Capítulo 39

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                                                                                          Mariana

                       (Prisão perpétua é a morte , você é a parte boa que sobrou de mim...) 

   Um vento forte sopra na janela , parece que vai chover. Será que a chuva são as lágrimas das pessoas que já se foram? Lágrimas de saudade? Olho para a pasta em minhas mãos como tenho feito nesses últimos sessenta dias. Sim já se passaram dois meses desde que acordei naquele hospital,que meu mundo virou do avesso, não só  o meu infelizmente. Nunca entendi bem aquela frase , 'o tempo cura tudo', até agora.É claro que não estou curada do que aconteceu. As cenas daquele dia nunca vai sair da minha cabeça, todo medo e pavor que sentir, o desespero acho que isso vai ficar para sempre dentro de mim. Depois descobrir a situação de Carlos e a morte de Vanessa. Porem hoje consigo falar  sem chorar, sem sentir que estou sufocando. Por isso tomei a decisão de abrir essa pasta hoje, pois ontem consegui contar tudo que aconteceu sem lágrimas , minha psicóloga disse que é um grande avanço e eu também achei isso. Diogo queria ficar comigo , mas na verdade preciso fazer isso sozinha. Fora que não estou realmente sozinha já que meu neném me chuta o tempo todo. Acaricio minha barriga que já parece uma melancia e começo abrir a pasta. Primeiro há coisas do seguro de vida e propriedades que nunca ouvir falar, dados bancários de Vanessa e um monte de coisa que eu precisaria de um advogado para entender e finalmente chegamos a uma carta a mão. 

 ''Mariana, estou lhe escrevendo essa carta, pois nunca teria coragem de lhe dizer pessoalmente tudo que descobri sobre Vanessa. Sei que você merecia mais, porem não consigo, sou fraca, sempre fui. Quando você foi embora de casa que me dei conta que algo estava errado com sua mãe, me sinto tão burra por não ter percebido isso antes. Ela nunca quis uma filha e sim um objeto para  moldar do jeito dela, e quando  perdeu o controle sobre você ela enlouqueceu. Passava noite acordada, trabalhando ou chorando, no começo fiquei tão triste com você por está fazendo alguém que te amava tanto sofrer, foi quando falei isso para ela,e nossa relação melhorou muito, com apenas essas palavras. Daí ela não se aguentando mais começou a desabafar, e tudo começou a fazer sentido, não era amor e sim posse, era a falta do poder. Vanessa não sentia falta das suas risadas, ou da sua presença e sim de controle. Fiquei sem chão ao me dar conta disso e tentei conversar, leva-la a uma palestra sobre mães narcisista. Acabou que ela bebeu de mais, brigamos e escapou no momento da discussão, o quão caro havia custado para ela ter você, pois até com um homem ela teve que sair. Achei que fosse mentira, coisa da bebida, porem aquilo não saia da minha cabeça. Então resolvi investigar, e descobri, demorou muito, pois como você sabe sua mãe era super organizada. Fui juntando peças e coisas aleatórias que não eram tão aleatórias assim já que me levaram ao seu pai. Quero que você leia tudo que tem aí, e que me perdoe por não ter te contado antes, por te fugido. Sinto muito. Hoje ele é um homem livre, pagou por algo que não fez, por culpa de Vanessa, não quero aumentar mais ainda seu ódio, porem isso precisa ser dito. Sinto muito querida. Nunca se culpe pelo que aconteceu, você não tem culpa, ninguém tem apenas ela. 

                                                                                                                                          Ana Ferreira'' 

  Estou chorando antes mesmo que perceba, não é possível que ela fez isso,não! Leio os artigos da prisão do meu pai, e ele foi condenado pois assinou um papel feito por ela se declarando culpado. Sendo que as provas de sua inocência estavam ali e ela nunca usou. A Ultima folha é uma foto dele, com o endereço e telefone.Um homem negro de uns cinquenta anos está vendendo pastel na feira e sorrindo para os clientes. Não pode ser, as lembranças das nossas conversas invadem minha mente, a primeira festa do dia dos pais que chorei muito e ela me contou como eu nasci, no dia não entendi muito bem mas  depois o orgulho que sentia dela, pela sua coragem em enfrentar os pais e o mundo para engravidar, sozinha, sem o apoio de ninguém, não é possível, não não .Saio do quarto meu peito doí e sei que vou vomitar preciso falar com alguém,  vou direto para o de Carlos, sei que Diogo vai tá lá.

 - Amor leia isso, eu não acredito, leia.

 - Calma Mariana, calma.- ele me abraça e pega os papeis da minha mão, Carlos  empurra sua cadeira até nós e começa a ler também.

 - Mariana isso não é possível, sua mãe é uma maluca. Ela acaba com a vida de qualquer pessoa que chegue perto dela. - Carlos diz alterado , ela acabou com a vida dele também, por causa dela ele tá nessa cadeira.

- Me perdoa Carlos, eu eu...- não consigo nem falar, o desespero me invade, parece que estou ficando sem ar, minhas mãos soam.

- Calma Mariana, a culpa não é sua, já te disse isso. - Carlos segura minha mão ao ver meu estado.

-Amor você precisa se acalmar, olha o bebê. Respira fundo. Isso mesmo , um pouco mais , do jeito que a doutora falou- começo a fazer meu exercício de respiração, e começo a me acalmar, porem eu preciso de pedir perdão para ele, só assim vou consegui ficar em paz, por minha causa ele foi preso, se não fosse a obsessão dela em me ter isso, droga...

- Eu quero vê-lo Diogo. 

 - Sim vamos procura-lo e..

- Não Diogo, eu quero vê-lo agora. - ele tenta argumentar mas estou irredutível, por fim vamos. Dona Iolanda e Carlos nos acompanham e meu coração parece que vai sair pela boca quando chegamos a pequena feira.

 - Amor você tem certeza disso ?É tudo recente e novo 

 - Pai deixa ela, é claro que ela tem.

- Tenho Diogo e obrigado Carlos.

- Estamos aqui por você querida. - sorrio para a dona Iolanda. Apesar de toda tragédia estamos mais unidos do que nunca. Caminhamos devagar pelo local , que pelo jeito não é feira e sim barracas de camelô. Não que seja algo ruim ser camelô, porem será que ele está aqui por não consegui outro emprego, por ser  ex presidiário?  E depois de andarmos uma boa distancia, lá está ele, os cabelos negros grisalhos, magro, alto e nossa semelhança é clara como água.

- Bom dia gente, vão querer o que ? Tem de carne, frango queijo e pizza.O de bacalhau acabou.


Quando o amor aconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora