O outro lado

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POV RAFA

Eu me considerava uma pessoa tranquila. Com a vida agitada, porém conseguia me manter internamente tranquila. Voltei de Paris no intuito de matar minhas saudades do Brasil. Não há lugar como o Brasil. Pensando na minha trajetória, eu me sentia satisfeita no lado profissional, me sentia completa. No trabalho era adorada pelos meus funcionários e sempre os tratava de forma cordial condizendo com o que meus pais ensinaram.

O divórcio me trouxe mais concentração nos meus objetivos e a viagem me fez conhecer detalhes de mim mesma que, até então, desconhecia. Aprendi a viver e a sobreviver, a receber e aceitar críticas. A relevar o que não agregava nada pra mim. Tranquilidade. Mas quando eu conheci Gizelly, eu não tive tranquilidade. Manu nos apresentou com a intenção de nos juntar. Ela sabia que eu tinha uma crush em Gizelly desde que a vi em suas fotos no Instagram. Mas Gizelly era uma pessoa misteriosa, confusa, ela confundia minha mente a todo momento.

Uma hora eu achava que ela estava gostando de mim e em outro momento, como foi na festa, ela caia nos braços de uma loirinha do SUS. Aquilo me feriu, me atingiu, atingiu minha autoestima. E de um lado eu tinha Gizelly que não me dava a mínima abertura e do outro tinha Marcus que era totalmente aberto comigo.

Era uma escolha complicada e difícil. Marcus era um bom rapaz, ele era atlético, se vestia bem, estava sempre cheiroso, animado, gostava de conversar e contar sobre suas aventuras. Não entendi as reticências de Maria Manoela quanto a ele. Além disso, era  cavalheiro, se eu pedisse para Marcus buscar algo pra mim ele iria, sem questionar. Era o típico de candidato perfeito a namorado. Porém, eu estava envolta ainda no mistério que era Gizelly. Será que alguém a feriu no passado e a fez assim? Eu queria questionar um dia. Queria muito.

Eu me relacionar com homens, mas com mulheres era totalmente o oposto. Os toques, o corpo feminino, os beijos, a pele macia, tudo era fascinante. Comecei a me relacionar com mulheres durante meu curso de culinária na França e depois não parei mais. Contudo, meus relacionamentos duravam no máximo uma semana. Eu não conseguia me envolver. Mas aqui estava eu saindo com Marcus há um mês. E gostando. Eu começava a conhecer um lado do Marcus que até então era desconhecido, o lado sensível. Outro dia ele chorou comigo assistindo a um filme novo da Netflix. E outra, ele pouco tentava avançar de alguma forma em mim. O que era estranho, pois Manu me disse que ele era sexualmente ativo, até demais. Gizelly não parecia se incomodar com meu relacionamento com Marcus, o que dava a entender que ela não estava tão a fim de mim assim. Aquilo era desconhecido pra mim, ninguém nunca me deu um fora como ela deu naquela noite da festa.

Confesso que comecei a conversar com Marcus para ver a reação dela. A relação dos dois era de muita irmandade e carinho, assim como era a minha com Manu. Ele sabia mais dela do que qualquer outra pessoa e a admirava. Marcus falava com orgulho do quanto Gizelly o ajudava, do quanto ela lutava para a empresa ser um sucesso e só vivia para isso. Do quando ela era inteligente e como ela ajudava em projetos sociais, chegando a patrocinar um time de futebol com poucos recursos em nome da empresa. Com certeza ela era preciosa pra ele. Tinha outra coisa que Marcus amava, o carro chamado Penélope.
Enfim, era mais um dia de trabalho e de muitos clientes. Parei para ir ao banheiro e aproveitei para olhar o celular, onde havia cinco ligações de Marcus. Retornei porque era preocupante alguém ligar tantas vezes.

- Rafa? Ta muito ocupada, bebê?

- Só tenho cinco minutos.

- Gizelly conseguiu vários convites para o show do Dennis DJ, área vip e all inclusive. Está a fim de ir? – me surpreendi. Gizelly me chamando para um show ?  Ou será que Marcus obrigou ela a me chamar?

- Vou sim, quem teve a ideia de me chamar foi a Gizelly ou você?

- Foi a Gizelly.

- Ela vai?

- Vai, claro. Então te pego meia noite em casa? Será que dá pra ser liberada mais cedo?

- Claro. Deixo meu sous-chef no comando.

- Ok, bebê.. te pego então. Um beijo.
Pedro era meu sous- chef, ele era um tipo de assistente do chef, o segundo no comando da cozinha. Fazia tudo como eu gostava e isso era admirável. Avisei a ele que sairia um pouco mais cedo, mas não disse para o quê. Se eu saísse onze horas chegaria em casa a tempo, me arrumaria para ir ao show.

Meia noite e dez, Marcus chegou no meu prédio. Pegaríamos um Uber juntos até o evento. Ele vestia uma camisa preta lisa, calça jeans e tênis. Estava bonito e ao abraça-lo constatei que estava também cheiroso. Se há uma coisa que Marcus sabia fazer era me divertir. Ele me fazia rir a todo momento.

- Você está linda. – ele disse se afastando para me olhar por inteiro.
Eu trajava uma blusa de seda rosa de alças e um short jeans. Já que era um baile funk teria que ir a caráter. De modo que ficasse confortável para dançar.

- Vamos! Gizelly já está lá.

- Sozinha?

- Não, ela está com Ivy – ergui as sobrancelhas. Quem era Ivy? Outra das conquistas secretas da Gizelly?

- Quem é Ivy? – tentei aparentar tranquilidade.

- Uma amiga da Gizelly de BH, ela é modelo e vem sempre fazer trabalhos aqui. 

- E você?

- Eu o que? – ele perguntou mexendo no celular para chamar o Uber.

- Você já ficou com ela?

- Não. – revirou os olhos. – Não precisa ter ciúmes dela. Ela só ficou com a Gizelly, mas tem tempo já.

Gizelly era o tipo de mulher discreta quanto aos seus relacionamentos. Se é que poderia chamar de relacionamento. Segundo Manu, ela saia com Marcela de uma forma amigável, não que eu tivesse perguntado.

Chegamos na porta da boate que já se encontrava lotada. Olhei ao redor buscando Gizelly. Porém, segundo Marcus, ela já entrara. A curiosidade por saber a aparência dessa Ivy me dominava.

Marcus fez sinal para um dos funcionários da boate que checava os nomes através de uma lista. Ele nem precisou ser checado na lista, apenas cumprimentou o homem com um aperto de mãos.

- Você frequenta muito aqui?

- Está parecendo uma entrevistadora hoje, hein, senhorita Kalimann? – disse ele se safando das perguntas. - A resposta é sim. Eu frequento, mas podemos mudar os velhos hábitos se você quiser. – disse sorrindo. Ele segurava minha mão enquanto me guiava pra dentro da boate. A música ia ficando cada vez mais alta a medida que entravamos.

A boate era grande e espaçosa, assim que você chegava dava para ver a cabine do DJ isolada. Haviam dois bares bem distribuídos e funcionários com máquinas de cartão para facilitar a compra da bebida. Mas não precisaríamos disso, graças a Gizelly estávamos na área vip com bebida liberada.

Marcus guiou-me novamente até a parte de cima, onde era localizada a área vip. O segurança colocou duas pulseiras douradas em nossos pulsos. O funk rolava solto na pista de dança e de cima dava para ver as pessoas dançando freneticamente ao ritmo da música.

Prestava tanta atenção lá embaixo que não percebi para onde estava sendo guiada. Até que entre luzes coloridas avistei Gizelly. Ela bebia um copo grande de cerveja e conversava com uma morena bem vestida e ria de tudo que a mesma dizia. No instante que a vi subiu um frio na barriga. De súbito apertei a mão de Marcus pedindo uma bebida. Só que ele antes de ir até o bar precisou achar a amiga. Infelizmente.

Quando Gizelly nos avistou fez uma festa. Não reconheci seu olhar divertido e empolgado. Parecia outra Gizelly. Será que alguma outra personalidade  assumia seu corpo quando ela bebia?

Eu tinha que admitir : Gizelly não tinha noção do quanto ela era gostosa. Reprimi meus olhos que insistiam em direcionar aos seus seios cobertos pelo top preto. Ela trajava uma camisa social azul e branca por cima do top e vestia short. Ver suas coxas pela primeira vez foi a visão do paraíso.

Foi quando o abraço de Gizelly tirou-me do transe. Ainda por cima estava cheirosa. Droga. Estar num baile funk com aquela mulher dançando seria um inferno. E talvez eu deveria tentar transformar em um inferno para ela também.




Não me matem kkkkk ! Teremos interações GIRAFA no próximo capítulo. Aguardem!
Quero agradecer a revisora  @blackwomanopoly ( twitter) por revisar com carinho quando esqueço de colocar a vírgula no lugar certo.

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