XIX

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– Por enquanto, só me deixe sozinha. – afirmou a loira no momento que o moreno estava parado em sua porta. Não, não era um momento para estar com algum homem que lhe fizesse sentir prazer. Era para se preocupar sobre onde ela estava, cadê a criança? Pode ter sido sequestrada por qualquer um que quisesse sua morte… Ruki não seria seu alívio instantâneo.

– Como quiser – prosseguiu a assentir com a cabeça e girou a maçaneta – descanse.

Não demorou segundos e ela estava sozinha no quarto outra vez, com a cabeça a mil e imaginando o paradeiro da menor. Preferiu remexer na mochila que estava, aquela de couro marrom, procurando novamente o mapa central de toda a extensão terrena da cidade que os Sakamakis moravam, e não tão distância daquela horrenda mansão, Yui teve sua filha.

A antiga casa de Saori não ficava distante das mansão, porém escondida o suficiente para ninguém a encontrar.

Puxou o papel velho e manchado de café. Olhou fixamente cada cantinho dobrado do mesmo e encontrou o local de sua casa, aquele mesmo que a bruxa afirmou estar pintado por um borrão vermelho, sem caminho, apenas uma tinta caída ali sem intenção alguma.

– Aí está você.

"Se Ritcher estiver certo, começou aqui." Pensou a loira ainda paralisada nos desenhos mal feitos de cada lugar. Era estranho.

Quatro anos atrás Saori não tinha contato algum com os Sakamakis, e misteriosamente após alguns meses ela tinha noção completa de onde os tais moravam.

Balançou a cabeça e se recordou.

[...]

Tão escuro. Solitário. Não veio uma luz para sua morte, então no fim, estava no inferno. Deus não a aceitou?

O caixão era frio e úmido, devia ser culpa da terra molhada que foi jogada em cima. Pensou que acordaria naquela sala cheia de bonecas, como um dos espíritos que assombravam a casa. No entanto, lá estava ela, com uma sede extrema e com seus cortes cobertos com ataduras, a caustrofobia lhe atingiu como uma flecha e Komori já não conseguia mais pensar como estava ali.

– Socorro! – gritou. Berrou. Ficou rouca. Mas ninguém ouviu. O lugar fechado a deixou sem consciência e pensamentos centrais, apenas se remoendo de que deveria sair dali o mais rápido possível – Socorro! Reiji! Ayato! Por favor me tirem daqui!

Socou tanto a madeira, que fez algumas farpas ficarem presas em sua mão, chutou também, e joelhos logo estavam ralados e roxos, doeu de início, e durante cinco minutos constantes a esmagar aquele caixão gelado, a loira conseguiu se deslocar e quebrar a parte da frente.

Nem ao mais se ligou quando atravessou seu murro na frente. Não percebeu a demasiadamente força ou que seus punhos não sangravam.

A terra com minhocas caiu sobre seu corpo, algumas larvas andavam sobre sua roupa. Se debateu de nojo, quase que vomitando da situação.

– Socorro! Laito! Kanato! – continuou, mas era impossível alguém de luto conseguir escutar outra coisa além da dor e arrependimento. Empurrou de uma vez a madeira e a terra caiu também sobre a face, seu braço sangrou quando a madeira arranhou-o, porém não iria desistir. Aquilo era realmente um pesadelo, e mesmo que gritasse seus nomes, ela esperava que quando saísse dali, nenhum deles estivessem lá.

Empurrou um pouco de terra barrosa, viu no fim um espaço fino com pouca luz. "Claro! A lua!" Pensou esperançosa, Yui queria correr mais rápido possível.

E finalmente estava fora do caixão. Sentada no chão, a moça tremia seus lábios, cuspindo terra em seguida. Olhou a sua volta e enxergou várias lápides com nomes dos membros Sakamakis, o que ela estava fazendo no cemitério familiar deles? Não a transformaram numa boneca? Por quê?

Bendita Seja a DorOnde histórias criam vida. Descubra agora