Digno de comemoração

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Eram sete e meia da noite quando terminamos de cozinhar. Marcus se viu contrariado por eu não fazer tudo para ele. Estava tudo perfeito. Mesa posta. Pratos prontos e meu sorriso de satisfação pairou por um momento. Até lembrar que eu precisava sair dali urgentemente. Antes que eu me encontrasse com Rafa.

Marcus foi até o banho e eu aproveitei para sair, não sem antes pegar minha garrafa de tequila remanescente da festa anterior feita no apartamento. Estava em plena fuga do meu próprio apartamento para não encontrar com Rafa. Marcus explicou que aquela noite ela conseguiu uma folga do restaurante, para sua felicidade.

Ele até me fez ajudar num discurso para pedi-la em namoro.

- Eu sei que já estive com várias mulheres, mas isso não significa muita coisa, porque eu estava solteiro , contudo, no momento que eu encontrei você, deixei tudo pra trás. Nós somos amigos antes de tudo e é isso que eu gosto em nós dois, o modo como me sinto feliz com você, como nos divertimos juntos e por isso queria elevar nosso relacionamento a outro nível. Quero algo sério. Aceita?

Eu elaborei esse discurso perfeito que provavelmente vai sair totalmente distorcido da boca dele. Mas aguardemos. Chamei o Uber e pedi o elevador com a garrafa de tequila debaixo do braço e roupas dentro da mochila.

No momento que o elevador parou, ele revelou Rafa trajando um vestido preto de alças que caia perfeito em seu corpo. Dei um sorriso torto pra ela.

- Oi.

- Olá, Gi. De saída ?

- Sim, vou na Manu. Vamos fazer uma noite mexicana.

- Marcus estava todo misterioso sobre esse noite. Você sabe de alguma coisa?

Balancei a cabeça negando. Mas pela minha expressão era óbvio que eu sabia.

- Você não vai contar né?

- Não posso. – chegamos para frente e o que deveria ser um movimento sincronizado foi um encontro de dois corpos lutando por espaço. Eu queria entrar no elevador e ela sair, mas acabamos ficando perto demais uma da outra. Ela não fez questão de se mexer. Pelo contrário, ela sorriu. Seu cheiro exalou pelo ambiente me deixando nervosa.

- Nem nisso a gente se acerta. – disse indicando a situação em que estávamos.

- O que você quer dizer com isso? 

- Você anda fugindo de mim. Mas um dia você vai parar de fugir. – ela estava certa, eu escapava dela sempre que a via por um motivo claro e nobre.

Peguei-a pela cintura e inverti nossas posições, entrando no elevador. Respirei fundo aliviada com a distância constrangedora, porém meu corpo reclamava de estar afastado do seu.

- Você sabe, é como diz o ditado... – dei de ombros e deixei o elevador fechar. Ela acompanhou com o olhar até a porta fechar. Aquele olhos verdes me encarando com curiosidade. – quem acredita sempre alcança. – Disse pra mim mesma.

Manu me recebeu super bem em sua casa, como sempre. Nós fizemos a noite mexicana, tacos, nachos, guacamole e tequila, muita tequila. E algumas verdades.

- O que rolou no dia do baile funk?

- Bom, basicamente, se Ivy não estivesse ali, nós nos beijaríamos.
Manu ficou boquiaberta.

- Rafaella não me contou essa parte.

- Ela estava se preservando e a mim também, já que as duas estavam mega bêbadas. – Defendi Rafa.

- Ah claro. Com certeza. – Manu
respondeu irônica. - E você programou a noite perfeita para os dois, enquanto está aqui comigo ficando bêbada.
- Nada melhor que as amigas. E eu não quero ouvi-los transar. Marcus é barulhento. – ri de nervoso com a situação.

- Mas você sabe que não pode fugir pra sempre. Quer dizer, eu adoro te receber na minha casa, mas não dá pra fugir. Eles estão namorando sério agora. Você perdeu, você sabe que perdeu, Gizelly Bicalho.

- Perdi o que? Eu hein, vai ficar me alfinetando a noite toda? – respondi sem vontade, buscando mais um gole de tequila. O líquido desceu quente pela minha garganta e deixou -me tonta. Eu estava me anestesiando. E era uma sensação boa. Manu era uma ótima amiga. Apesar do sarcasmo constante e da sensação de que seus olhos diziam “ eu avisei”. – talvez eu devesse arrumar uma namorada também.

- Você seria capaz? Quer dizer, emocionalmente capaz?

Pensei na Marcela, mas ela era minha cliente, de forma alguma me envolveria com clientes, não daria certo. Por mais atraente que ela fosse e por mais que tenha me ajudado muito com suas dicas sobre sexualidade, eu não considerava Marcela uma possível namorada, ela era minha cliente e amiga.

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