Stay For Me (Jenlisa)

02

- Droga...droga... droga... Jisoo, cadê a minha calça jeans? Anda, eu estou atrasada!

- Aquela preta? Eu usei e sem querer manchei ela, a mãe jogou fora.

- Você só pode está tirando uma com a minha cara, puta merda!

Eu peguei uma calça moletom qualquer, querendo matar e entrrar a minha irmã mais nova por aquilo. Olhei para o meu braço, e xinguei mais uma vez. Tive passar uma faixa nele, se não todos perguntariam sobre os pequenos cortes que ali tinham, e isso era a última coisa que eu queria, chamar atenção.

Depois de enfiar todos os cadernos de qualquer jeito naquela mochila corri até o portão de casa, só lembrando que não havia pegado a chave. Eu me odiava em um grau absurdo.

- Hey, garota, olhe por onde anda!- ignorei as palavras do meu padrasto por um simples empurrão. A única coisa que eu mais queria era sair daquele ambiente. O ar com ele e com a minha mãe ali era pesado demais para uma adolescente de dezessete anos conseguir manter.

- E você deveria ter mais respeito, não se esqueça que essa garota é filha da sua mulher, e que essa mesma garota trabalha pra colocar comida nessa casa, coisa que você não faz.

Sabia que quando voltasse pra casa, levaria uma surra dele. Mas simplesmente não suportava mais nada. Eu corri as cinco quadras até a escola, ainda sim conseguindo chegar atrasada, quase não conseguindo entrar. E para melhorar tive que correr pelos os corredores até a minha sala.

- Atrasada, Manoban.

- Me desculpe, desculpe, desculpe...

Andei até o meu lugar, querendo que todos parassem de olhar pra mim. Graças a Yeji, recuperei o que havia perdido nos primeiros minutos.

A escola em alguma parte nunca havia sido a grande prioridade pra mim. Eu não era a aluna nota dez, também nem sempre entregava todos os trabalhos, não fazia Ed. Física e nem artes, pois aquilo não ia mudar nada na minha vida, eu não usaria artes nem Ed. Física para ser jornalista. Minha querida faculdade de jornalismo. Algo tão perto mas tão distante de mim. Sonhava, mas não sabia ao certo se conseguiria fazer. Eu trabalhava depois da escola, em uma cafeteria a dois quarteirões dali. Na minha casa, era apenas eu e a minha mãe que tínhamos alguma renda. O meu salário era baixo, eu não conseguia ir ao shopping ou sair com os meus amigos, pois tudo o que eu ganhava, gastava com compras alimentares, contas, e se sobrasse comprava alguma roupa para a minha irmã Jisoo, já que parecia ser esquecida por todos ali. Jisoo me via como uma mãe. Ela tinha apenas dez anos, e não ter a atenção dos pais não surtiria um efeito bom nela.

Eu tentava a todo modo ser uma boa irmã para ela, que dependia de mim para muita coisa. Acho que eu e Jisoo tínhamos uma boa relação apesar as brigas.

O sinal bateu e eu não fiz menção alguma de sair do lugar, era Ed. Física e eu ficava na sala ouvindo música e desenhando algo sem sentido. Yeji e Minnie no começo insistiam muito para mim ir, até que viram que eu não iria de jeito nenhum, e que começava a ficar incomodada com tanta insistência.

Ao abrir a minha agenda vi uma foto da minha avó, eu mantinha aquela foto ali, com corações em volta. Era o dia do meu batizado, e ali estava a minha avó e eu.

Ah, eu era uma criança fofa até.

Fui passando página por página até ver o ingresso do primeiro show que fui, era de uma banda que na época eu era viciada, e eu ganhei ele de aniversário e guardava com muito carinho.

Em algum momento, estava concentrada no desenho que fazia, e notei uma movimentação estranha, os meus fones não estavam altos. Então eu pude ouvir:

- Vem, eles estão na Ed. Física não tem ninguém nessa sala.

- Independente, Kai, a escola não é lugar para transarmos!

- Já fizemos isso na biblioteca uma vez, vem logo, Jennie.

E então eu vi os dois se pegarem. Ali na minha frente. Sabia que eu era invisível por muitos, mas porra. Transar bem ali?

Eu chutei a cadeira da minha frente, chamando atenção dos dois, mas eu não olhava para eles, envergonhada demais. Eles eram os meus amigos, aquilo deveria ser uma situação engraçada e até zuadora. Mas não. Não ali comigo. Acho que todo mundo perdia um pouco da graça quando eu estava por perto. Meio que, a minha frieza, fazia os outros ficarem frios ou triste.

- Lisa? Pensei que estivesse na Ed. Física.

- Pois é, não estou.- então o Kai saiu e ficamos apenas nós duas ali.

Mesmo sendo estranho tê-la por perto, era bom. Jennie não fazia da situação constrangedoras, se tornarem de fato. Não era atoa que tinha muitos amigos.

- Porque não foi pra aula?

- Não gosto de Ed. Física.

- O que aconteceu com o seu braço?

- Eu torci enquanto escrevia.- era a mesma desculpa que eu dava a sete anos. Ela me olhou torto, como se não acreditava e se sentou na cadeira ao meu lado, a proximidade daquela garota as vezes me deixava nervosa.

- Não minta pra mim, Lisa, somos amigas porque não me conta o que realmente aconteceu?

- Já disse, torci a mão enquanto escrevia.

Ela aceitou a desculpa se afastando um pouco de mim. Olhando o meu material, mexendo nas minhas coisas, como se fosse dela, éramos amigas tão íntimas para ela mexer no meu celular?

- Gosta de desenhos?

- Minha irmã também usa o celular, ela salva algumas coisas.

Senti dor na hora que pressionei o braço na mesa. Aqueles cortes que acabei fazendo na noite passada ainda estavam sensíveis. A dor que eu sentia não comparava a dor que aquela família me causava a sete anos, era um alívio as vezes. Me sentia menos dolorida, me sentia... sem sentimento algum.

- Lisa, porque você é tão quieta?

- Não estou acostumada com certas... coisas. Fique tranquila, Jennie, você não fez nada.

Pra falar a verdade sim, ela havia bagunçado a minha vida dês que eu a conheci, mas mantinha... mantinha em segredo. Eu não podia sentir. E ela não podia saber.