Doce Passado

Capítulo 26

Ayron

Os verdadeiro temporais acontecem quando o céu está limpo e lindo, de repente o vento trás as nuvens escuras e com elas os raios e a por fim a chuva.
Meu final de semana tinha tudo para ser o sol do Havaí, mas uma nuvem insistiu em chegar e foi uma tremenda tempestade e agora estou querendo saber de onde veio essa maldita tempestade que acabou com tudo que eu tinha planejado.

Não liguei e nem mandei mensagem pra Sophi, ela tem meu numero e se realmente quisesse falar comigo teria ligado, mas porra, estou morrendo de saudades e doido pra vê aquela Bruxa que me enfeitiçou, por que simplesmente recusei uma foda com Karen e isso eu não costumo fazer.

Na segunda vou para meu treino normalmente, mas algo está me deixando ansioso e até mesmo aéreo, Nath está almoçando com o detetive e minha intuição conta que alguma coisa de bem profundo aquela mulher esconde.

Vejo meu telefone acender a tela mostrando o nome de Nath e corro para atender como se minha vida dependesse disso.

“Fala cara”. _ Pergunto aflito.

“Aonde você tá?.” _ Percebo que sua voz soa com preocupação.

“Na academia, é urgente?” _ Me atecipo porque sei que o problema é grande.

“ Não Ayron, vai pra tua casa que estou indo pra lá e conversamos com calma.”

“É tão grave assim? Você tá me deixando preocupado.”

“Se eu fosse você também ficaria! Agora chega de papo e vem logo.”

“Tudo bem. Estou indo.”

Desligo e saio correndo em direção a minha casa, a aflição e a angustia em meu peito aumentam a cada segundo, sinto que vou explodir se não chegar logo.

Estaciono de qualquer forma e corro até a sala onde encontro Nathaniel em sua postura mais rígida sentado com um copo de whisky na mão.

_ Só fala tudo de uma vez. _ Mal consigo falar e sigo até a garrafa me servindo uma dose.

_ Eu nem sei por onde começar._ Respiro fundo e me sento em sua frente. _ Me prometa que não vai fazer nenhuma besteira.

_ Isso é alguma brincadeira sua, se for saiba que está me deixando bem puto. Para e vai direto ao assunto. _ Solvo o restante do liquido em meu copo.

_ Tudo bem vou falar, sei que você vai fazer alguma merda. Apenas me ouça até o fim sem interromper. _ Aceno a cabeça para que continue. _ O nome verdadeiro de Sophi é Janet Clare Rossy, filha de Sasha e Jonh Rossy. _ Sinto que meu mundo está girando, claro que eu sei quem ela é. _ E tudo leva a crer que Alice é sua filha. Isso o detetive não me falou, apenas que a menina nasceu aqui e em seu registro não consta o nome do pai. Mas olha aqui. _ Pegou um envelope que até o momento eu nem tinha visto, estava sobre a mesinha de centro, e tirou vários papeis de dentro, entre eles um registro de nascimento. _ São exatos nove meses depois das férias que passamos na fazenda, sem contar que a menina é sua cópia.

_ Por que ela não me procurou? _ Me levanto e arremesso o copo contra a parede na esperança de que essa dor que está em meu peito quebre junto.

_Calma. Deixa eu terminar._ Respiro fundo e sento novamente. _ Ela fez algumas cirurgias plásticas, nada de absurdo, apenas correções, mas se olhar bem vai ver que não reconhecemos ela porque jamais iriamos imaginar que eram a mesma pessoa. Ela fugiu de casa e veio pra cá com a ajuda da Sra Olivia. Bom está tudo aqui, só pensa bem no que vai fazer cara. Você lembra como ela era tratada pelos pais, não dá pra julgar. Conversa com ela.

_ Ela escondeu a minha filha de mim. Você tem uma idéia do que eu estou sentindo agora. _ Respondo sentindo meus olhos inundarem.

_ Conversa com ela, só isso. Tudo que ela fez deve ter uma explicação. _ Sem que eu espere meu primo vem até mim e me abraça. _ Parabéns cara, a sua filha é perfeita e sei que vai ser um paizão pra ela. _ Desabo em lágrimas, eu sou pai, e acho que isso era tudo que eu queria.

_ Obrigado irmão. _ Me afasto e junto todos os papéis. _ Vou ler isso agora. _ Nath entende a dica e segue para a porta apenas acenando com a mão.

Me perco naqueles papéis documentos, fotos da Alice bebê, algumas sozinha, outras com Sophi. As duas sempre foram tão felizes juntas e sinto uma inveja enorme dessa maldita bruxa que roubou todos esses momentos de mim.

Como ela foi cruel.

No fundo sempre soube que aquela menina era minha. Ele me teve de joelhos no momento em que seus olhos se encontraram com os meus. Meu coração tentou me contar.

Que tolice perguntar para meu pai se ele era o pai de minha filha. Mas como eu iria saber, sendo que nem lembrava daquela noite.

E Sophi ou Janet, sei lá, ela venceu tudo que existia contra ela e brilhou sozinha. Mas caralho ela não precisava estar sozinha EU iria estar do lado delas.

Junto todos os papéis e coloco no envelope novamente, vou em direção ao apartamento da Sophi.

Chegando lá convenço o porteiro que é meu fã a me deixar subir sem ser anunciado e me certifico de que ela está em casa.

Ela não vai mais fugir de mim!
Toco a campainha e uma senhora atende a porta.

_ Pois não!

_ Boa tarde a Sophi, por favor?

_ Quem está aí? _ Ouço sua voz e a fúria toma conta de mim. Entro sem pedir licença.

_ Sou eu Janet. Vamos conversar? _ Olho em seus olhos e vejo sua cor sumir.

Ela se agarra no sofá em sua frente e lágrimas começam a descer pelos seus olhos sem que ela se esforce para isso. Mas mesmo assim não pude deixar de notar o quanto ela está linda em uma roupa de ginástica.

O magnetismo que existe entre nó quase me faz perder o foco.

_ Não vai falar nada querida? _ Uso o cinismo para chamar sua atenção.

_ Como descobriu? _ Ouço a porta bater em minhas costas e constato que estamos sozinhos.

_ A pergunta certa não é essa e sim do porque escondeu minha filha de mim? Você não tinha esse direito! _ Minha voz toma amplitude de meus sentimentos. Vejo seu rosto tomar um tom avermelhado.

_ Não me venha falar de direitos Ayron. Eu sempre fui a merda de uma aposta pra você, um moleque. _ Ela sabe das apostas. _ Surpreso em saber que uma garota brega de interior sempre soube o canalha que você é._ Vou para perto dela.

_ Não misture as situações! Eu estou falando da minha filha.

_ Não misturar as situações. Você só pode estar brincando comigo. Uma situação leva a outra. Entenda. Como vou confiar em uma pessoa que aposta a virgindade de uma menina que não fez absolutamente nada para merecer isso! _ Respira fundo passando a mão em seu rosto e enxugando as lagrimas. _ A seis anos atrás você também iria me pedir pra abortar e teria vergonha de mim. Pensa bem Ayron. Essa sua vida nunca coube uma criança. _ Fico sem reação ao ouvir seus argumentos.

Me sento no sofá e levo minhas mãos a cabeça tentando fazer com que essa confusão se esclareça e Sophi continua.

_  Olha pra mim Ayron! _ Encontro seu rosto com o canto dos meus olhos e encontro fúria em seu semblante. _ A única coisa que eu fiz foi crescer e cuidar do meu bebê, nunca pedi nada pra você e nem para sua família e não estou pedindo. Você precisa crescer para ser pai. Tenho medo de te deixar perto da Alice. _ Senta na poltrona me encarando. _ Na primeira febre vai fugir, na primeira pergunta vai pedir para o Nathaniel responder, e no primeiro encontro que for obrigado a cancelar para ficar ao lado dela vai perceber que não a quer.

_ Para de colocar palavras em minha boca, eu jamais cansaria dela. _ Tento soar convincente o bastante. _ O que pensa que sou? _ Não esperava resposta, mas ela veio.

