Claquete 11:Emprego novo

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Seguro minha mochila firme, pois a rua em que estou entrando está mais para um beco. Há mulheres fumando e bebendo, junto a homens que as a polpa de todas as formas inimagináveis. Um pouco mais a frente, vejo grupos trocando pacotes por dinheiro.

"Ai Diana, onde você está se metendo?"

Conforme avanço pelo beco, olhares recaem sobre mim, ouço burburinhos. " Mais uma para a noitada" Uma mulher baixa e com um vestido muito caro, (Meu Deus! Aquilo é uma gucci? ) diz para a outra.

E é como um passe de mágica, o beco sujo e fedido fica para trás. Agora estou diante de uma nova rua, após quebrar uma esquina, que se assemelha a Copacabana ou Leblon. Há um mini prédio lindíssimo. Equipado com luzes e vidros escuros. Uma placa enorme, escrito "RedNight" e vários seguranças na entrada.

É então que percebo o real motivo de essa estrutura está localizada aqui. Eles utilizam o beco como fachada para realizar seu trabalho com discrição.

"Fuja enquanto tem tempo, garota." Ignora a voz irritante na minha cabeça, ela não vai pagar as minhas contas.

Subo as longas escadas para entrar no local, porém sou barrada por um dos seguranças.

- O que a senhorita deseja?- Um homem alto e de ombros largos segura meu braço
- E- Eu quero falar com o responsável por isso aqui - tento fingir normalidade e saio muito bem nisso, pelo menos é o que eu acho. Afinal, sou uma atriz não é mesmo?

- Aah, entendo - ele cutuca o outro cara do seu lado e soltam uma risadinha - É pelos fundos

Pelo visto pessoas como eu não é novidade para eles. Eu sempre gostei de ser novidade.

O mesmo homem me acompanha, indo na frente. Não posso deixar de reparar nas lindas flores em um gramado perfeitamente cuidado.

O homem de terno e tudo mais, em meio a um calor de 36°C ( tento parar de imaginar o calor que esse segurança está sentindo, pois está me fazendo soar ainda mais.) bate na porta grande de madeira, na nossa frente.

- Entre. - uma voz masculina grita por trás da porta, a mesma voz que escutei no telefone quando liguei. A mesma voz que me causou arrepios naquele dia.

O segurança abre o caminho para que eu possa entrar.
O escritório tem um enorme sofá e um forte cheiro de whisky (barato ainda por cima. Reconheço um bom whisky de longe, graça a minha tia Cintia que vivia bebendo pelos cantos escondido). Um homem com uma aparência de 60 anos para mais , está sentado em uma poltrona, lendo alguns papeis e parece nem me notar ali.

- Pois não? - ele pergunta, sem tirar os olhos da papelada.

- Eu liguei marcando um horário para- eu tenho dificuldades em falar- para marcar uma entrevista. Eu quero saber como funciona aqui. - ele continua paralisado, então eu continuo - Eu sou a Di...

- Diana Moreno . Tenho 70 anos meu bem, não sou um gagá, pelo menos não ainda. - ele diz meio impaciente. Bom, pelo menos largou os documentos em cima da escrivaninha.

- Desculpe senhor, hã, Qual seu nome mesmo? - Até agora o homem de bom porte não olhou nem de relance para mim e isso está me tirando do sério. O desatento está de costas no momento, servindo um copo de whisky.

- Sebastian, nada de senhor, isso me faz parecer mais velho do que eu realmente sou. - Finalmente, ele se vira e penetra seus olhos azuis em mim. Seu olhar percorre de cima abaixo para meu corpo. Ele está me analisando, e chega mais perto, dando um gole na sua bebida.

Eu não sinto mais o sangue correr em minhas veias, tenho a sensação de que congelou tudo em mim. O calor infernal que eu estava sentindo agora a pouco, foi embora. Sinto um enorme gelo dentro de mim: o medo. Não consigo nem correr se precisar.

Identidade Paralela||ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora