Capítulo 30

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Ayron

          Quando conseguimos nos ver pelos olhos de outra pessoa enxergamos o peso de nossas atitudes. Incabíveis, ou impensadas, não importa, tem o mesmo significado.
Dias atrás, naquele quarto eu consegui ver meu reflexo nos olhos de Sophi, talvez agora eu consigo mensurar sua dor. E ela é imensa.

          E quando ela foi embora me deixando para trás eu soube o quanto ela resistia a mim, não por falta de desejo mas sim por medo.

          O caminho para minha redenção é longo. Mas quem disse que eu canso?
Não conversamos sobre o ocorrido, mas vou todos os dias visitar minha filha, e a mulher que me tirou o equilíbrio, mais do que eu imaginei um dia.

          Ela já não discute mais, aceitou minha presença, continua saindo, respeito a sua privacidade, como ela me pediu, no entanto vou no clube para observar de longe.

          E cada vez que ela dança está melhor.

          Fico me perguntando se ela sente a minha presença como eu sinto a dela? Ou se ela sabe que estou com os olhos fixos em todos os seu contornos?

          São tantas perguntas sem respostas, mas com uma certeza: ela vai entender que é minha!

           Sem contar que virei um típico “punheteiro”. E a culpa é dela. Já perdi as contas de quantas vezes precisei fugir para o banheiro para me “aliviar” depois de ver ela desfilando de camisola transparente pela sala.

         Maldita provocação.

          As semanas passam rápido e o tão esperado dia de “Ação de graças” está perto, decidi ir um dia antes dela para ter certeza de que todos os parentes ficaram afastados da minha filha. Pelo que Sophi me contou são pessoas tóxicas.

          Ela insistiu em ir com seu carro, respeito também, com uma aflição me corroendo, mas respeito.

          Chego na casa que vivi minha infância e o cheiro do lugar me leva até memórias saudosas de um tempo em que eu sonhava em ser quem eu sou hoje, um jogador reconhecido pelo talento e não o filho do fazendeiro. E isso me enche de orgulho.

          _ Filho? Fez boa viagem? _ Meu pai vem em minha direção e me abraça e retribuo.

          _ Fiz sim, tudo bem por aqui? Cadê a mamãe?

          _ Está tudo normal e sua mãe foi até a cidade buscar algumas coisas que estão faltando. _  Ouço um barulho e encontro Jonh, pai de Sophi. _ Já conversei com eles, deixei claro que não quero problemas. _ A forma com que o homem me encara mostra que ele quer problemas.

          _ Duvido que ele tenha te escutado. Se ele causar algum problema eu esqueço a idade que tem. _ Aviso e vejo o vejo se afastando de nós. _ Estou tentando acertar pai, se alguma coisa sair errado não vou me perdoar. 

        _Apenas seja você, mas aquele Ayron que eu vi nascer e jogar bola em todos os cantos, resgate quem você realmente é!

          E com essas palavras meu pai me deixou olhando para o vazio e tentando saber quem eu sou.

          E Deus eu faço qualquer coisa pelas pessoas que amo, mas a minha Alice me teria de tapete.

....

          _Cadê a minha neta?_ Minha mãe entra em meu quarto linda e elegante como sempre, e vem ao meu encontro ficando nas pontas dos pés para me abraçar.

          _Estou bem, se caso se importe ainda._ Faço meu drama._ Alice chega amanhã com a mãe dela, e isso está me causando uma dor de cabeça imensa._ Sento na cama e minha mãe me acompanha.

         _Seu pai e eu conversamos com todos, mas Janet se mostrou uma leoa defendendo sua cria, com toda a certeza vai saber se defender e está preparada para lidar com tudo._ Minha mãe suspira. _ E como você está se sentindo com essa turbulência toda?

         _ Sinceramente, ainda não sei!_ Lentamente vejo o sol se pondo, algo chamou atenção, caminhei até a janela. _ Parece que tudo está fora de eixo mas ao mesmo tempo tudo se encaixa. A Alice é tudo que eu sempre quis mesmo sem saber que queria. _ Sinto as mãos de minha mãe afagando minhas costas, e nem havia percebido que ela se levantou.

           _ Agora precisa entender que não se trata mais de você mas sim dela. Não tem mais tempo para errar, agora você é exemplo, precisa agir como tal.
_ Eu sei mãe! Só preciso dela. _ Me viro olhando para Dona Clarice que está visivelmente preocupada. _ E da mãe dela, para ser feliz.

          _ Mas quem é esse homem na minha frente? E o que fez com meu filho que jurou ser eternamente de todas as mulheres._ Mamãe sorri me puxando pelo braço._ Vamos “homem de família”, o jantar está pronto.

          Homem de família.

          Essas palavras soam tão bem, já me vejo com mais filhos correndo ao meu redor e com Sophi com uma barriga enorme. Gostaria muito de ter acompanhado toda gestação, sinto falta de tudo que não pude ter.

