Capítulo XVIII

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Toc, toc, toc.

Benjamin batia pesadamente na porta da casa de Germano, que se localizava em cima de um restaurante, em frente a um posto.

Aquela tarde de terça estava chuvosa. Passaram-se três dias desde a aula de sábado, que foi quando Germano avistou Aliston Warren e a sua crise de "lembranças que Benjamin não sabe e Germano não quer lhe contar" possuiu-lhe.

O alemão não fora à escola na segunda e nem na terça-feira. Ele não tinha respondido nenhuma mensagem ou recebido nenhum telefonema de Benjamin durante esses três dias. O garoto tentou dar espaço e tempo à Germano, mas se preocupou depois de ficar três dias sem sinal do rapaz. Então foi atrás do mesmo.

Foi depois de insistir bastante na porta que Benjamin foi recebido surpreendentemente por Germano: o alemão deu um abraço de urso em Benjamin e começou a chorar, ou continuou, já que o seu rosto estava com olheiras demarcadas e seus olhos vermelhos de tantas possíveis lágrimas.

Benjamin ficou surpreso com aquela ação de Germano. Nunca tinha o visto chorar daquele jeito, com exceção do dia do encontro no restaurante Gordini, quando o rapaz chorou em seu ombro. O alemão sempre mostrara tanta confiança e segurança que se tornava esquisito aquela cena do rapaz chorando, se desabando em lágrimas.

Benjamin não se importou com o seu ombro molhado, ou com o leve odor que vinha de Germano, provavelmente ele ficara esses três dias sem tomar banho, apenas permaneceu ali, em pé, com Germano em seus braços, acariciando os seus cabelos, lhe abraçando o mais fielmente possível e repetindo em seu ouvido que "tudo iria ficar bem".

O mais novo foi guiando-os até o sofá, onde ele se sentou e recebeu Germano em seus braços, que nada dizia, apenas tentava reprimir as suas lágrimas, deixá-las menos intensas; provavelmente estava com vergonha de se mostrar tão frágil na frente de Benjamin pela segunda vez seguida.

Benjamin pensou em perguntar se "estava tudo bem?", mas desistiu depois de analisar a obviedade da resposta. É claro que não estava nada bem. A casa de Germano estava completamente bagunçada: a louça estava empilhada de pratos e copos, a sua cama estava desarrumada, o carpete estava coberto por poeira. O próprio Germano estava bagunçado: o seu cabelo curto, o seu semblante, o seu rosto que parecia não ver luz do sol há dias (o que na verdade não é uma hipérbole).

Os fios do cabelo de Germano pinicavam o pescoço de Benjamin à medida que o alemão arfava e soluçava com a sua cabeça no peito do mais novo. Ele parecia realmente abatido.

Benjamin não precisava pensar muito ou ir longe para saber a resposta de o porquê Germano estava daquele jeito. Assim como a primeira vez que o garoto chorou na frente de Ben, o motivo dessa segunda vez foi o mesmo: Aliston Warren. Só é o homem surgir no campo de visão de Germano que o rapaz se desespera e um misto de tristeza e um sentimento, que Benjamin não sabia diferenciar se era raiva ou medo, se apossa do rapaz.

Alguns longos minutos depois, acompanhando visualmente a chuva que varria a rua afora, Benjamin percebeu que os soluços de Germano desapareceram e ele já não chorava mais, outro tipo de ação onomatopoiética era realizada pelo garoto: roncos. Germano adormecera no peito de Benjamin. O seu pescoço estava pendendo para baixo, indo em direção ao colo de Benjamin. Então ele acomodou a cabeça do alemão em seu colo.

Germano roncava brandamente, não era necessariamente um ronco, mas apenas a sua respiração pesada. Uma das mãos de Benjamin continuou afagando os cabelos do rapaz enquanto a outra pousava sobre o corpo do mesmo, numa tentativa não muito sucessiva de aquecer-lhe. Ben analisou o rosto, ou a metade do rosto, de Germano, já que ele estava deitado de lado. Aquela sarda em cima do lábio do alemão não chamava mais tanta atenção como antes, já que as áreas rúbeas da bochecha e do nariz do garoto, junto com as olheiras escuras, destacavam o rosto dele.

Benjamin e GermanoOnde histórias criam vida. Descubra agora