Má companhia

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A manhã de Peter foi tranquila, tendo tudo sobre seu controle. A prova, no primeiro horário, foi feita confiante e rapidamente a ponto de ser o primeiro a entregá-la, mesmo depois de checar suas respostas duas ou três vezes. Em companhia da sua mochila pendurada no ombro e de sua câmera no pescoço, o jovem resolveu caminhar pela universidade à procura de um lugar calmo e confortável para aguardar a próxima aula.

Sentou-se num dos bancos próximos ao chafariz e colocou os fones de ouvido, escolhendo uma música qualquer no celular. Seus ombros pesaram quando ouviu o dedilhar aparentemente gentil da música, mas que soava tão triste aos seus ouvidos.

Sorriu tristonho, brincando com o foco da câmera sobre o chafariz rodeado de vida. As aves que utilizavam da água fresca para se banhar foram fotografadas por Peter que cantarolava melodicamente Give up de Low Roar:

— "Eu não vou acordar um homem rico algum dia, porque o sol não me segue"... — Peter mordeu os lábios pousando a câmera sobre suas pernas, fitando a natureza, apesar de não ter mais o foco sobre elas.

Sua situação financeira era algo preocupante... E desde que a Oscorp desandou com a morte de Norman Osborn e com a internação de Harry, não podia fazer qualquer estágio remunerado ou trabalho. Não o bastante, J. Jonah Jemeson não o via como fotógrafo fixo aos seus jornais, sendo contratado apenas para capturar fotos do Homem Aranha, não sendo uma quantia relevante. Pelo menos dava um pequeno auxílio para tia May... mas ainda assim, não era muito.

— "Eu não vou acordar sem uma canção para cantar, nada para alguns, tudo para mim." — o jovem continuou a murmurar a música, deixando seus pensamentos divagarem. 

Deveria arrumar algum emprego de meio período? Ah... mas seu turno universitário não abria muitas possibilidades. Fora que seu trampo de Homem Aranha era fixo, e apesar de não ganhar qualquer quantia com todo seu esforço, esse emprego era realmente necessário. Não só por salvar os cidadãos, salvar a pátria...

Ser o Homem Aranha salvava a si mesmo.

Desde que tio Ben morreu, ser o Espetacular Homem Aranha era sua responsabilidade; e a morte de Gwen apenas deu a Peter certeza disso. Ser o Homem Aranha era um motivo a mais para indicar que sua existência era necessária, que tinha alguma razão por trás dela, um motivo para viver. Mas era difícil. Peter não havia superado suas perdas, e lembrar de tudo o que aconteceu, como agora, fazia seu peito doer e seus olhos lacrimejarem.

Não pedia para superar, Peter sabia que isso era pedir demais... ele queria viver de um modo mais fácil.

Seria pedir demais ser o Homem Aranha sem que se lembrasse do dia em que foi incapaz de salvar Gwen? Aquela cena já havia passado tanto por sua cabeça que tinha decorado todas as circunstâncias daquela noite.

Peter fechou os olhos, balançando a cabeça para dispersar aqueles pensamentos. Sabia que se continuasse naquele rumo, não conseguiria agir como Aranha para o resto da semana. 

— "No meu pior, eu vou fazer o meu melhor para parecer como eu estou feliz." — continuou a cantar a música, ainda sentindo seus olhos úmidos.

— "Eu cresci mudo, seco como meus dutos lacrimais. Eu cresci mudo e vazio." — fechou os olhos e levantou a cabeça, respirando fundo para controlar aquela dor que começava a sufocá-lo.

— "Mas não desista de mim—" — Peter foi interrompido de continuar a curtir sua tristeza quando sentiu seu sentido aranha explodir, deixando todos os seus pelos em pé.

Levantou-se, com os olhos esbugalhados, e retirou os fones rapidamente enquanto desligava a câmera. Olhou à sua volta, vendo alguns companheiros de classe e algumas pessoas desconhecidas andando e conversando normalmente pelo local, o que lhe confirmou ser alguma coisa que estava acontecendo fora da sua universidade.

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