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Meus olhos não saíam dos dela, acho que não conseguíamos desviar a atenção. Eu conhecia aquela música, quem não conhecia? Acho que o mundo parou, e só exista nós duas nos encarando. Porque eu a olhava tanto, podia ter sido pro namorado dela.

- EU TENHO A MELHOR NAMORADA DO MUNDO!- pisquei muitas vezes tentando sair do transe "Jennie" quando Kai se manifestou. Ela deu um sorriso pra mim, e se juntou a ele, senti meu estômago se revirar quando eles se beijaram.

É claro que aquela música tinha sido pra ele. Então porque ela me olhou a música inteira? Ela estava brincando comigo? Chaeyoung havia contado pra ela sobre o que eu sentia e como resposta ela apenas jogaria sujo, como se eu não fosse nada. Perfeito demais para ser verdade.

Entrei na cozinha sentindo uma raiva fora do normal. Eu não havia tomado um dos remédios, achei que conseguiria ficar sem ele por pelo menos um dia, aquele dia era pra ter sido incrível, mas a minha sanidade e as minhas expectativas de algo tão longe não admitiram aquilo. Eu não admiti aquilo.

- Jisoo, vamos.

- Porque? Não iríamos ficar quando o seu expediente acabasse, unnie?

- Senta aí, Lisa.

- Se você não quer ir agora, tudo bem, fique. Chaeyoung, pode levar ela quando terminarem aqui?

- O que você tem, Lisa?

- Pode ou não?

- Tudo bem, eu levo. Mas porque não fica.

- Porque eu não quero.

Então eu me virei e saí. Correr. Era o que passava na minha cabeça. Os caminhões passavam nas avenidas. Se jogar na frente de um deles. Era o que eu desejava agora. Sumir. Morrer. Qualquer coisa que aliviasse a minha dor.

Foda-se a minha mãe. O meu padrasto. A minha irmã. A Jennie. Eu tinha que fugir. Eu tinha que respirar.

Acho que levei horas até chegar em uma parte afastada do centro. Eu subi em uma árvore batento a minha cabeça em um tronco, começando a gritar de ódio desespero, dor, solidão. Porque eu me sentia assim constantemente? Eu não podia ser uma pessoa normal? Eu não podia sorrir como qualquer outro fazia? Eu não podia...?

Cada soluço era uma forma de falar que dentro de mim, mais nada funciona, mais nada vale a pena, viver com aquilo não valia a pena. Eu arranquei o colar que usava dês dos meus cinco anos, guardava uma pequena foto da minha avó ali. Porque ela e não eu? Porque ela teve que ir? Porque eu não pude ir junto a ela? Seria egocentrismo da minha parte falar que nada mais teria alguma cor?

Voltei pra casa quando começou a escurecer e a chover, fria e forte, eu não me importava. Minhas roupas encharcadas, eu tremia de frio, mas não o sentia de verdade. Todos jantavam quando eu entrei. Ouvi gritos do meu padrasto da minha mãe, mas não entendi. Até que voltei a mim quando senti um tapa forte, ardente, e dolorido em meu rosto.

Ele havia me batido. Ela havia concordado. Minha irmã havia chorarado. E eu? Eu havia aceitado mais uma vez.

Ele gritava comigo, mas eu não ouvia nada. Outro tapa. Ainda estava fora de mim. Corri para o banheiro, me trancando, gritando e chorando. Porque ainda estava ali? As marcas vermelhas em minha bochecha com alguns cortes me fez quebrar o vidro do espelho, acabando por machucar a minha mão, mas dor era a única coisa que eu não sentia.

Ao me sentar na cama, observo a navalha ao meu lado, respiro fortemente, e acabo mais uma fez me ferindo. Não me importando. Eu só queria sumir. Em meio a tanto sangue. Acabei pegando no sono.

Não vi a luz do sol domingo, nem segunda, terça, quarta, quinta, sexta. Mais um final de semana.

Eu estava trancada em meu quarto, a uma semana eu não via ninguém, não ia pra escola, não comia sequer dormia. Pedia para Jisoo inventar qualquer história para que Chaeyoung não entrasse, não queria ver ninguém. Ouvia o meu padrasto falar que era frescura, e com uma "cintada" aquilo passava.

Me sentia tonta quando sentava, sentia dor de cabeça quando abria os meus olhos, em meus braços não haviam mais espaços para cortes. Eu estava literalmente morrendo.

A campanhia foi tocada, mais uma vez pedi para Jisoo atender. Estava pronta pra pegar no sono quando a porta do meu quarto se abre.

- Jisoo, por favor me deixa sozinha.

- Não é a Jisoo, Liz... sou eu.

Abrir o olho era uma tarefa complicada, mas ao escutar aquela voz, algo dentro de mim renasceu.

- Jennie? Porque está aqui?

- Faz uma semana que você não vai a escola, não manda uma mensagem, não vai a cafeteria. Chaeyoung não conseguiu contato. Estamos preocupados e... ai meu Deus, Lisa, o seu braço! Você...? Porque faz isso?

- Isso não é dá sua conta.

- Para de agir assim, levanta daí eu preciso cuidar disso.

- Eu não preciso dos seus cuidados, Jennie. Eu estou bem.

- Para de falar isso! Como você está bem!? Olha o seu estado!

- Como se você se importasse com isso.

- É claro que eu me importo! Eu vim aqui! Cancelei o compromisso que tinha com o meu namorado apenas para ver você.

- Eu nunca pedi isso, veio porque quis.

- Vim porque gosto de você, Lisa.

Stay For Me (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora