Capitulo 11

6 0 0
                                    

No caminho da fazenda peguei meu telefone pra ligar pro Rafa. Queria ter a certeza que tudo estava bem e ouvir a voz dele me ajudaria. Mas ele não me atendeu. Liguei até cair na caixa postal.
— Tudo bem querida?
—Tudo mamãe. A senhora acha que eu estou fazendo a coisa certa?
—porque isso agora? Você não devia ter perguntado antes, quando as coisas não houvessem chegado a esse ponto?
—Sim eu sei, mas é que eu estive pensando...
—Então não pense querida, —me interrompeu.—você vai ficar bem, vai dar tudo certo...
—Tomara que a senhora esteja certa.

Fui o caminho todo olhando a paisagem. Conforme íamos saindo da cidade e entrando na estrada que levava a fazenda fui pensando nos últimos anos. E se as coisas houvessem sido diferentes? E se por acaso eu tivesse dito pro Augusto que provavelmente o amava? Como teria sido? Eu estive ciente de que era platônico. Aquele tipo de coisa que você se permite sonhar e somente isso. Porque não há nada a mais que sonhos. De qualquer forma meu melhor amigo tinha ido embora. Sempre esteve perto, mas nos últimos anos, distante.

Virei o rosto e olhei pra frente, a porteira azul que demarcava o início, o começo da minha vida de casada. Última vez que entro aqui solteira, a partir de amanhã quando sair daqui, serei casada com Rafael Padilha, serei Bianca Alcântara Padilha...
conforme descemos do carro, Cinthia, minha assessora veio dizendo
—Por Deus que demora... achei que não chegariam nunca, já estava quase pesquisando no Google se houve algum acidente na BR pra que justificasse a demora... vocês duas vem comigo, a equipe da maquiagem já está aqui.
—E o dia será longo...
—Xiu mamãe!
—Eu não falei nada!
Dona Alice, sempre sincera, nunca escondeu que Cinthia falava demais, garota petulante, ela dizia.
Subimos ao quarto onde as minhas madrinhas estariam.
Anelise trabalhava comigo e seria minha madrinha com Arthur. Amanda, também do escritório iria junto com Dani. Pro Augusto, escolhi como madrinha a Sara, porque quando ainda morávamos juntas, era ela quem ficava comigo acordada até tarde estudando e conversando sobre assuntos variados. Decidi manter contato com ela mesmo após todos esses anos. Era uma constante.
Benício levaria Ana, a garçonete do nosso barzinho favorito da faculdade, ela sempre dava algumas bebidas grátis pro Be, então acho que ela meio que é afim dele. Mas hoje não era dia pra eu ser cupido! Hoje era meu dia.

Passamos o dia fazendo cabelo, unhas, maquiagem, enquanto as meninas não paravam de falar em como elas ficariam gratas de aceitarem a vaga extra do meu apartamento, caso um dos meninos sugerissem. E eu, bom, eu fiquei o dia todo pensando no que Bê havia falado. Fiquei pensando em como eles iriam sobreviver sem mim. Se Augusto se lembraria de ir ao dentista no dia certo, se Arthur saberia lavar as roupas dele sem manchar nada... eu estava ficando maluca.

As cinco em ponto, Cinthia veio e disse pra eu ficar preparada que iríamos aguardar todos estarem a postos, que a cerimônia iria começar.
Me olhei no espelho.
Estava tão linda. O jeito que sempre sonhei. Meu vestido parecia ter sido feito pra uma princesa, mas meus olhos... me traíam. Como as pessoas podem não conhecer uma pessoa olhando nos olhos? Como podem estarem tão alheias ao verdadeiro caos que estava dentro de mim?
Desci os degraus, pronta para a fase que seria a definitiva da minha vida, quando meu pai veio em minha direção com olhos marejados.

—Pequena, fique aqui está bem, só um momento, que já entramos! Você está tão linda minha princesa, a noiva mais linda do mundo! Sonhei tanto com esse dia!

Meu pai sempre foi um chorão! Se vocês acham que homens não choram, não conheceram o Sr. Otávio. Ô homem com vocação pra ser manteiga derretida!

Olhei o relógio que parecia que não se movia, deu 17:47 e nada da Cinthia.
Quando o relógio deu 18:59, Cinthia entrou na casa correndo, parecendo que havia corrido uma maratona inteira. A expressão dela era de pânico, como se viesse dizer uma coisa importante mas não soubesse como...
—Bia, houve um pequeno probleminha, o Rafa está na linha e quer falar com você...
quase arranquei o telefone da mão dela
—O que tá acontecendo Rafael?
—Sinto muito Bia, não posso fazer isso...
e desligou na minha cara.
Olhei meu pai, que me encarava sem entender nada, e aos poucos a ficha foi caindo, fui abandonada no dia do meu casamento, e o pior, nem podia ter dito que havia sido no altar, o safado nem se dignou a aparecer.
Engoli toda a minha raiva, a vergonha de ter sido deixada, segurei meu vestido, subi as escadas do quarto não enxergando nada, arranquei o vestido e gritei. Com toda a força que eu tinha na minha alma eu berrei.

A porta de escancarou. Augusto, Arthur, Benício e Dani entraram como uma lufada, em seguida meus pais. Todos falavam ao mesmo tempo. Xingando e berrando.

Parei de ouvir.

Pisquei.
Estava na cama sentada. Seis pessoas discutiam e gritavam umas com as outras.

Pisquei.
Alguém me segurava no colo.

Pisquei.
Estava em um carro, tinha um cheiro familiar.

Pisquei.
Era dia.

Pisquei.
Estava no meu quarto.

Pisquei.
O dia havia amanhecido.

Pisquei.
Fiquei fora por quanto tempo? O que havia acontecido?

Pisquei.
Lembrei do dia anterior. Era pra estar no avião agora. Em uma lua de mel, que se fosse parar pra pensar, nem estava tão entusiasmada. Mas será que o fato de o Rafael ter tido a coragem que eu mesma não tive foi o que me deixou tão abalada?
Estava com sono, muito sono...

Pisquei.
Alguém abriu a porta...

E se por acaso...Onde histórias criam vida. Descubra agora