A chuva? A neblina que dividia cidades? Ou tudo nessa joça? - Me questionou.

- Não só tudo, mas as coisas como ocorreram até aqui, parece que não foram dias, e sim meses ou até mesmo anos, uma impressão tal incomoda porém despercebida no qual não saberia relacionar para te dizer. Tudo uma questão de tempo sabe...

- Flores. Eu não entendi muito bem garoto. Estamos à muito tempo cavalgando por ai em Abgrund seguindo pro horizonte querendo sair daqui e como assim dias? - Eivor perguntou e...

- É que... Faz uma semana só que saímos de sua cidade e chegamos até onde estamos aqui. Na verdade hoje que completa sete dias e...

- Garoto. - Ele me olhou com um rosto confuso e meio espantado. - Estamos seguindo para o horizonte por 3 meses e meio, não são dias nem semanas, são meses...

- O quê? 

O ABGRUNDOnde histórias criam vida. Descubra agora