Capitulo 10

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Regra número Um: Nunca—jamais—volte com um ex. Isso porque se tudo fosse bom não seria ex.

Regra número Dois: Faça uma única pergunta. E depois de ouvir a resposta você tira conclusões. Mas—nunca—vire as costas pra alguém sem saber a explicação do que você pensa que viu.

Regra número Três: Nunca, aceite um pedido de casamento, de alguém que você não tem certeza que ame e que te ame de volta.

Acredito que a terceira seja a regra mais importante. Mas como naquela época eu era meio burrinha, fiquei noiva do Rafael.

Lista dos motivos pelo qual aceitei o pedido:

Número Um: ele me ama! Óbvio, porque se não amasse, não me pediria em casamento. Certo? —Errado.

Número Dois: Ele gosta dos meus amigos; Qual cara iria aceitar a namorada tendo quatro caras morando com ela?!

Número Três: As nossas ideias batiam; Exceto quando eu discordava dele, e considerando que isso acontecia o tempo todo... —É acho que essa não vale.

Número Três—de novo: O sexo era bom. Quer dizer eu acho que era, nunca havia feito com outra pessoa, e nem tudo o que está nos livros acontece. Por exemplo, aquela combustão, que todos dizem haver, como se a própria gravidade o atraísse, é somente literário... se existisse o tal frenesi eu já teria sabido, não é mesmo?!

Pra mim eram razões suficientes. Já disse que era meio burrinha!

Três anos depois...

Triiiim, triiiim, triiim
Ai meu Deus é hoje! O dia mais importante da minha vida, o dia que eu vou ter meu felizes para sempre...
Joguei o edredom de lado, sentei na cama e observei o quarto onde havia passado tantos momentos felizes; uma onda de memórias me invadiu... tantos momentos. Bons, ruins, mas sempre aqui e sempre com meus fardos pessoais pra me darem forças ou um esporro por ter feito uma idiotice, como aceitar um pedido de casamento, quando meu ex estava me pedindo pra voltar...
Não sei porque isso me cheira um pedido de último recurso?! Tipo, ele tinha medo de você não voltar e resolveu pedir pra que não tivesse escolha...
— Eu também acho que foi manipulação...
—Dani e Bê, se forem ficar falando mal da minha escolha podem sair. Levantei da cama e abri a porta.
Você quer tanto assim se casar? Que o primeiro cara que apareceu já aceitou, sem nem pensar nas opções?
—Que opções Daniel? Porque eu não vejo uma fila de caras esperando pra me pedirem em casamento. Voltei a sentar na cama.
Sabe que não precisa ir muito longe com isso né, ou ir longe o bastante pra se casar daqui tipo, uns dez anos?!
—humpf. Saiam. Agora. —Gritei.

Parece que foi a tanto tempo... bom se você acha três anos muito tempo, então acho que realmente foi. Mas o fato é: era o que eu queria. Além do mais, não adiantava mais ficar com a ideia absurda de que um dia meu melhor amigo, ia falar que me amava. Até porque de três anos pra cá ele virou praticamente um estranho em casa. Quase não era mais amigo, quanto mais melhor amigo. Mal o via. Praticamente morava no hospital. O único sinal que eu sabia que ele havia passado a noite em casa, era ao ouvir alguma cabeça oca gritando no quarto ao lado. Ele quebrava tanto essa regra que ninguém ligava mais. Até porque o mal humor dele passou a ser cada vez pior, tanto, que ninguém queria falar nada. A gente não era maluco!
Chega de devaneios. Hora de levantar. Hoje o dia seria longo. Logo mamãe chega e dona Alice odeia esperar.
Calcei meus chinelos e sai pra fora do quarto. O dia estava tão lindo, graças aos céus!

O casamento seria na fazenda dos pais do Rafa. Ao ar livre. Ao invés de tapete vermelho, eu escolhi um caminho de pétalas de Rosas, brancas e cor-de-rosa. No altar, seria disposto um arco com flores aleatórias, nos mesmos tons, que por sua vez, combinaria com as cores dos vestidos das madrinhas, rosa bebê, e com a decoração do buffet. Simples mas elegante. Decidimos que não casaríamos na igreja, já que os pais do Rafa não eram adeptos a nenhuma religião. Minha mãe quase teve um infarto quando soube, já que ela queria que o Padre Paulo da nossa paróquia, fizesse a cerimônia. Ao invés disso, escolhemos um juiz de paz.
Assim que mamãe chegasse, iríamos pra fazenda pra nos arrumarmos. Havia contratado uma equipe pra cuidar de cabelo, maquiagem, pés e mãos.
Tudo estava pronto.

Subi na ilha da cozinha, coloquei a água ferver pra fazer um café, quando alguém abriu a porta cambaleando. Augusto.
—Você passou a noite bebendo Augusto? No dia do meu casamento?
—"Ximm" bebi só um pouquinho! —ergueu a mão juntando o indicador e o polegar.
—Você não tá conseguindo nem falar direito Augusto, como é que foi só um pouquinho?!olha só pra você— a camisa estava fora da calça social, com os botões nas casas erradas, o cabelo todo desgrenhado e seus olhos...— Meu Deus Guto, seus olhos estão vermelhos? Pelo menos dormiu?
—Aaaacho que sim, à umas quarenta e oito horas atrás se não me engano...— cambaleou pra frente—HAHAHAHA "voxêee" nem vai vir ajudar seu amigo?! Sua bruxa!
Corri até ele e o segurei pelo braço.
—BÊEEE! VEM ME AJUDAR ANTES QUE EU MATE O AUGUSTO!
—Aaaai não grita, minha cabeça dói.
Ouvi a porta abrir e Bê vir correndo em nossa direção.
—O que foi Bia? Augusto? Quanto você bebeu?!
—Pouquinho!
—Me ajuda a levar esse babaca pro quarto, antes que eu cometa um assassinato no dia do meu casamento.
—Xiuuu—colocou o indicador nos meus lábios me calando—Não chuta cachorro morto, tá proibida de falar a palavra com C na minha frente!
Levamos ele pro quarto, enfiamos ele de roupa e tudo embaixo da água fria do chuveiro.
—Ele apagou?
—Apagou! O que eu faço Bê? Ele é meu padrinho!
—A gente faz o seguinte, primeiro colocamos ele na cama, você vai tomar seu café, se trocar, ir pra fazenda, e eu me ocupo com o Augusto. Fica tranquila. Ele vai estar lá. Nem que algemado!
—Tudo bem.
Benício tirou a roupa molhada, o envolveu em um roupão seco. Colocamos ele na cama. Quando eu estava saindo ouvi Augusto murmurar dormindo:
—Ela vai casar, a mulher que eu amo vai casar. Não casa por favor... — e apagou de vez.
Fiquei imóvel. Ele disse que me amava?! E se ele realmente me amar também, e eu estiver fazendo a maior burrice da minha vida? O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço?
—Se rodar mais uma vez, vai fazer um buraco no chão!
—Bê, você ouviu o que ele disse, ou to ficando maluca?
Suspirou
—Vem, vamos conversar na cozinha, enquanto você come.
Me sentei na cadeira da bancada. Bê foi terminando o café, e colocando as coisas na mesa.
—Eu ouvi.
—O que eu faço Bê? Porque ele nunca falou antes. Ele mal falou comigo desde a formatura, me evitava, passa mais tempo no hospital do que aqui... e agora no dia do meu casamento chega desse jeito em casa e fala pra eu não me casar? Meu Deus Benício, isso é loucura. Sabe quanto tempo eu esperei pra que ele falasse isso? Sete anos Bê, sete malditos anos, e ele resolve falar logo agora?!
—Eu sempre soube! Sabe porque criamos aquelas malditas regras? Porque a gente sabia que você e o Gu sentiam alguma coisa um pelo outro... mas agora eu me pergunto, será que foi o certo? Será que se não houvéssemos criado aquela merda, as coisas teriam sido diferentes?—Será?!acho que não. Augusto sempre foi teimoso—O negócio é o seguinte... eu vou falar mais uma vez, se você quiser desistir, a hora é agora. Eu te coloco no Bentley agora e nós fugimos, voltamos amanhã e você pode incluir a gente naquela sua lua de mel no Caribe! Claro que sem a lua! Ou, você continua com essa ideia maluca, casa e nós nunca mais tocamos no assunto do que ouvimos agora, e vemos no que vai dar, qual vai ser?
—As coisas não são simples assim Bê. O casamento está pago, eu não posso simplesmente fugir. Eu jamais faria isso.—não era como se não quisesse—seria desrespeitoso para com a família dele e com a minha também. É tarde demais Bê...

Essa sensação de que tem algo esmagando o peito é normal? Ou será que devo procurar um médico? Mas pensando por outro lado, e se o Bê estiver certo, e realmente eu fosse ser infeliz no meu casamento? Como seria quando eu visse o Augusto se casando? Meu Deus não quero pensar nisso. A bile subiu a garganta.
—Você tá bem? Tá meio verde...
—Estou bem, acho que só um pouco nervosa...

Levantei da bancada, sem mexer no café. Tomei um banho gelado.
Vesti um jeans claro, com uma blusinha preta básica e uma sapatilha confortável que combinava. Sequei o cabelo, peguei minha bolsa e saí do quarto.

Minha mãe me esperava na sala. Junto com Bê e Arthur, que fazia um esforço pra não me olhar nos olhos.
—Vamos querida?!— me deu um abraço bem apertado.
Me virei pros meninos, murmurei um "tchau", e saí porta afora.

E se por acaso...Onde histórias criam vida. Descubra agora