XVIII

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A noite chegava, e sua única preocupação era saber o paradeiro da filha. Era uma criança sem amparo, tinha um dom magnífico, desconhecido por qualquer um que imaginasse seu poder, única e claramente forte. Ela era a chave de todos que pediam um pouco de poder, a única fraqueza era a dor e melancolia que guardava em seu coração, a depressão e ansiedade se alastraram aos poucos e isso rendeu anos de terapia mal terminadas... Mas não estávamos mais falando sobre Chieko.

[...]

– Já sabe o sexo? – perguntou uma das mulheres encarando a barriga da moça com amor, seria ela a enfermeira que cuidaria de seu parto então era comum tal preocupação.

Ela engoliu seco, não queria saber, mas um largo sorriso se formou diante da face da morena. Respondeu sem pestanejar.

– É uma menina! – assentiu com a cabeça enquanto massageava a barriga de cinco meses, e tão magra que mal se pôde enxergar um bebê ali dentro, era impossível pensar que estava passando pela gravidez. Seu marido ao lado com as mãos nos bolsos, sorridente, e deixando claro o quão feliz estava pela criança que viria.

– Você já sabe o nome? – o homem negou diante a pergunta da outra a frente, e respondeu brincando que queria um garoto. Levou um tapinha da esposa e observou a chegada de um homem usando cadeira de rodas, aparentemente ele estava com uma das coxas sangrando demasiadamente para qualquer pessoa, engoliu seco repreendendo o enjôo por ver a cena dele baleado e com a boca manchada de sangue. Alguém deve-o ter batido muito forte, era muito sangue no canto.

A enfermeira conseguiu enxergar, por sua vez assentiu e respondeu com rapidez, já sabendo da situação a frente.

– Foi encontrado no meio da estrada, dizem que levou três tiros, mas a médica só encontrou um, e ainda há cicatrizes nos locais, é tudo muito estranho.

Um frio percorreu a espinha da grávida que tremeu os dedos quando sentiu um par de orbes pendurados em sua barriga. Ele a estava encarando, sussurrando em seguida, praticamente deixando seus olhos sobre a gravidez da mulher, pressentindo a criança que estava por vir, escolheu-a.

– Ele parece aqueles assassinos de filme. – afirmou um enfermeiro passando rapidamente ao lado deles e entendo subitamente tudo o que conversavam sobre o paciente que foi levado até um corredor detrás do que estavam.

A grávida franziu o cenho, e seu punho se fechou por segundos apenas para conseguir descrever a raiva que sentiu momentaneamente.

– Está tudo bem? – perguntou o homem encarando fixamente a esposa que fechava os olhos com força e segurava calmante a barriga da filha, seus pelos se arrepiaram e seus dentes rangeram involuntariamente. Ele a apertou pelo ombro, pegando para si o mal presságio.

Ela negou, pressentindo o ato. Toda mãe sente.

[...]

– Ei! Estou te chamando! – gritou o príncipe de forma incômoda a cerrar os dentes com raiva, odiava ser ignorado.

O homem que seguia sentado em sua cadeira de madeira ouviu-o e abaixou a cabeça em reverência. Seus pensamentos se alastraram e se jogou dentro dos mesmos, era perceptível o quão incomodado estava depois de ter acordado de seu sonho fixo. Um dos. Mas este era o melhor, o começo de toda uma revolta, Ritcher… Por que raios não destruiu o maldito coração? Seu plano número um deu errado, o segundo tem que acabar da forma que previu, e o terceiro… Este será ainda melhor.

Esteve preso naquele sonho irritante.

Claro, aquele era o menos importante, porém toda a balbúrdia dramática e causada por uma única mulher lhe fez atingir o ápice da nostalgia, tudo e todos comprometidos por uma causa. Não juntos, entretanto estavam envolvidos. Ainda mais seus sobrinhos.

Bendita Seja a DorOnde histórias criam vida. Descubra agora