Perdido em Si

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"Está próximo do décimo oitavo ano que estou perambulando, perdido neste imenso palácio.

[...]

Como uma criança ingênua, continuo explorando, cheio de vagas certezas, ansiando pelo que descobrirei ao dobrar o próximo corredor [...]. A cada dia, menos sei e mais perdido fico. Cheguei a fazer marcações para não me perder pelo caminho — mesmo ciente de que isso nunca funcionará comigo.

[...]

Existem corredores e salas que só entrei uma vez. Andares tão profundos que, assumo, não tenho certeza se deveria atrever-me a adentrar [...]. Olhei pela fechadura; não estou pronto para o que está lá dentro [...]. E é engraçado como as coisas funcionam aqui: alguns corredores desaparecem na minha frente; portas e janelas fecham-se sem que eu intervenha para fazê-lo [...]. De vez em quando, há uma calmaria um tanto agoniante. E, por fim, há vezes em que o chão que piso desmorona, levando-me junto.

[...]

Talvez seja eu que tenha acostumado-me com tudo isso, ou o destino que foi cruel o suficente para me fazer desacreditar que deixaria de sentir-se sozinho aqui dentro. Mas a cada dia que passa, afinca mais a sensação de que a única companhia que mereço — e preciso — sou eu. Inclusive, já foram tantas versões que sinto-me confortável em continuar perdido. Afinal, sei que os outros estão orgulhosos de quem me tornei, [...] muito mais do que aquilo que jurava que fui. Espero encontrar-me algum dia, portanto, nunca foi tão divertido estar perdido no palácio da minha mente."

[sem título]Onde histórias criam vida. Descubra agora