Amores olimpianos

Capítulo XIV

Já fazia mais de uma hora que Zeus estava no escritório de Hades, apesar de eu ficar olhando para a tela do meu notebook, eu não conseguia me focar no trabalho. A sensação de mal-estar desde que Zeus chegara não diminuía, além de que a minha preocupação só aumentava. Eu sei que eles não começariam brigas de repente e m um lugar assim, mas acho que as palavras de Zeus podem persuadir Hades de alguma forma.

- Você está bem? – Hécate apareceu em minha frente usando um macaquinho jeans com um top preto por baixo. Acho que foi a vestimenta mais informal que eu vi naquele lugar, mas pelo seu cargo acho que pode ter algumas regalias.

- Sim... você deseja falar com Hades? – perguntei rapidamente para desviar a atenção de mim.

- Sim, ele está com alguém?

- Zeus. – a minha resposta bastou para Hécate fazer uma cara de nojo. Hécate logo se endireitou quando a maçaneta da porta de Hades girou e de lá saiu os dois irmãos, Zeus trazia um semblante vitorioso no rosto, enquanto Hades parecia cansado.

- Sempre é muito bom te ver, Hades. – diz Zeus ao estender a mão para o meu chefe.

- Não posso te dizer o mesmo. – Hades apenas apertou a mão de seu irmão por um segundo e logo a soltou. – Hécate, você deseja falar comigo?

- Se for possível. – ela diz, Hades faz um gesto para ela adentrar na sala e logo ela passa por ele, que fecha a porta em suas costas.

- Acho melhor você e cuidar, senhorita Perséfone. – Zeus diz e logo sai pelo corredor.

Passou meia hora até que que Hécate saiu da sala de Hades.

- Ele quer te ver. – disse ela com uma cara triste, eu não quis especular, apenas me levantei e entrei pela porta de madeira. Hades estava deitado no seu sofá, assim como estivera alguns dias atrás.

- Eu não aguento mais, Perséfone. – ele disse de olhos fechados.

- O que você não aguenta mais? – perguntei ao me aproximar dele.

- O meu irmão. – ele se levantou o bastante para que eu sentasse e ele colocasse a sua cabeça em meu colo, assim que o fez comecei a fazer cafuné nele.

- O que houve agora?

- Sempre que ele vem com o papo de querer falar de negócios é porque alguma amante está dando algum tipo de problema.

- Mas ele saiu com uma cara tão... feliz, não sei se é essa palavra.

- Ele saiu com essa cara porque sabe que eu vou resolver os problemas dele.

- Pois não deveria. – ele abriu os olhos angustiados para me fitar.

- Ele é meu irmão.

- E você é o irmão dele, ele deveria ter mais consideração por você e resolver os seus próprios problemas.

- Eu devo a ele, Perséfone. – ele engoliu em seco.

- Por que?

- Porque se não fosse por ele, talvez Cronos ainda estaria causando aquele caos.

- Hades, você foi engolido pelo seu próprio pai...

- E se não fosse por Zeus e Poseidon, eu ainda estaria lá. – ele diz irritado, mas não elevou o seu tom de voz.

- Acho que não é bom discutirmos isso agora. – apesar de ficar brava, tento não transparecer. Eu entendo que deve ser doloroso falar sobre o passado, mas acho que Hades não pode fugir dele.

- Eu prometo que irei me abrir com você, mas tenha paciência. – os seus olhos fechados se apertaram, dava para sentir a dor só de olhar.

- Somos deuses, Hades, eu posso te esperar pela eternidade.

- Não a torturaria tanto, minha cara Perséfone. Talvez uns duzentos anos.

Dei um peteleco em sua testa.

- Muito engraçado, Hades. – nós dois rimos com a piada entre deuses. Ficamos um tempo conversando, só percebemos que passamos do horário quando Dríope bateu na porta. É tão bom quando a conversa flui e nem se vê a hora passar.

- Eu levo as duas pra casa. – Hades já ia se levantando.

- Não precisa, nós vamos de bondinho. – Dríope disse firmemente, ela não estava querendo a presença de Hades por algum motivo.

Hades não insistiu, ele percebeu os olhares de Dríope, ele apenas falou para que nos cuidássemos na volta.

Seguimos o caminho até o bondinho em silêncio, dentro dele ela começou a desabafar:

- Convidei o Thanatos para ir com a gente na festa, tudo bem? Ele parece ser tão sozinho com todos os deuses o rejeitando e o ignorando. Apesar dele ser um pouco irritante, ele sempre foi uma companhia para mim nesse trabalho.

- Dríope, você não tem que se justificar. Eu adoro o Thanatos, não entendo o motivo dos deuses fazerem isso com ele. Até mesmo Hades parece não ter uma empatia por ele.

- Eu acho que tem a ver com ele ser filho de mãe solo... Eu não sei bem, ele não gosta de falar sobre isso.

- Não pode ser filho de mãe solo, mas Zeus pode engravidar todo mundo? Incrível. – bufei. Antes que nos déssemos conta, já havíamos chegado em casa, caminhamos o restante do caminho em um silêncio harmonioso. Entrei no nosso quarto e fui direto para minha mesa para escrever uma carta para minha mãe:

"Querida mamãe,

Eu nem vejo o tempo passar por aqui, moro com ninfas maravilhosas que já considero com irmãs, sem mencionar que estou tendo aula com Atena! Atena é incrível, além de que os outros professores também não ficam muito atrás dela.

Arranjei um emprego que paga bem e são todos super educados lá, estou bem animada com isso tudo!

Você pretende vir me visitar? Por favor, me avise antes para eu me programar e arrumar a casa e tentar pegar uma folga.

Conte-me como estão as minhas irmãs? Sinto tanto a falta delas, mas logo nos reencontraremos.

Desculpa não ter enviado essa carta antes, eu estou tão ocupada com tudo que mal tive tempo de ficar em casa. Caso aconteça algo, por favor, me informe imediatamente.

Beijos,

Sua filha Perséfone."

Mandei mensagem para Hermes dizendo para ir na janela do meu quarto e pegar a minha carta, já que homens são proibidos de entrarem (Apolo não deveria saber dessa regra, né). Após cinco minutos o meu irmão estava batendo na minha janela.

- Boa noite, você não tem uma colega de quarto?

- Ela está lá embaixo. – entrego o papel para ele. – Fale para minha mãe que eu estou sendo comportada.

- E que você não brigou com Zeus e que nem fez Hércules ser expulso. – fiz uma carranca para ele. – Eu estou brincando. – ele ri e já sai voando com os seus sapatos.

- Perséfone, está tudo bem? – Kira abre a porta do quarto.

- Sim. – ajeito o meu cabelo, fingindo estar distraída.

- Eu pensei ter ouvido uma voz masculina.

- Era no meu celular. – rapidamente pego o aparelho em cima da minha mesa e aceno. Ela parece que se convence e sai. Tecnicamente, eu não infligi nenhuma regra, Hermes nem entrou em casa, ele ficou do lado de fora.

Dou um pulo quando o meu celular apita, mas fico animada ao pensar que pode ser Hades.

"Precisamos conversar. Urgente" – dizia a mensagem de Eros.