          Depois de um rápido jantar me refugio na varanda torcendo para que as horas passem depressa, ficar no mesmo local que estão os caseiros é algo intragável, uma situação que deve ser resolvida na presença de todos.

          Uma mensagem chega em meu telefone e um sorriso escapa dos meus olhos apenas pelo nome que brilha na tela. Nenhum outro tem esse poder.

          “Chegaremos próximo as dez horas. Boa noite”

          Nem um beijinho ela me manda na mensagem. Esse mulher está me matando de vontade. E não é só meu coração que comprova, minhas bolas vivem em constante estado de dor.
Respondo provocando a bandida sutilmente.

          “Boa noite. Beijos para as mulheres da minha vida.”

           Aguardo resposta, mas ela não chega é quando canso de olhar para o nada minha cama se torna meu acalento. Mas é grande de mais, fria demais é longe demais da pessoa que deveria estar ao meu lado.

          Não sei que horas são, nem que horas consegui dormir. Só lembro de acordar quando alguém bate na porta do meu quarto.

          _Filho são 8:00 horas, você pediu para te acordar._ Meu pai praticamente grita do outro lado da porta.

          _Entra aí meu velho. Meu corpo gostoso está coberto, relaxa. _ Não perco a oportunidade de provocar.

         _Escuta aqui seu mau criado. Ainda da tempo de te dar umas palmadas. Velho é seu espírito. _ Meu pai diz abrindo a porta e colocando a cabeça para dentro._ É esse pau não faço a mínima questão de ver.

          Não controlo meu riso é me contorno na cama. Quando olho para meu celular é lembro que a essa hora Sophi e Alice estão vindo ao meu encontro. Senti na cama e a preocupação que tinha dado uma trégua volta com tudo.

          E a euforia toma conta de todo meu corpo. Nem percebo quando meu pai saí de meu quarto. Não tenho olhos nem tempo para nada.

          Tomo banho, organizo quarto, próximo ao meu. Confiro se tudo que minha filha precisa tem aqui é por fim lembro do meu café. E nossa estou faminto.

          Desânimo quando vejo que ainda falta uma hora para elas chegarem. Não vou ligar porque seria imprudência de minha parte. Mas confesso que meu café desse rasgando minha garganta.

          Realmente voltei a ser um adolescente.

         No entanto quando sinto que vou explodir de ansiedade ouço o sim de uma buzina. Meu coração sabe que são elas. Saio quase correndo para abrir a porta.

          E quando abro é como se o sol estivesse sorrindo para mim. Sophi está com a porta de trás do carro aberta. Quando percebo Alice vem correndo em minha direção. É a alegria de ter ela, aqui no lugar de onde eu vim em meus braços é indescritível.

         _ Oi papai! Eu estava com tanta saudade. Abraço mais forte seu corpo e tenho certeza que seu coraçãozinho está batendo como uma bateria em um show de rock.

          _Eu nem consigo dizer o tamanho da minha saudade pequena. _Afasto seu rosto para observar cada traço. _ Como foram de viagem?

          Troco de foco e quase perco o ar.

           Sophi está com o cabelo preso com alguns fios soltos. Ela usa uma calça justa ao seu corpo, modelado suas pernas bem torneadas e uma blusa que molda seus seios.

          Linda!

          Apesar de perceber que ela aparenta um certo cansaço vejo como a mãe da minha filha é linda. Fico hipnotizado com a beleza dela. É algo genuíno. Como se ela realmente brilhasse.

          _Um pouco cansativo. Acordei bem cedo. Aliás não dormi direto._ Percebo o quanto ela está tensa ao me dizer isso. _ Você sabe que aqui não é exatamente o lugar que eu gostaria de estar. Mas preciso tirar os curativos e tem que ser de uma vez.

          Entendo o que ela quer dizer. Enfrentar o passado, talvez para poder esquecer. Ou recomeçar. Quem sabe.

          _Vamos entrar depois pegamos suas coisas. _ Pensei em falar que o pai dela pegaria as suas malas, mas me calei com medo do peso das palavras. _Está com fome princesa?

          Paro no exato momento em que me viro em direção a porta de entrada. Não sei se foi a mão gelada de Sophi em meu braço ou o olhar cortante sobre minha filha, mas meu corpo se arrepiou instantaneamente.

           Aquela que deveria ser sinônimo de amor e ternura para com sua filha é sua neta estava em pé rígida nos olhando com tanto escárnio e ódio que jamais imaginei ser possível.

          O ar pesou é nenhuma palavras foi dita, nem um movimento foi feito por segundos que mais pareciam anos. Até que a mulher ao meu lado se fez sua voz ser uma faca cortando o espaço.

          _Bom dia mãe!

                          ♧♧♧♧

Capítulo sem revisão 😘😘😘😘

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