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"Os próprios justos possuirão a terra. E residirão sobre ela para todo o sempre"

05 de Julho de 2014

Naquela manhã de sábado acordei extremamente cansado e sem ânimo, talvez a ausência de ânimo estivesse extinta pelas cinco doses de Tequila que tomei com amigos em um barzinho na Vila Madalena em São Paulo, nosso ponto de encontro. Onde por mais de horas comemoramos a vitória do Brasil que passara de fase na Copa do Mundo de 2014. Sim, minha querida seleção agora estava disputando as semifinais da maior festa futebolista do mundo, e ainda por cima no meu Brasil.

Era exatamente dez horas da manhã e ao menos tinha me levantado da cama, minha cabeça insistia em atordoar meus sentidos, nunca mais beberei. Está frase minha consciência gritava em toda manhã de ressaca. Levantei encostando as solas dos pés no piso gelado de meu quarto ainda cambaleando de sono, andei ate o banheiro. Olhei-me ao espelho como sempre fazia, meus cabelos rebeldes e minhas olheiras estavam fora do normal devida à má noite que passei. Tomei uma ducha demorada, só assim todo aquele peso sairia de meu corpo. Me arrumei como era de costume para o trabalho e sai de casa.

Todo sábado saia de casa onze da manhã, teria que estar exatamente uma hora da tarde no trabalho. Como morava há duas horas de onde tirava meu sustento tinha que sair cedo. Nas ruas o que só podia ouvir de todos os lados era o jogo de ontem e o gol que o zagueiro da nossa seleção fizera, nesta hora já estava bêbado mal via o gol. Entrei no ônibus de meu bairro com o destino ao metro de Capão Redondo, o trajeto era rápido exatamente vinte minutos.

O céu estava escuro parecia que choveria, raios caiam sem parar. Estranho! A previsão do tempo apontara sol sem nuvens. Mas a prevenção vem sempre comigo, junto a minha mochila umguarda-chuva estava de plantão caso caíssem alguns pingos. Desci no meu destino final e percorri o mesmo trajeto de todos os dias, subi as escadas rolantes do metro Capão Redondo e encaminhei-me a estação em destino a Santo Amaro. A estação do Capão estava em seu normal, naquela hora da manhã havia diversas pessoas o fluxo era grande naquela parte do dia. Contava os minutos para chegar a Santo Amaro onde pegava o trem vazio ao meu último destino Presidente Altino onde se encontrava meu trabalho.

O metro era rápido, em alguns minutos já estava à margem do Rio Tietê, o enorme rio negro de pura poluição que deixava um opaco exuberante na grande metrópole. Entrei no trem com destino a Presidente Altino, último vagão o meu preferido, sempre viajei no último, talvez uma mania, não sei explicar. No vagão apenas cinco pessoas. Sentei em um banco único que estava ao fundo do vagão e reparei nas cinco pessoas que estavam junto comigo. Era como se fosse um ritual só meu, sentava todos os dias no último banco do vagão e ficava ali imaginando o que aquelas pessoas faziam da vida

Na minha frente sentava um casal de velhos, a senhora de cabelos brancos curtos até os ombros, entrelaçava seus dedos finos e transparentes de tão brancos nas mãos fortes do velhote ao seu lado. O velho era calvo e usava óculos redondos que caiam na ponta de seu nariz.

No lado esquerdo do vagão uma menina de pele branca e cabelos castanhos claros, aparentava ter minha idade uns vinte anos. Usava um vestido que ia até seus joelhos. Lia um livro que não consegui visualizar a capa e sorria, lindo sorriso. Olhei mais afundo no vagão e do lado direito um rapaz de terno e gravata levava em mãos uma pasta de cor escura e falava alto em seu celular, parecia preocupado e nervoso com alguma coisa. Mas o que era o centro das atenções era um rapaz jovem de cabelos cor de palha, vestia dos pés a cabeça roupas pretas e escutava um Rock pesado em seus fones, tão alto dava-se para escutar em todo o lugar.

Livro I - Nuvens de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora