Benjamin e Germano

Capítulo XXV

No fim de tarde da segunda-feira, um dia após a breve briga entre Peterson e Germano, Benjamin estava na casa deste último, analisando e cuidando atentamente de seus ferimentos, que não foram muitos, apenas dois pequenos cortes, um na testa e outro na bochecha.

- Sobre o quê o Peterson estava falando ontem, Germano? - Benjamin perguntou enquanto passava um anti-inflamatório no corte da testa do outro.

O olhar de Germano estava fixo no horizonte, visto através da janela de sua sala. Ele não aparentava estar atento ao que Benjamin estava falando, provavelmente se afundava em seus próprios pensamentos e em suas intrigas internas. A única coisa que mostrava que Germano "estava na Terra" era o leve franzir de suas sobrancelhas, que respondiam à dor ardente da substância que o mais novo aplicava em seus cortes.

- Eu não faço a mínima ideia. - ele disse, robótico.

As regiões machucadas do rosto de Germano estavam intensamente alaranjadas, graças à cor do anti-inflamatório. A luz do pôr do sol refletia diretamente em seus olhos, uma vez que ele tinha a sua vista fixada no mundo afora, provavelmente concluindo que convencera Benjamim com aquela resposta nem um pouco convincente.

Benjamin, por outro lado, não se deu por convencido. Ele não conseguia acreditar no que Germano estava lhe dizendo. O jeito como Peterson sempre implicara com o fato de Benjamin estar namorando Germano, e agora essa briga repentina, mesmo com o primeiro estando embriagado, não deixava a mente de Benjamin parar de pensar que há e/ou houve alguma história entre os dois; alguma história que Germano não contara (e nem pretende contar) a Benjamin. Ele, porém, não quis insistir naquele tópico, não queria criar um clima ruim desnecessariamente, não agora que Germano estava em uma bad mood.

- Você está bem, Germano? - Ben perguntou, depois de colar o último band-aid no rosto do rapaz - Digo, psicologicamente...

De manhã, na escola, Germano estava mais luminoso (se é que isso é um adjetivo). Ele estava mais radiante, mesmo com as suas constantes trocas intrigantes de olhares com Peterson em cada lugar que os dois se cruzavam. Porém, depois de chegar do auto-center, onde ele trabalha, Germano pareceu ter visto um fantasma, parecia estar em um outro mundo; ele estava triste (ou era vazio?, Benjamin não conseguia definir). Apenas olhava indiferente para Benjamin e dava respostas simples e superficiais ao rapaz; até o seu beijo estava frio.

- Estou... - ele continuou fixando o horizonte afora, observando a escuridão, aos poucos, tomar o lugar da luz - Apenas preciso descansar, eu acho. Estou exausto do trabalho.

Benjamin percebeu que o que é que se passava na mente do alemão não iria ser compartilhada pelo mesmo. Como ele aprendeu anteriormente, se Germano se sentir à vontade de se abrir com alguém, ele o fará. Então apenas dará tempo e espaço para ele e o deixará lidar com os seus problemas internos sozinho, como ele disse para Benjamin fazer. Provavelmente, daqui a alguns dias ele vai estar melhor (Benjamin pensava), afinal, todo mundo tem dias ruins.

- Me liga quando chegar em casa.

Germano tentou colocar o máximo que ele podia de calor naquela despedida, o que provavelmente havia funcionado, visto que fez um sorriso brotar no rosto de Benjamin.

- Eu te amo. - Ben deu um selinho no rapaz.

Germano retribuiu os dizeres enquanto observava, com um olhar desanimador, o mais novo destrancar a sua bicicleta do corrimão da escada que dava acesso à casa dele. Com um aceno de mão, ele viu Benjamin dobrar e sumir naquela movimentada pista do posto de gasolina.

Felizmente, Benjamin pensava, a ciclovia estava com poucos usuários naquele dia, assim ele podia pedalar na velocidade que ele quisesse para chegar mais rápido em casa. Porém, para a sua infelicidade, existem coisas que impedem a sua utopia de velocidade máxima acontecer: semáforos. E foi o sinal vermelho que fez o pneu da sua bicicleta cantar na pista vermelha da ciclovia, que se encontrava colada lateralmente ao tráfego movimentado.