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Lisa

A vida nem sempre foi fácil para mim, mas sempre a levei como podia. Acho que dá pra contar nos dedos a quantidade de vezes que eu fui feliz. Eram poucas. Minha infância foi a melhor época da minha vida, morava com a minha avó, tia, e um primo bem implicante em uma cidade pacata do interior aqui dos Estados Unidos.

Eu era uma menina diferente, sempre soube disso. Nunca gostei de bonecas, casinhas, ou brincar de salão de beleza com as outras meninas. Gostava de atirar pedra na janela da vizinha, jogar beisebol com os meninos, andar de bicicleta, skate, tudo o que hoje em dia é visto como "errado" para uma menina se fazer. Claro, eu tinha as minhas bonecas, que ganhava de natal, mas ficavam no fundo do guarda-roupas, pois nunca foi a minha vontade.

Ao contrário, sempre fui uma menina muito vaidosa comigo mesma, me amava em primeiro lugar. Sempre cuidei dos meus cabelos castanhos claros, e da minha franja. Nunca me achei bonita de fato, mas gostava do meu corpo e de cada defeito que ele tinha.

Aos meus oito anos, percebi que era diferente, a minha avó também percebeu isso. Enquato minhas amigas falavam dos outros meninos, e do quão bonitos eles eram, eu não sentia absolutamente nada, as vezes até nojo deles. Foi desesperador para mim quando um menino me disse que gostava de mim. Eu acabei quebrando o nariz dele com um soco.

Eu cheguei em casa chorando, assustada, achando que eu estava errada por não conseguir gostar de alguém. Mas eu gostava. De uma menina. Lia.

Não sabia ao certo se eu gostava dela, eu sentia algo. Porra eu era uma criança de oito anos, não sabia o que era gostar de alguém. Mas todas as vezes que ela vinha falar comigo, sentia o meu rosto queimar, minhas mãos suarem, e todas aquelas outras sensações loucas. Eu tinha medo. Eu me sentia errada em pensar naquilo.

Até que não aguentando mais, contei a minha avó. O mais terrível que poderia acontecer era, eu levar uma surra muito feia, mas não. Não aconteceu isso. Ela me abraçou, e me disse que não tinha nada de errado em gostar de uma menina, e que ela não havia me criado de um modo padrão, ela só queria que eu fosse eu mesma. Sempre amei isso nela.

O meu maior medo era se os outros descobrissem, na escola, pessoas homossexuais, bissexuais e etc, eram motivo de chacota e muitas vezes apanhavam na frente de todo mundo. Eu estudava em uma escola católica.

Não estou dizendo que todas as pessoas que acreditam em tal Deus sejam assim, preconceituosas, mas a maioria, me perdoem, tem uma mente completamente fechada e reprimida sobre esse assunto. Pois baseim a vida em um livro, no qual o homem foi feifo para a mulher e a mulher foi feita submissa para o homem. Isso já de cara não é certo, e completamente sem sentido.

Aos meus dez anos, algo que fez a minha vida mudar completamente aconteceu. A minha avó acabou falecendo por conta de uma hemorragia cerebral. Eu fiquei simplesmente sem chão.

No seu velório eu não saía de perto do caixão, chorava, chamava por ela, queria que ela acordasse, me chamasse de filha como sempre fez. Mas isso não aconteceu. Em seu enterro, queria me jogar em sua cova, queria que me enterrasse junto a ela. Mas fui impedida.

Por fim conheci a minha mãe.

Naquele mesmo ano, ela veio me buscar para morarmos em Las Vegas, eu não queria. A minha vida estava ali, porque eu tinha que ir?

Conheci a minha mãe, o meu avô, o meu padrasto e a minha irmã mais nova, que de todos foi a que mais se deu bem comigo. Jisoo era sete anos mais nova que eu. Quando cheguei ela tinha apenas três para quatro anos, sabia que em algum momento nos daríamos bem.

Daquela menina alegre que ria por tudo, eu virei uma menina fria e sem coração, que não ria, não chorava, não sentia dor e que não amava. Eu havia sido tirada de um lugar no qual eu nasci, e cresci, me descobri, e me diverti, para ser colocada em um ar poluído, cheio de pessoas egocêntricas, e que a única coisa importante era o dinheiro.

Acho que a única coisa boa de tudo isso além da minha irmã, foi a escola que fui matriculada. Lá eu conheci a minha melhor amiga, Chaeyoung. Aquela garota sempre foi tudo pra mim, e é até hoje, como a minha irmã mais velha. Somos tão amigas que ela vive mais na minha casa do que na casa dela. Juntas descobrimos muitas coisas, eu a incentivei a fazer muitas coisas, estava ao lado dela em tudo, dês do dia em que colocou o seu aparelho, até quando o tirou, eu estava lá. Eu acompanhei quando ela virou vegana, e era obrigada a experimentar todas as loucuras que ela fazia na cozinha, algumas boas, e outras que me faziam querer vomitar. Nunca brigamos, discutimos as vezes por coisas bestas, mas logo estávamos rindo da formiga que sobia a parede, pois achávamos graça em tudo.

Sim, com ela eu podia sorrir ou sentir qualquer emoção.

No fim do nono ano, ela passou em uma escola muito concorrida, e eu, apenas fui para outra escola. Mas mesmo assim, todos os dias depois da aula lá estava Chaeyoung, tocando a campanhia mandando eu abrir a porta.

Nessa minha nova escola, conheci mais algumas pessoas, Yeji, Minnie, Seulgi, Minjae, Jennie e Kai.

Minnie e eu éramos muito próximas dês do primeiro ano, eu não conseguia ou não sabia fazer amigos, e ela foi a única que falou com a "caipira" da sala. Esse era o meu apelido. Graças a ela, conheci Seulgi, Minjae, Jennie e Kai. Eles eram legais.

No segundo ano conheci Yeji, era nova, e logo Minnie a trouxe para perto da gente. Cada um me encantava de um jeito.

Minnie com o seu jeito extrovertido, e gótico, gostava de rock e era muito inteligente.

Yeji que se dava bem com todo mundo, amava a literatura e com ela, perdíamos a noção de tempo com as suas conversas.

Seulgi era estranha, mas não deixava de ser legal com todos que falavam com ela, gostava de tocar violão e não parava de falar sobre animes.

Minjae era o pai do grupo, que sempre cuidava de cada um de nós, por ser o mais velho, eu sabia que podia conversar com ele sobre qualquer coisa. E adorava aquele abraço acolhedor que ele tinha.

Kai... bom, eu não era muito próxima a ele, não tinha nada contra, mas evitava a aproximidade, e falava apenas se fosse necessário.

E Jennie. Ah, a Jennie era aquela menina que todo mundo gostava, ela era a mistura de todos, em uma garota só, além de ser muito inteligente e muito linda. Eu nunca tinha coragem de olhar diretamente para ela, ou falar com ela, mas ela sempre olhava pra mim, e falava comigo sobre qualquer coisa. Fiquei envergonhada quando uma vez, uma única vez o pessoal me viu rindo. Jennie acabou me gravando, e eu fiquei completamente sem jeito.

Ela e Kai namoravam já a um ano, e eu estava feliz em saber que ela estava feliz. Acho que nunca passaria de uma amizade. Nunca teria coragem de dizer a ninguém sobre o que realmente me atraía.

Em casa, a única que sabia sobre o que eu realmente gostava, era a minha irmã. Pois eu não confiava no restante para algo tão íntimo.

Poderia esconder tudo. Pois não amaria novamente.

***

Stay For Me (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora