29 dias depois...
Infelizmente Ivy teve que voltar para Belo Horizonte por problemas com seu filho na escola. Não tivemos oportunidades de conversar sobre a noite passada e sobre Rafa , a não ser por mensagens, o que me dava margem para escapar quando o assunto era a namorada do meu melhor amigo. Era difícil escapar de Ivy, ela me conhecia bem.Após mais um dia de expediente saí com Marcus que por incrível que pareça andava quieto e pensativo.
- Marcus, seja breve e me diga o que estamos fazendo aqui?
Marcus chamou-me para um shopping no Morumbi. Ainda bem que ele pagou a gasolina e prometeu pagar meu jantar. Logo entendi que ele queria algo de mim e eu não sabia bem o que era.
- Eu preciso de você. – ele parou de andar e pegou nos meus ombros cobertos pelo blazer listrado. A preocupação dominava seus olhos. – eu quero fazer uma surpresa para a Rafa.
Ah claro, Rafaella. Revirei os olhos. Tinha que haver um motivo e esse era o mais óbvio. Ele aparentava estar muito envolvido. Era só sentir o excesso do seu perfume Paco Rabanne dominando a casa toda vez que ele resolvia sair com ela.
- Eu nunca pedi alguém em namoro. Eu não sei como fazer isso e preciso da sua ajuda.
Cada dia se tornava mais sério e eu tentava a todo custo desviar deles, seja quando Rafa ia na agência ou quando nos encontrávamos pelo apartamento.
- Tudo bem. – foi o que consegui dizer.
- Tudo bem? Você já namorou. Você entende dessas coisas.
- Eu não namorei, porque não se namora sozinha, tive um breve envolvimento e não foi recíproco. – evitava a todo tempo lembrar do meu breve namoro durante o primeiro semestre da faculdade, mas Marcus vira e mexe lembrava dela.
- Ok, mas você entende de coisas piegas. Me ajuda. Eu gosto realmente dessa mulher.
Era desesperador o jeito que ele falava. Marcus não era o tipo de cara que pedia ajuda sem sentido. Se ele pedia e passava por cima do seu orgulho, algo não estava certo. E com certeza sua mente se encontrava confusa no momento por gostar de uma mulher, algo que ia além do envolvimento físico. Era bom ver esse Marcus vulnerável.
- O que você tem em mente?
- Comprar uma lingerie pra ela. O que acha? – ele questionou.
- Nem pensar, comprar uma lingerie é para o dia dos namorados, depois de um ano de namoro. Isso exige algo inesquecível como: uma joia. – disse parando na vitrine da Pandora. Ergui minha mão até Marcus.- Cartão de crédito, por favor?
- Por que?
- Porque estou mandando, Marcus. E você que pediu minha ajuda. – disse sorrindo. Eu estava gostando daquele desespero silencioso dele.
- Ok. – ele revirou os olhos e me deu o cartão Platinum e a senha. Me encaminhei até a joalheria com ele ao meu lado, irritado.
Se ele achava que uma mulher como Rafa Kallimann, que já foi casada, se encantaria com pequenos gestos ele estava redondamente enganado. Rafa não se deixaria levar por isso. Ela não se encantaria por um par de sutiã e calcinha de marca. Ela se encantava com gestos, gestos de amor, de carinho, de atenção, coisas que Marcus não entenderia muito bem.
Rafaella, apesar de ser uma mulher simples, de gostos simples, ela era sofisticada. Dava para ver pelas suas roupas, pelo cheiro do seu perfume, pelo jeito como caminhava. Olhei por entre as joias tentando prever qual ela gostaria mais. Qual joia se encaixaria perfeitamente no seu sorriso ao vê-la dentro da caixa. Como ela era Chef, pulseiras estavam fora de cogitação, ela quase não usaria e ainda correria o risco de perder. Foi então que a vendedora me mostrou o brinco perfeito, era rosé com um desenho colonial. Ficaria lindo nela.
- Nós vamos levar esse, pra presente por favor. – disse para a vendedora sorrindo de satisfação por ter encontrado o brinco certo. Marcus em nenhum momento sorria, principalmente quando passei o brinco de R$ 969,00 reais no seu cartão. Se fosse em whey protein e cerveja, ele não ligaria nenhum pouco.
- Eu nunca tive que me esforçar tanto. – Resmungou.
- Pois aprenda. O prêmio melhor vem no final.
Seus olhos então brilharam. O dia do fim do contrato se aproximava. Espero que no dia ele faça o favor de ir até a casa dela e não faça na nossa. Caso contrário, eu teria que dormir na casa de Manu e a alegação deixaria a baixinha ainda mais irritada comigo.
Depois fomos até uma loja de moda masculina procurar a camisa perfeita. Era um momento especial, então o pedido tinha que ser bem feito. Sem nenhum defeito. Depois fomos ao mercado. Restaurantes eram genéricos demais para Rafa. Escolhi um vinho branco para acompanhar, já que o jantar seria peixe. Ele ficou animado achando que eu cozinharia, deixa até ele saber que o prato será feito por ele mesmo.
Chegamos em casa e era mais de nove horas quando começamos a desempacotar as compras.
- Eu não vou esquecer disso jamais. Sério. Obrigada. Você é demais, irmã.
- Não foi nada, Marcus. – disse evitando seu olhar.
- Foi sim. Você acredita em mim. Acredita que eu seja capaz de gostar de alguém de verdade, sem jogos. E você sabe o quanto tenho medo de relacionamentos, os meus pais...
- Sei da história toda. Mas você é diferente. Você consegue dar esse passo. E ela é especial. – Marcus ficava engraçado nervoso por uma mulher, a última vez que ele ficou assim foi quando uma garota confessou a suspeita de gravidez. Foram dias sombrios para o Marcus. Até que chegou o resultado negativo. E ele comemorou. Marcus não estava preparado para ser pai.
Nesse momento eu tentava afastar todos meus sentimentos e focar no meu amigo que merecia essa felicidade. Me deparei com sua paixão por Rafa e precisava engolir meus sentimentos, com sorte, eles irão sumir em breve. Meu coração dividia-se entre o desejo por sua felicidade e o desejo por deixar de ser covarde e confessar que eu sentia atração física pela namorada dele. Ou futura namorada. Mas era um jogo em que nenhum dos cenários eu sairia ganhando.
- Você vai fazer de entrada uma salada de folhas verdes com amendoim, o prato principal será salmão com crosta de ervas e aligot e a sobremesa será brownie com amêndoas e sorvete de creme.
- Por que você me diz isso se é você que vai fazer ? – ele cruzou os braços e riu.
- Nós, em conjunto. Eu não vou fazer nada sozinha, tá doido? – Marcus deu de ombros. É claro que ele não conseguiria fazer tudo sozinho.
- Que diabos é aligot? – ele questionou.
- Aligot é um purê de batatas com queijo que harmoniza perfeitamente com o peixe. Assim como o vinho que eu escolhi.
- Por que você tem que ser tão culta e inteligente? – Marcus sentou-se na banqueta que dava acesso a cozinha.
Dei de ombros.
- O que fazer, né?! Deus me criou assim. Eu tenho bom gosto. Fui eu que uni você e a Rafa. Então...
- Você ficaria com ela? – me surpreendi com sua pergunta quase deixando uma garrafa de azeite que eu guardava cair das minhas mãos. – se não fosse eu, é claro.
- Quem não, Marcus? Quem não? – respondi sem vontade. Mas meus pensamentos pararam nela e no dia que a mesma me intimidou jogando meu corpo contra a parede.
- Ela é muito linda, não é? – afirmei com a cabeça. – Eu preciso que tudo saia perfeito e quero que o jantar seja aqui. Me sinto melhor aqui do que na casa dela.
Me dei por vencida. Seria uma longa noite na casa de Manoela tentando explicar a ela o motivo de estar na sua casa, enquanto Marcus pedia Rafa em namoro. Explicando como planejei a noite perfeita para os dois. Minha vida daria um belo filme.*
Jóia que ele dará pra Rafa.
Não me matem, tudo na história tem um sentido.
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Faíscas
FanfictionGizelly é uma ambiciosa publicitária que juntamente com seu sócio de Marcus Vilaverde forma uma dupla imbatível nos negócios. Porém Marcus é famoso por suas confusões. Numa tentativa de mudar a imagem do amigo e sócio, ela percebe que a melhor soluç...