Claquete 3: Vida nova, amigos novos

166 82 11
                                    

Estamos no carro, um silêncio absurdo há entre nós ( e olha que não é fácil me deixar calada). O estranho desse silêncio é que há muitas coisas a serem esclarecidas, como o óbvio, ainda não sei o seu nome.

- Sempre me ensinaram a não falar com estranhos, muito menos entrar no carro de um, conselho esse que não segui direito -quebro aquela barreira entre nós, acabando com toda aquela quietude - Então, qual seu nome? Não que eu ache que saber seu nome te torne menos estranho, mas já é um passo...Por exemplo se seu nome for Max, não posso confiar plenamente, pois teve toda aquela novela da Globo, com o vilão obsessivo, parceiro da Carminha... Sabe como é ne? -Os olhos dele estão arregalados virados para mim, com as mãos firmes no volante e com uma expressão de quem não faz a mínima ideia do que estou falando - Você poderia me falar seu nome?- dou de ombros.

Após uma longa pausa, ele retorna a concentração para o trânsito e finalmente abre a boca.

- Tomás. Tomás Sartori...ao seu prazer - diz com um ar de superioridade irritante. Ele acabou de tentar jogar um charme pra mim? Com aquele meio sorriso no canto da boca...Concentra Diana.- Eu também não sei o seu, talvez eu esteja levando para casa das minhas inquilinas uma psicopata, fugitiva da polícia, mafiosa... Ou seja, estamos os dois correndo risco de morte aqui. - sua frase é terminada com aquele belo sorriso no rosto.

Seu maxilar bem definido, perfeitamente contornado.

- Diana Moreno - mantenho um contato visual com ele, que vez ou outra resolve olhar para esse transito infernal.

É graças a esse contato, que noto a expressão confusa formar no seu rosto quando eu digo meu nome.

- Tipo a princesa? A Princesa da Disney?- a curiosidade na sua voz é evidente.

- Por favor, seja criativo...- resmungo, porque é verdade, já ouvi esse trocadilho mil vezes, além de claro, não faltar piadinhas com o meu nome. Nos trabalhos do Colégio, eu sempre era a líder, toda vez que eu passava dos limites dando ordens, meus adoráveis colegas pediam " Por favor Diana, vá governar aquele país da Disney e não nossa mera pesquisa". Eu sempre me irritava, ou fingia estar ,mas a realidade é: Eu amo meu nome. Ele é diferente e sempre é associado com uma das minhas personagens favoritas - A princesa da Disney é Tiana, Tomás. - reviro os olhos meio impaciente.

E de novo o silêncio constrangedor recai sobre nós, automaticamente me encolho no banco do carona, coloco as mãos entre minhas coxas e não ouso olhar para sua direção. Algumas vezes olho para Tomás, mas sem dar muito alarde, apenas pelo canto do olho, e quase todas as vezes ele também está olhando descaradamente para mim.

Constrangedor e excitante.

Após varias voltas, em um trânsito insuportável, vários lugares impedidos( Belo Horizonte sempre é assim ou só no Carnaval mesmo?) Felizmente chegamos ao apartamento dele. Na verdade os pais são donos, mas como vivem viajando, essa foi a forma deles deixarem um dinheiro extra para casos de emergência. O aluguel do ap. O local está ocupado por duas garotas que fazem faculdade aqui, entretanto, segundo Tomás, elas são super agradáveis e vão me aceitar numa boa, há tempos elas procuram alguém para ajudar no aluguel e diminuir a conta entre as duas.

Maravilha.

- Você faz uma baita mudança. De São Paulo para BH, e só traz a roupa do corpo? - ele me encara de cima a baixo quando estamos fora do carro, já no estacionamento do prédio.

-Verdade!! Meu carro! - a essa altura, eu me esqueci completamente do meu celta prata ,minhas roupas. Com aquela correria toda da noite anterior, eu lembrei de pegar uma bolsa com meu celular, escovas de dentes e documentos. - Ele estragou bem perto de onde estava um bloquinho, acabou que tive que deixar ele lá, porque além de estar impossível andar de carro nessa cidade ontem, não ia achar ninguém para conserta-lo... Só que com os últimos acontecimentos, eu esqueci de voltar .- Eu estava com as mãos no cabelos, desesperada, com um nó formando na minha garganta.

Eu só consigo imaginar no meu carrinho no qual acabei de ganhar de presente no meu aniversário de 18 anos, imerso naquele mar de pessoas, todo quebrado, sujo. As minhas malas roubadas...

Acho que Tomás notou o meu desespero, pois ele está com as mãos nos meus pulsos me pedindo para acalmar, ou com tanto puxão no meu cabelo eu ia acabar careca . Seu toque me traz de novo para a realidade, seu polegar acaricia a extremidade da minha pele. Que arrepio é esse? Será que esfriou? No entanto, estou sentindo minha pele queimar...Isso não é bom.

- Olha, já que estamos aqui, resolve seu problema do lugar para você ficar, depois eu procuro seu carro beleza? - eu cravo meu olhar no dele ele se toca que ainda segura meu braço, com uma intensidade apavorante então com um impulso Tomás tira suas mãos do meu pulso, colocando no bolso( muito charmoso vale ressaltar) e chama o elevador.

Mas pera, ele procura meu carro?

Quando o elevador chega, entramos e um ponto de interrogação surge no meu rosto.

- Estou fazendo isso porque essa semana estou de folga e digamos que meus amigos todos estão nesses blocos...- ele da um suspiro - eu não gosto muito de Carnaval - ele força uma risada mas saí falhada

- Eu gostei muito disso...- depois que a frase saí, percebo que soa como duplo sentido, então apresso a falar- do Carnaval daqui é claro. Parece ser bem legal, para quem está de boa com a vida, e não presa num elevador com um quase desconhecido, sem carro, com as roupas provavelmente roubadas - paro para tomar fôlego.

- Uau. Você não sabe falar com calma, não? É sempre assim tão...- seus olhos buscam o meu com curiosidade- ... intensa?

A porta do elevador se abre. E eu não respondo, apenas dou de ombros, saio primeiro que Tomas, e jogo um beijinho para ele. Aquele para de olhos dourados causa um efeito em mim, que prefiro estar longe.

Procuro com os olhos o apartamento 801. Ele esta no final do corredor, com a porta toda trabalhada na decoração de Carnaval. Acho que é de lá o som alto, tocando os clássicos dessa época.
Após a campainha ser tocada algumas vezes ( mais especificamente umas 11 vezes), percebo Tomás suspirando fundo o tempo todo, já nervoso com a situação. A veia alta no seu pescoço sobre.

Isso é atraente, com certeza.

Confesso que também estou, para ser sincera, esta mais para ansiedade. Não gosto de não ter o controle da minha própria vida.

O som diminui e a porta finalmente se abre. E ela esta ali, na minha frente. A garota ruiva de ontem. A garota com rosto simpático e destrambelhada.


Identidade Paralela||ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora