—Sai já dessa cama, já fazem quatro dias que você só dorme, no começo até pensei que fosse bom, mas já chega.
Abri os olhos, Guto sentou na minha cama e me puxou em seu colo. Desabei.
Chorei igual criança, por um casamento fracassado, por ter sido deixada, por estar tão perto do meu amigo, pelo que eu queria ter sido e pela pessoa patética que havia me tornado. Quatro dias. Eu pensei que estava no dia seguinte. Como as coisas foram chegar à esse ponto? Como não percebi que as coisas estavam mudando?
—Porque ele fez isso Augusto, porque?— disse entre soluços.
Ele passou mão em meu cabelo, me puxou para mais perto e sussurrou:
—Calma amor, estou aqui. Ele é um imbecil, não chora por causa dele por favor...Foi quando notei que estava de pijama, quem me trocou? O que havia acontecido nesses últimos quatro dias que eu não havia me dado conta?
—Como cheguei aqui?
—Eu te trouxe, dona Alice queria te levar pro Paraná, e eu falei que não. Fui claro quanto a que lugar você deveria ficar. Seu irmão queria achar o Rafael a força, disse que ele teria que lidar com as consequências do que fez, e seu pai achava o mesmo. Os convidados ficaram pra trás. Saí com você escondida. Tá tudo bem agora.
—acharam o Rafael?
—Não, e quer saber, to feliz por isso. Se eu encontrar esse filho da puta, eu acabo com a raça dele.
—Ele fez o que EU devia ter feito Guto. Não o culpo...
—você está maluca? Ele te abandonou, ABANDONOU, no dia que deveria ser o mais importante da sua vida, ele foi um filho de uma puta sim, e você não deveria ficar defendendo ele...
—Só quero um banho, to me sentindo suja, to com fome, não quero falar nisso, me ajuda a sair da cama?
Ele levantou da cama, me estendeu a mão, me levou ao banheiro
—precisa de ajuda? Sabe que eu poderia te dar um banho né?!
—Cai fora intrometido!
Ele sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos, me olhou com pena.
—Para de me olhar assim.
—Que jeito?
—com pena.
—Não tenho pena de você, até porque você não foi nenhum pouco esperta, se fosse teria deixado essa merda de casamento pra trás... e além do mais você é burra o suficiente pra ver o que tá na sua frente...
—o que você tá falando?
—Nada Bianca, toma banho, que você tá fedendo...
peguei a toalha e joguei na cara dele
—se for pra entrar aqui e me tratar desse jeito, vai embora... já tenho coisas demais pra me culpar...
Virei as costas e entrei no chuveiro fervendo de raiva, mas entendia o que ele estava fazendo, as vezes sentir raiva é melhor que não sentir nada. E Augusto sabia que eu estava no limbo.Chorei novamente. Lembrei de Chaplin quando dizia que gostava da chuva porque ninguém podia ver suas lágrimas. Ninguém podia ver as minhas. Se fosse analisar bem, não queria esse casamento tanto quanto o Rafael, mas ele podia ter me dito antes, não ter desistido no dia, me fez passar por idiota. Meu chefe estava no casamento, MEU CHEFE! E agora, como olharia para as pessoas do meu trabalho?
Quando sai do banheiro, Augusto estava sentado do lado de fora, quase caiu quando abri a porta, bem feito! Me estendeu um copo de whisky. Arranquei o copo da mão dele e virei de uma vez só, fazendo careta.
—Vai ficar tudo bem.
Bê pediu duas pizzas, entrou no quarto seguido de Dani e Arthur
—Qual filme sangrento a gente vai assistir hoje? Perguntou Arthur.
—Qualquer um que estoure muitos miolos!
—Então a gente podia ver aquele que o cara quer vingar a morte da esposa e do cachorro... Dani sugeriu.
—A qual é vocês não se lembram?
—hum, não?!
—É, não mesmo! O bê disse.
—Ah, então põe qualquer um. Respondeu Dani.
—Tá bom, agora saiam, preciso me trocar, jaja vocês voltam.
Coloquei uma calça de moletom, reservada pros dias que eu estava em casa e não ia sair, uma meia de dedinhos confortável e uma camiseta do Bê.
—podem voltar... sabem que deviam ter comprado mais pizzas né? Eu to morrendo de fome...Quando o filme acabou, estavam os quatro empoleirados na minha cama.
—Acabou a festa. Cada um pro seu quarto.
—Ah, nem pensar gatinha, hoje a gente fica aqui. Augusto falou bocejando.E assim dormimos os cinco. Em uma cama pequena pra seis pessoas, em uma casa batizada de "a toca", com meus melhores amigos da vida. Apesar dos dias ruins, poderia ser pior...

VOCÊ ESTÁ LENDO
E se por acaso...
RomanceUma garota... quatro melhores amigos... um relacionamento ruim... um (quase) casamento... a força da superação... amigos com que se pode contar, se embebedar e curtir a melhor fase da vida o que mais ela poderia querer?!... Essa é a história de Bian...