Capítulo II

183 45 366
                                    

Deitei na minha cama de bruços, sabendo que mamãe entraria pela porta de madeira daqui alguns instantes e assim o fez.

- Core, você sabe que não é bom uma donzela ficar até tarde fora de casa com um homem. - Mamãe além de alta tinha um corpo não tão magro e nem tão gordo, o que fazia com que ela fosse parecida com o que os antigos gregos chamavam de beleza. E, realmente, ela era linda.

- Ártemis estava junto. - falei com com o rosto no travesseiro.

- Mesmo assim, eu não gosto...

- Mãe, - a interrompi ficando de pé - você não gosta que eu tenha amigos, você não gosta que eu saia da sua visão por um segundo sequer e eu estou farta disso. Acho que em 18.000 anos eu aprendi a me cuidar. - concluo batendo os pés como uma criança mimada.

- Core, você não sabe nada da vida. - ela esfregou suas têmporas com com os dedos. - Eu te protegi para que não acontecesse nada a você e é assim que você me trata? - ela abre os olhos marejados, sai do meu quarto batendo a porta de madeira.

Ela sempre se vitimiza quando alguém a põe contra a parede. Eu não lembro a última vez em que eu pude sair dessa casa-árvore sem alguém estar cuidando de mim, como se eu fosse um tesouro super precioso e isso estava me sufocando havia algum tempo. Após o a breve discussão com minha mãe ( se é que posso chamar de discussão), deitei na cama e dormi. Sonhei que estava numa floresta, perto de uma cachoeira igual perto de casa, mas eu parecia estar bem distante de tudo e de todos. Estava olhando para as copas das árvores, já que elas estavam tampando qualquer visão do céu, senti uma brisa fria na minha nunca, me virei e vi um vulto dentre as árvores.

- Vamos para casa, Perséfone? - uma mão pálida se estendeu das sombras, eu sorri e eu corri em direção a voz com os braços abertos para um abraço.

Acordei assustada com um barulho metálico vindo de fora do meu quarto, eu me levantei vestindo o mesmo vestido de ontem já que não estava com ânimo de me trocar tanto por causa do estresse com mamãe tanto porque eu estava louca para dormir. Pela fresta da porta eu vi mamãe e as ninfas colocando a mesa que só usamos quando tínhamos algum convidado que minha mãe gostava. A mesa era de madeira e cabia umas vinte pessoas, vivíamos em dezesseis ( eu, mamãe e quatorze ninfas).

- Bom dia, Core! - Disse Iynx, enquanto passava pela porta do meu quarto. Iynx era uma oréade ( ninfa das montanhas), igual a sua mãe Eco, que morrera quando ela era apenas uma criança e mamãe a criou desde então. Crescemos juntas, isso faz com que ela seja a ninfa mais próxima de mim aqui.

- Bom dai, Iynx... o que está acontecendo aqui? - falo enquanto saio do meu quarto e a sigo em direção à mesa aonde o restante das moradoras já estão, incluindo mamãe. Todas estão correndo para colocar os objetos certo sobre a mesa, como o pano de seda especial de mamãe, taças de cristal, conjunto de talheres e pratos prateados novos.

- Sua mãe não te contou? Ontem a noite, após você ir deitar, Hermes voltou avisando que Hera viria tomar café da manhã com a gente.

Meu queixo caiu, simplesmente devo ter ficado boquiaberta por vários minutos até que Iynx começou a rir. Iynx era linda, assim como todas as ninfas, com um cabelo rosa claro longo contrastando com a pele morena e olhos pretos, os cílios mais pretos e longos que eu conhecera. Ela herdou a altura de seu pai, Pã, só não alcançava mamãe.

Olhei de relance ao redor, mamãe supervisionava tudo, ela usava um vestido violeta longo frente única que emoldurava partes certas de seu corpo, suas sandálias trançadas de ouro a fazia parecer mais poderosa do que já é.

- Core! - Mamãe veio correndo em minha direção - Ponha o vestido branco que te dei na última primavera.

Não respondi, apenas me virei e voltei para o meu quarto. Meu quarto. Eu não sabia se seria o lugar que eu mais sentiria falta ou o lugar que eu menos lembraria quando eu fosse embora daqui, ele tinha uma janela retangular que abria para fora, a minha cama pequena ( feita sob medida para mim) e um guarda-roupa branco que fazia a jade azul, que ficava em volta, ficar mais azul ainda. Abri o guarda roupa e puxei o vestido novo, era um vestido estilo ciganinha sua saia batia nos meus joelhos. Assim que o vesti, Iynx entrou no meu quarto com uma respiração ofegante.

Amores olimpianosOnde histórias criam vida. Descubra agora