Capítulo 5

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Povo Sabina

Mesmo que Joalin não andasse merecendo meus cuidados, eu me preocupo com ela, me acordei cedinho, liguei para a senhora Antônia ir trabalhar para fazer algo pra Joalin se alimentar, senão ela passa o dia todo com fome ou vai comer algo congelado.

Ontem ela me ligou algumas vezes, eu realmente não queria atender, achei melhor desligar meu celular.

Quando estava terminando de tomar café da manhã, por volta das 8:00 da manhã, meu celular tocou. Imaginei ser Joalin, já estava pronta para ignorar, mas dessa vez era Sina, atendi rapidamente.

— Sabina Hidalgo, pode por obséquio vir a me buscar no aeroporto?

Passei o guardanapo rapidamente na minha boca e me levantei da mesa.

— Sina que brincadeira é essa? Não me diga que está no Brasil! E quando aprendeu a falar português tão bonito?

— Acabei de chegar. Minha nossa, eu não me lembrava que o Rio é tão quente. Sim, andei estudando português para impressionar as meninas.

— Você é maluca. – Não evitei sorri.

— Vem logo Sabina, tem muita mulher passando me encarando, tô com medo.

— Medo de mulher?

— Sou muito fraca quando se trata de mulher, podem acabar levando meu coração.

Eu ri, e já fui pegando as chaves do meu carro.

— Chego já sua maluca.

Desliguei a ligação, fui na cozinha avisar minha mãe e peguei Bernard.

— A titia chegou? – Bernard falava animado enquanto eu colocava ele na cadeirinha.

— Está com saudade dela?

— Muita mamãe, a titia sempre me dá um montão de brinquedos.

— Você é um interesseiro sabia? – Sorri e deixei um beijinho no cabelo dele.

Dirigi calmamente pelas ruas, quando eu estou com meu filho no carro, sempre dirijo com ainda mais atenção. Não demorei a estacionar o carro no aeroporto, desci e tirei Bernard.

Ele segurava minha mão e andava quase correndo me puxando.

— Filho vai devagar, a mamãe não tá conseguindo te acompanhar.

— Mamãe eu quero ver a titia. – Ele falava animado.

— Filho ela não vai fugir.

— Eu sei mamãe, só anda mais rápido um pouquinho.

Ele continuou me arrastando. 

— TITIAAAAAAAA...

Ouvi um grito feminino, logo percebi de quem tinha gritado, quando uma loira maluca correu em minha direção com os braços abertos. Sina abandonou as malas pra trás e saiu correndo.

Quando Bernard percebeu, soltou minha mão e saiu ao encontro dela. Logo os dois estavam girando.

Sina passou ao menos uns três minutos agarrada a Bernard, não largou ele nem ao menos pra falar comigo. Me abraçou com Bernard grudado nela.

Eu mesma fui pegar as malas dela, já que ela não podia largar meu filho pra nada.

Saímos do aeroporto, joguei as malas dela no porta-malas e fui pro lado do motorista, Sina sentou no banco do carona e sim, Bernard sentou no colo dela, vai ser linda a multa que vou pegar se a polícia de trânsito me parar com uma criança fora da cadeirinha.

Passei no apartamento de Sina, que é de frente a minha casa, vi o carro de Joalin parado em frente a casa, mas resisti a vontade de ir falar com ela e ver se tá tudo bem.

Deixamos as malas no apartamento, Sina nunca quer ficar na minha casa, porque fala que vai atrapalhar eu e Joalin, e também porque quer privacidade pra levar garotas pra dormir com ela, então ela tem um apartamento que fica sempre que vem.

— Vamos pra casa? – Bernard falou olhando pra nossa casa. Sina me jogou um olhar querendo entender a situação.

— Depois eu te explico, mas eu tô passando o fim de semana na casa dos meus pais. Vamos pra lá.

— Melhor me explicar depois mesmo, não quero ir quebrar a cara dela agora.

Puxei uma longa respiração e voltei pra direção.

O caminho pra casa dos meus pais estava sendo feito em silêncio da minha parte, Sina tava sempre falando com Bernard.

— Titia sabia que eu não sou mais uma sementinha? – Bernard falou no meio da conversa deles.

— Bernard tá com isso agora Sina, falou que logo ele mesmo vai ter uma sementinha.

Sina começou a rir e a beijar o rosto de Bernard.

— Você não vai matar titia de ciúmes tão cedo, só vai namorar com 30 anos, e eu vou ter que conhecer a pessoa, aprovar, quando casar você pode beijar na boca.

Bernard fez uma cara de paisagem sem entender nada e eu comecei a rir. Sina é uma figura.

— Sina, eu quero ser vó.

— Problema seu Sabina, arruma outro filho, não esse.

Fui encostado o carro no jardim dos meus pais, Bernard logo saiu correndo, gritando que Sina havia chegado.

— O que aconteceu?

Sina falou e meus olhos já encheram de lágrimas. Ela me puxou pra um abraço, eu fiquei agarrada a ela no meio do nada.

— Vamos entrar...

Sina foi andando ainda agarrada a mim. A soltei apenas quando entramos, ela foi falar com meus pais, e pediu pra ir tomar banho.

Eu subi com ela até meu quarto, a entreguei uma roupa e fiquei esperando ela sair. O que não demorou muito.

Sina voltou com uma calça moletom preta, e uma camisa folgada, secando o cabelo na própria toalha.

Ela veio até a cama e se sentou de frente pra mim, segurando minha mão e fazendo carinho com os polegares.

— Está desgastada. – Ela falou olhando nos meus olhos.

— Sexta fizemos 7 anos de casamento, ela acordou super carinhosa, tratou Bernard bem, e me prometeu que viria jantar comigo, sai cedo da empresa, fiz jantar pra gente, queria realmente conversar e chegar a algum lugar.

Eu parei de falar, minha voz morreu.

— Ela não voltou. – Sina concluiu.

— Ela prometeu Sina.

Me levantei da cama e fiquei andando no quarto procurando minha própria calmaria.

— Não da pra continuar assim Sabina, você não pode ficar adiando isso por medo de perde-la, você tá sufocada, pede um tempo, sei la, mas não continue em algo que está te fazendo mal.

Sina me aconselhava enquanto meu mundo ia se quebrando por dentro.

Eu lembro da nossa vida antes dela ter essa maldita boate, era tão incrível, vivíamos no nosso mundo azul, Bernard era nosso mundo, nos três juntos e felizes, e agora parece que tudo está desmoronando. Mas ao menos eu tenho meu filho, e ele que me mantém viva e lúcida.

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