Sintomas de Ressaca

1.3K 169 18
                                    

Pov Gizelly

Ao acordar, senti o cheiro de café vindo da sala. Meus olhos se abriram um pouco e meu corpo resistiu a fazer qualquer movimento. Eu estava exausta. Exausta fisicamente, exausta de fingir que Rafa não alterava meus sentidos, exausta de tudo. Movimentei meu braço para o lado da cama percebendo que Ivy não estava mais lá. Sim, ela dormiu ao meu lado. Porém, não aconteceu nada entre nós, saímos como amigas e permanecemos amigas. E isso era bom.

Fui levantando aos poucos, motivada pelo cheiro de café que vinha da sala. Mas aí lembrei de Rafa dormindo no quarto ao lado com Marcus. Respirei fundo. Mesmo faltando um mês para eles dormirem juntos, a imagem deles agarrados rondava minha mente. Revirei os olhos e levantei mesmo assim, precisava de cafeína. Não tinha jeito.

Fui até a sala e me deparei com Rafa aos risos  junto com Ivy enquanto cozinhava. Ela vestia uma das camisas de Marcus que ficavam enormes nela, e quanto mais a camisa a engolia mais sexy ficava.

- Olá, bom dia.

- Boa tarde, né fia. – Ivy brincou.
Olhei para o relógio da cozinha e percebi que eram 13 horas. Da tarde, hora do almoço.

- Bom dia. – Rafa respondeu sem olhar pra mim.

- Cadê o Marcus? – questionei.

- O que você acha? Ele foi correr. – era óbvio. Mas em pleno domingo. Não entendia como Marcus corria tanto. Deve ser o fato de dormir com Rafaella a noite toda sem poder toca-la. Um modo de jogar a frustração fora.

- Como essa criatura aguenta correr tanto? – Ivy perguntou.

- Você precisa fazer compras. – Rafa disse mexendo na minha geladeira. Era um fato. Eu precisava, mas com as campanhas da  empresa, acabava sem tempo. – Mas consegui fazer alguma coisa com o que estava aqui.

Eu me aproximei delas, servindo-me de café.

- Vocês também estão com uma ressaca terrível? – perguntei. O clima ruim era perceptível. Óbvio que precisaria conversar com Rafa depois.

- Eu não tenho ressaca. – Rafa disse rindo.

- Eu também não.

O cheiro que vinha do forno era muito bom. Muito bom mesmo.

- Estou fazendo um macarrão primavera carbonara.

Ela então olhou pra mim. Eu sorri. Amava macarrão carbonara. E o quanto aquela mulher cozinhava bem não estava escrito. Afinal, ela foi para a melhor escola de culinária do mundo.

- Nossa, você foi pra melhor escola culinária do mundo e faz macarrão carbonara?

Ela revirou os olhos e sorriu pra mim.

- Você é hilária, Gizelly Bicalho. Faça compras ou mande o Marcus fazer. – ela disse.

- Você acha realmente que o Marcus é capaz de fazer as compras do mês? – questionei. Marcus era relaxado, era capaz de comprar apenas cerveja e congelados.

Parece que ele ouviu nossa conversa, pois apareceu dançando a música que ouvia em seus fones de ouvido bluetooth. Como ele tinha tanto pique depois de uma noite na boate?

- E aí, meninas! – ele se direcionou a Rafa dando um beijo em sua bochecha. – olha se essa não é a mulher mais linda da face da terra e a mais talentosa.

- Você é galanteador demais, Valverde. – Respondi cruzando os braços e sentando em um dos bancos da bancada da cozinha. Ele dava uma visão perfeita de Rafaella cozinhando.

- Cadê sua namorada, Bicalho?  Ah esqueci, você não tem. – Marcus brincou.

- Eu ainda não recebi nenhum pedido de namoro, Valverde. – Rafa respondeu.

- Estou trabalhando para melhor atendê-la, senhorita Kalimann.

Ele disse antes de correr, sim, correr até o banheiro.

- Não sei de onde vem tanto pique, senhor. – Ivy comentou. Ela ajudava Rafa na cozinha.

Depois de Marcus voltar do banho, ficamos conversando os quatro, quem via de longe achava que éramos aquelas duplas de casais amigos.

Marcus não parava de olhar pra Rafa e toca-la e eu nunca o via assim com nenhuma mulher. Na verdade, nunca o via com nenhuma mulher de mãos dadas e abraçado a não ser quando ele conhecia alguém na boate ou nas nossas viagens. Rafa também aparentava gostar dele. O que me deixou confusa em relação ao que aconteceu ontem. Talvez fosse realmente o efeito da bebida. É, eu deveria esquecer as sensações de ontem. E foi isso que eu fiz. Fui para o meu quarto após o almoço e me afundei em meio a vários papéis da agência. Mas ao tentar me concentrar ouvi batidas na porta. Era Rafa.

- Oi! Incomodo? – claro que incomodava, eu estava tentando fugir dela.

- Não, pode entrar. – disse com os olhos voltados pro notebook.
Senti um corpo se afundar na cama.

- Então, como devo começar isso. – ela disse mordendo o lábio inferior.

- Pelo começo? – brinquei tentando melhorar o clima.

- Ontem eu vacilei com você. Me desculpe. Não deveria ter te pressionado daquele jeito. Foi o efeito do álcool.

De um lado  me sentia desapontada por ela ter dito isso. Foi apenas o álcool. Mas por outro lado me sentia satisfeita por estarmos tendo aquela conversa. Talvez pudéssemos ser amigas.

- Você pede muitas desculpas. Que essa seja a última vez, viu, Rafaella?

- Posso te compensar fazendo uma sobremesa.

A sobremesa não. Se eu comer mais uma sobremesa dela, eu a roubo do Marcus e fujo com ela  para fora do país.

- Eu que te desculpo por ser misteriosa demais. Não costumo me abrir muito para as pessoas, mas posso tentar me abrir com você. – ela abriu um sorriso. Um lindo sorriso.

- Eu gostaria muito. Pra começar, que tal largar esses papéis e ver um filme comigo, Marcus e Ivy?

Parei pra pensar olhando para o trabalho que tinha pela frente.

- Eu acho que eu posso fazer isso. Só vou trocar de roupa. – disse virando de costas pra ela, pegando peças de roupa no armário. Quando me virei, percebi que ela analisava meu corpo e disfarçou tarde demais.

- Por que ? Eu gosto do seu pijama. Quer dizer, eu gosto da cor rosa.
- Mas não posso passar o dia todo com ele.

E eu pensava que teria um domingo comum, mas passei com Rafa, Marcus e Ivy. A mineira me lançou um olhar que dizia “precisamos conversar depois”. E eu não poderia fugir daquela conversa. Já era tarde demais. Era tarde demais para muito coisa...


*
Desculpem a demora, tive bloqueio criativo e algumas atividades do trabalho. Mas o bloqueio já foi embora, então vou postar com mais frequência.

FaíscasOnde histórias criam vida. Descubra agora