E se por acaso...

Capitulo 9

Augusto sempre foi o melhor dos melhores amigos que eu tinha. Apesar do primeiro encontro desastroso, ele sempre foi o amigo com quem eu mais me abria. Isso porque somos parecidos em muitos aspectos. Por exemplo: nenhum de nós dois escondia o que pensava, ficávamos confortáveis mesmo em silêncio—não achávamos de modo algum o silêncio do outro desconfortável, isso porque tínhamos uma crença de que se a pessoa quisesse falar, ela simplesmente dizia.—gostávamos das mesmas coisas, sempre fomos muito diretos e odiávamos acima de tudo, mentira. Era inadmissível.

Cada vez que ele ou eu, tínhamos um problema, era com o outro que desabafávamos.
O problema disso era que eu mentia pra ele. O tempo todo, mesmo achando inadmissível. Como eu podia contar pro meu melhor amigo, que provavelmente ele era a minha alma gêmea? Não é coisa que se conte. Então calei. Enterrei tudo que pensava e que sentia no fundo do meu coração. E não voltei a mexer nele, até o dia da minha formatura.
Até o dia que eu fiz a primeira escolha errada da minha vida.

Essa parte da história, ainda é a do antes.

Sabem a questão da teoria do caos? Que tudo é entrelaçado, e que uma atitude que você toma ao longo da vida pode gerar resultados diferentes? Pois bem, talvez se eu tivesse sido menos covarde as coisas teriam sido diferentes e isso até me pouparia muito sofrimento que viria a seguir. Mas naquele tempo eu me sentia confortável tal como estava.

O dia da minha formatura havia finalmente chegado.
Pra aquela ocasião em especial, escolhi um vestido azul marinho, com decote profundo em V, bordado com pedrarias no busto. Era longo e com a saia de chiffon. Me olhei mais uma vez no espelho pra conferir. Havia passado o dia todo no salão. Minhas unhas estavam compridas e com uma cor vermelho sangue que eu amava. Meu cabelo havia sido escovado e preso num coque baixo elaborado, deixando fios soltos que emolduravam meu rosto. Modestamente, eu me sentia incrível.
—Uau, você está linda hoje bebezinha!
Augusto estava parado na porta de braços cruzados me olhando. Usava um smoking de ótimo caimento, com uma gravata azul marinho da cor do meu vestido.
—Obrigada! Você também está muito bonito! E como sabia a cor do meu vestido pra usar a gravata combinando?
—Foi um palpite! —Riu —vamos?
—Vamos.—aceitei o braço estendido e fomos até a sala. Os outros três também estavam lindos e todos usavam as mesmas gravatas.
—HAHAHAHA você subornou eles pro lance das gravatas também?!
—Óbvio!
—To um gato né, fala a verdade!— perguntou Dani me mostrando o coque no cabelo.
—Mais ou menos! Aaaai, você precisa parar com essa mania de me beliscar atoa!
—Então para de falar besteira!
—Gente vamos, tá quase na hora! —Falou Bê.
—Precisamos beber pra cacete hoje!—brincou Arthur
—Ah é, não vejo a hora de ser a de vocês, eu vou ficar muuuiito bêbada! Hahahhaha
—Beber uma cerveja pra isso não conta gatinha!
—Pra sua informação Daniel, eu preciso de duuuas cervejas pra ficar bêbada!
—Ah é, o que é muuuuita coisa!

O baile estava maravilhoso. Minha família estava lá, assim como os pais do Guto e do Arthur, os de Dani, só os do Bê que não puderam ir.

—E agora, o que vocês vão fazer, já que a Bia se formou? Ela vai ter que encontrar um emprego e um lugar pra morar né? —Falou Sérgio pai do Guto e do Arthur.
—Pai, nos já temos um emprego e a Bia acabou de ser efetivada no escritório que fazia estágio. Quanto à moradia, as coisas irão permanecer da maneira que estão. Moramos juntos a cinco anos e assim vai continuar.— falou Augusto, revirando um copo de whisky.
—Mas eu confesso que não acho essa ideia muito boa. Vocês agora são adultos, não é mais questão de morar juntos durante a faculdade. Uma hora vocês irão encontrar uma garota e querer se casar e aí? Como serão as coisas? Ela é mulher e vocês são homens!—disse meu pai— além do mais, não dá pra continuar achando que o namorado dela não liga pra essas coisas, eu ligaria se a Alice tivesse quatro homens como melhores amigos.
—Pai, o Rafael não faz mais parte da minha vida. Assunto encerrado.
—Além do mais seu Otávio, com todo respeito, mas a última vez que ela tentou morar com garotas a gente lembra o que deu. Deus sabe o que poderia ter acontecido não é mesmo?!—Benício disse rindo—Não é como se não pudéssemos proteger ela. O fato de sermos homens só prova que com a gente ela tá mais segura. Ninguém é maluco o suficiente pra fazer mal a ela. Além do mais, se a mulher que escolher pra mim, não puder entender que eu tenho sim uma melhor amiga, então ela não serve.
—Pensando por esse lado, tudo bem por mim. Mas as coisas não são tão simples assim rapaz. Uma hora a gente tem que decidir. Não adianta nada ficar adiando.
—Isso é verdade meus filhos. Mas respeito a decisão de vocês por hora.— falou Sérgio.
Houveram vários murmúrios de "Tudo bem então né!"

Eu não estava nenhum pouco preparada pra pensar nisso. Eles tinham razão. Sejamos sinceros, se o meu namorado tivesse quatro melhores amigas, eu não ia gostar nadinha... ia imaginar coisas, além do mais mulher é paranóica né!

—BIAA, tá tocando Bruno Mars!
E essa foi a deixa pra que eu e Arthur levantássemos da mesa, e fôssemos dançar.
—Sabe que você é a formanda mais bonita do baile né?
—Ah é?! Juro que não sabia!
—Sabia sim, meu irmão já te falou isso!
Congelei.
—C-como assim seu i-irmão?—Gaguejei. Não é possível que esse tonto saiba!
—Sim, meu irmão. O que tá acontecendo entre vocês?—levantou as sobrancelhas—Fui no seu quarto hoje de manhã e não estava lá. Onde dormiu?
—Bem—pigarreei— eu dormi com o Guto. Mas não aconteceu nada eu juro, jamais quebraria a nossa regra mais importante. Ele só não quis me deixar sozinha depois de tudo que aconteceu ontem.— dei de ombros.
—Eu me lembro das regras. Mas você se lembra?
Fiquei com aquilo martelando na cabeça. Garota burra, olha onde tá se metendo.

Dançamos mais um pouco e então se juntaram a nós o Dani, Bê e Augusto. A música foi ficando mais lenta e quando dei por mim já estava com Augusto dançando.
—Você está tão linda... sei que já disse isso, mas eu gostaria de repetir...
—Pode repetir o quanto quiser, eu amo ouvir isso!—meu sorriso quase parecia o do coringa de tão grande que estava!
—Sobre ontem à noite, eu não...
—Não precisa dizer nada. Eu que estava bêbada lembra?— o interrompi. Foi uma noite ótima apesar dos pesares. Gostaria de deixar como estava.
—Hum, Bia?
—Diga Guto...
—Você chamou esse cara, mesmo depois do que aconteceu ontem?
Parei e me virei pra ver o que ele estava olhando.
Rafael vinha em minha direção, com um smoking fino que acentuava seus ombros largos, com um buquê de rosas vermelhas nas mãos.
—Desculpe por ser um babaca, percebi meu erro e vim concertar isso. Me desculpa meu amor?
Quando olhei pra trás, Augusto já havia virado as costas e me deixado.
Respirei bem fundo e disse:
—Aceito suas desculpas, mas se vou voltar com você é outra história.
Deixei ele plantado, e corri, como se minha vida dependesse daquilo, quando cheguei lá fora, meu mundo desabou.

Augusto estava beijando a Rafaela. Garota burra, não tá vendo que ele não sente nada por você, se não amizade?
Reuni o máximo de dignidade que ainda tinha e voltei pra dentro.
—Está tudo bem?—Rafa perguntou.
Sorri, como se meu coração não tivesse acabado de ser partido e respondi
—Está sim. Fui pegar meu celular com o Augusto—traidor—pro caso de ele ir embora antes de mim. Onde estávamos?
Ele sorriu
—Estávamos na parte que você me aceitava de volta...— me abraçou. Meu estômago revirava. Não sei se por causa da bebida, ou por ver o amor da minha vida beijando outra pessoa. Mas o abracei de volta.
Naquele momento ele caiu de joelhos. Tirou uma caixinha vermelha do bolso e disse
—Casa comigo?
Olhei em volta, haviam feito um círculo de pessoas envolta de mim. Todos me olhando e esperando uma resposta.
—Sim— boca maldita! Porque não se cala?— eu aceito me casar com você.
Quando olhei pra cima, Augusto me olhava com olhos cheios de lágrimas. Virou as costas e me deixou pela segunda vez naquela noite.