_ Imaturo, infantil, prepotente, hipócrita, eu já citei imaturo? _ Me ofendo por suas palavras mas não tenho como me defender diante de tudo que ela viveu.

_ Quem pediu para que abortasse? _ Me acalmo por que preciso de respostas.

_ Minha mãe! _ Fala e sinto magoa em suas palavras. _ Minhas escolhas eram “ ou aborta ou some” e eu sumi. E você nem percebeu, quantas vezes foi para a fazenda e não sentiu falta da invisível? _ Senti falta sim, mas não a ponto de perguntar.

_ O que você fez é ilegal mudou nome, idade, tudo isso é falso sabe que posso tirar Alice de você. _ Ouço seu riso.

_ Não sei que te contou, mas está errado, eu criei uma marca e uso como nome então tecnicamente Sophi pertence a Janet. Entendeu. _ Respira e vejo a duvida em seu jeito. _ Mas sim você pode me processar e a briga será gigante por que não vou poupar esforços para ganhar de você.

_ Então fale a verdade para MINHA FILHA e nos entenderemos, não vou te julgar pelo que fez. _ Vejo quando Sophi se levantar e ir até a janela como se não suportasse ouvir minhas frases. _ O que foi? Vai dizer também que não é minha filha? Nem vem Sophi...

_ Mas que merda Ayron! _ A porta se abre ao mesmo tempo que Sophi grita.

_ Que feio mamãe falando palavrão! _ Alice entra pela porta mas para ao se deparar com a cena e Ethan que está junto com ela para tentando entender o que está acontecendo.

Sophi apenas chora e eu caio literalmente de joelhos chamando pela minha filha.

_ Alice vem me dar um abraço. _ E ela vem! Corre ao meu encontro e me abraça, estou completamente dependente deste abraço, é como se o mundo todo estivesse aqui em meus braços.

Então choro!

Abraçado a minha garotinha que não entende o que está acontecendo mas me conforta como se eu fosse a criança da história.

_ Você tá dodoí? _ Pergunta secando minhas lágrimas e eu consigo enxergar cada centímetro de seu rosto como se enxergasse a minha mais perfeita obra.

_ Não meu anjo, só estou muito feliz, tanto que nem cabe no meu peito. _ Sinto Sophi se aproximando com medo.

_ Não fala nada agora Ayron, vamos conversar em outro local. _ Pede e eu me levando com Alice em meu colo sem conseguir soltar ela de meus braços. Não olho para Sophi.

Por mais compreensivo que eu seja, ou tente ser ela roubou muitos anos de minha filha de mim.

Não acompanhei os primeiros passos, as primeiras palavras. Porra ela nem falou Papai ainda. Isso é muito injusto.

_ Princesa te espero no jogo na quarta e depois saímos para conversar. _Só então me viro para Sophi que está parada ao meu lado tentando se aproximar da minha filha.

Como essas palavras soam bem, Minha Filha.

_ Tenho certeza que a mamãe não vai se opor. _ Alice me abraça novamente feliz por saber que vai ao jogo e eu beijo sua testa, tentando absorver o máximo que consigo do seu perfume, que já está no topo da lista dos meus preferidos.

Então sou obrigado a deixar ela no chão e sair daquele lugar. O apartamento se tornou pequeno demais para o tamanho do meu arrependimento.

Não por Alice, mas por tudo que aconteceu. Se eu tivesse agido diferente quem sabe tudo fosse diferente.
Pela primeira vez a culpa dos meus atos me ataca como uma avalanche. Sinto raiva e sinto felicidade.

Corro até meu carro mas não consigo dirigir apenas encosto minha cabeça no volante e espero até ter coragem.

Coragem de me olhar no espelho, coragem de ser homem. Porque realmente agi como um moleque imaturo.

Vou mostrar a todos que posso ser digno do amor da minha filha. Eu preciso!

Pego meu celular e ligo pra única pessoa capaz de me acalmar.

“Pai, eu preciso de você!”

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Capítulo sem revisão😘😘😘😘