Capítulo 14

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Sentir todas essas coisas me fazem querer pular nesse mar e não sair de lá nunca mais.  Penso duas vezes antes de dizer qualquer coisa, nesse momento, meus olhos estão fixos nos dele, que me olham a espera de uma resposta, nunca me senti tão estranha em relação a seus olhos sobre mim. 

Eu não quero me acostumar a não vê-lo mais, a não sentir seu cheiro.Parece que o mundo está em chamas e ninguém pode me salvar, a não ser ele, e ao que estou entendendo, ele não quer me salvar.

-Sabe Thomas- Digo sentindo sentimentos dentro de mim ficarem loucos. Mas continuo... -Eu brincava com as bonecas Matrioscas quando era criança e adorava ficar abrindo e olhando aqueles lindos rostos, é uma mulher dentro de uma mulher, dentro de outra mulher, se fizessem uma boneca de mim, Thomas? o que ela seria? Uma filha? uma namorada? uma espiã russa? Talvez um espiã americana? uma modelo? Se forem até a última bonequinha enterrada lá dentro, quem ela será?- 

Ele continua me ouvindo atentamente.

-Eu nunca soube- Respondo minha própria pergunta -Mas eu gostaria de descobrir, você me trouxe até aqui, me fez ter vontade de viver e encarar a mim mesma e isso eu nunca vou esquecer.- Termino minha fala ele abaixa o olhar por alguns segundos e da um longo suspiro.

-Eu não sei se você entendeu onde quero chegar- Concluo. -Quero dizer, que estou cansada de todo esse trabalho sujo .-

-Eu entendi, Anna, está a amostra em seus olhos que não quer mais participar disso- Ele diz -Você por muito tempo foi a minha inspiração pra levantar todos os dias.- 

Me surpreende ele falar disso agora. Nunca saberei se isso é um plano porque eu joguei as minhas cartas e ele quer se sair por cima, ou se é apenas a demonstração de seus sentimentos verdadeiros. 

-É claro- Sorrio com ironia. -Você precisava acordar pra me espionar, essa era sua motivação, Thomas, não seus sentimentos por mim.- Jogo as cartas mais uma vez.

Tudo na vida tem um preço, e ter me apaixonado por uma pessoa que mexe com meus sentidos e emoções não foi e não é uma boa ideia. Já estou pagando um preço muito alto por isso. Mas também não foi uma opção. Nossas mentiras me atraíram mais para seus braços. Me deixaram mais instigada quanto a vida dele, em como eu o desejava e o desejo, o quanto minha alma pega fogo quando estamos juntos, é simplesmente algo sem explicação. 

-Eu me sinto da mesma forma que você, Anna. Eu também me envolvi- Ele diz e segura minhas mãos e eu não recuso, deixo ele as segurar, talvez seja a última vez que sinta elas sobre mim.

-Não o suficiente para largar tudo por mim, Thomas- Digo agora tocando seu rosto, ele suspira mais uma vez e fecha os olhos por alguns longos segundos sobre consequência do meu toque. -Eu entendo que queira que eu faça parte da Cia. Mas eu não posso triar meu povo- Repito

-Está colocando muita fé em gente que não conhece de verdade, Anna-

-E em quem devo confiar? Em você?- Pergunto esperando ansiosamente uma resposta.

-Em quem você quiser, só acho que seria um bom começo confiar em mim.- 

Sorrio sinicamente, desta vez.

-Thomas, não quer mesmo que eu acredite em você, quer? Você nem se quer me deu uma garantia.- 

-Se você quiser, a gente foge, Anna.- 

Realmente. Ele está apelando pra qualquer coisa pra me ter em mãos. 

-Apaixonado pelo seu trabalho como você é, duvido.- Digo e foco meu olhar no mar que me chama neste momento. 

Começo a me despir sem pensar muito nas consequências e Thomas me olha sem entender. 

Ele olha pro mar e em seguida pra mim, e faz uma cara de "Não acredito que vai fazer isso", sorrio pra ele confirmando suas suspeitas e ele me sorri. Logo começa a se despir também.  Me sinto como uma adolescente que está vendo o mar em sua frente pela primeira vez. É estranho o que o desejo faz as pessoas tolas fazerem. Mas nesse momento, eu quero, eu quero fazer coisas tolas, com ele. 

Nos olhamos mais uma vez e damos as mãos prontos a correr para o mar, e assim fazemos, corremos feito duas crianças até sentirmos a água salgada e gelada tocar nossos corpos quentes. Eu nunca sonhei que conheceria uma pessoa como Tommy. Que o jogo malvado que ele faz comigo, funciona. Que eu quero me afogar por essa paixão. E mesmo assim, eu não quero me apaixonar por alguém como ele. Que me faz sentir desta forma. 

Ele me abraça tentando nos manter aquecidos, a água está tão gelada quanto as palavras que ele me disse. Nossos olhares estão como sempre, conectados. Eu nunca sonhei que amaria alguém como ele. Nunca sonhei que perderia alguém como ele. Em meio ao mar congelante eu o beijo como se fosse a última vez, talvez seja. 

Ele retribui e mesmo sentindo o gosto salgado da água, esse vai ser o beijo que eu vou carregar pra sempre comigo, independente de qualquer jogo malvado que fazemos um com o outro. Nós somos um do outro e ao mesmo tempo não somos de ninguém a não ser de nós mesmos. 

ANNAOnde histórias criam vida. Descubra agora