Meus dons...?

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Um carinho quente e agradável em minha bochecha é a causa de meu despertar, mas abro os olhos somente quando uma sombra recai sobre meu rosto. Com um susto silencioso, encontro duas íris azuis e gélidas.

Aquelas íris azuis e gélidas.

Minha respiração dispara enquanto busco um meio de fugir disso, só que não há jeito. É um mar em que não aprendi a nadar e pronto para me afogar sem um pingo de piedade.

Todas aquelas sensações que tive da primeira vez voltam com uma força estonteante e o caminho para o lampejo de humanidade parece tão distante e confuso que desisto antes mesmo de tentar.

Agora eu sei o que isso é, sei o que está acontecendo... E não me serve de nada! Não fui treinada para fugir de ataques tão inesperados. Gradualmente, minha consciência é sugada de mim, junto com qualquer resistência e controle.

Se eu pudesse descrever aproximadamente a sensação seria como uma hipnose intensa em que eu sou deixada de lado e garras invisíveis tomam conta do meu corpo.

Repentinamente, um grito horrível corta o ar e o meu transe. O céu toma conta de minha visão, cegando-me momentaneamente pela luz excessiva. Tento recuperar o fôlego enquanto meus sentidos voltam lentamente.

Ao olhar para os dois lados, avisto um borrão escuro com um foco de fogo na parte mais baixa. Em outro canto, há uma dupla de pé e eu reconheço-a antes mesmo da voz chegar a meus ouvidos.

- Minha filha não, seu filho da...

- Kendra. - repreende Arthur com suavidade. - Meu Deus, Aura. - recebo um abraço caloroso. - Apague isso, amor. Ele já está desacordado, não quer chamar mais atenção, certo? - ele refere-se à ruiva atrás. - Você está bem, minha filha?

Afirmo com a cabeça freneticamente. Nisso, meu pai ajuda-me a ficar de pé e ouço Ethan acordar confuso. Já estou completamente recuperada quando meu... Marido diminui a distância entre nós.

- Isso não é o que eu estou pensando, é, Aura? - minha mãe avança a passos firmes.

- O quê?

- Precisamos ir para casa. Nunca mais fuja de nós quando tivermos um assunto importante a tratar. E sem "mas".

Só me deixam pegar a mochila cheia. Os outros convidados até acordam, porém nada questionam. Tento resistir e voltar para os braços de Ethan... Uma luta perdida, já que meu pai quase me carrega carro adentro.

O caminho inteiro é uma cachoeira de resmungos de Kendra e Arthur acalmando-a. Como? Como ele me atacou? Eu estava com o livro. 

- O que você fez com aquela pessoa? - murmuro confusa.

- Coloquei fogo na capa dele e depois superaqueci seu corpo até desacorda-lo.

- O livro estava comigo... Por quê?

- Livro? Que livro? - não respondo.

- Eu preciso voltar. 

- Não, Aura. Você vai para casa.

- E se ele atacar as pessoas?

- Malebruxos não atacam humanos.

- Eles são humanos. - enfatizo meu argumento e meu medo.

- Não é assim que funciona. Eles estão atrás de seres místicos. Por favor, não torne isso mais difícil.

Até abro a boca para debater com os dois, mas estou em desvantagem. Além disso, eles sabem mais da Dimensão Feérica que eu. Tudo que eu jogar na mesa, a dupla pode refutar com fatos desconhecidos por mim. 

Asas do outono (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora