Assassinato e Livros

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Seu peito subia e descia com movimentos tranquilos, sua respiração estava tão calma quanto sua face que transmitia uma sensação de paz e aconchego. Percebo que ainda estamos despidos, me despertei mas Noah permanece em um sono profundo.

Nem acredito que chegamos até o fim, a última coisa que imaginei quando o encontrei pela primeira vez é que fossemos chegar a tal ponto ou que fossemos desenvolver alguma amizade. Por ora, é melhor eu me vestir. Minhas costas doem. Encontrei minha roupa amassada jogada no meio de seu quarto, vesti meu corpo despido e sai.

Quando abro a porta dou de cara com duas viaturas da policia local estacionada. Ah não! Será que aconteceu algo com a minha tia? Estava tudo indo muito bem pra não ter algo ruim pra estragar, corri em direção a casa.

- Raissa! Aonde está a minha tia? RAÍSSA!

Os policiais me encaravam com expressões confusas, peguei um pelo colarinho do uniforme e o chacoalhei.

- O QUE ACONTECEU COM A MINHA TIA!

- Você é o Kaique? - Ele disse se soltando das minhas mãos.

- Sim, sou eu.

- Sinto muito em lhe informar mas sua tia foi assassinada esta manhã.

O mundo pareceu rodar ao meu redor, minhas pernas perderam as forças e caí no chão.

- Não... nã... pode ser.

- Quem é esse garoto Arthur?

- Kaique, sobrinho da vítima.

- QUEM MATOU A MINHA TIA!!!

O policial, o que deve ser chamar Arthur, pegou na gola da minha camiseta e me puxou para a altura do seu olhar.

- Seu idiota! - Ele disse dando um tapa na minha cabeça. - Ninguém matou sua tia seu imbecil, estamos aqui por causa do seu sumiço, seu babaca. Mas pelo visto ninguém te sequestrou, você só é um retardado que vai matar a aula e deixa a bolsa como prova.

- O que? Então ela ta viva?

- Não acredito Arthur, que brincadeira de mau gosto - Disse o outro policial rindo da minha cara - Sua tia está na casa conversando com nosso colega sobre os suspeitos do seu sequestro, faça o favor de ir lá esclarecer que foi você que se sequestrou e poupe nosso dia.

Entrei na casa e dei de cara com mais dois policiais e minha tia aos prantos na mesa da cozinha.

- Eaí.

Minha tia olhou pra trás surpresa e correu em minha direção me envolvendo em um longo abraço.

- Kazinho... - Soluço - Você - Soluço - Está vivo.

- Desculpa tia pelo susto, eu matei aula, esqueci a bolsa na classe.

Ela me soltou e me socou.

- SEU I-DIOTA! VOCÊ NÃO SABE O QUANTO ME PREOCUPOU SEU IRRESPONSÁVEL! DA PRÓXIMA VEZ AVISA QUE MATOU AULA E LEVE A BOLSA JUNTO! SEU NOVO PROFESSOR DE FÍSICA FICOU HISTÉRICO ACREDITANDO QUE UM ALUNO FOI MORTO NO SEU PRIMEIRO DIA DE TRABALHO!

- Desculpa tia.

- Até parece que essa palavra resolve alguma coisa.

- Com licença minha senhora, mas se o menino já foi encontrado estamos de saída.

- Desculpa policial, meu sobrinho é um idiota.

- Sim, ele é. Com licença, se precisar só chamar.

- Obrigada, e desculpa por tudo.

- Se você passar seu número podemos pensar no seu pedido - Disse o outro policial mais discreto para a minha tia.

- Policial Felipe! Tenha compostura! Vamos!

E assim todos os policiais sumiram do meu quintal, com forma de agradecimento dei o dedo para o Arthur que saiu dando tchauzinho.

- Ele era bonitinho, podia ter dado seu número para desencalhar.

- Você por acaso deu pro ruivinho?

- Dei pro Noah.

- Que?

- Que?

- Deu o que pro Noah?

- Que Noah?

- Ai garoto, vai pro quarto que você está de castigo, aproveita e dá aqui teu celular.

- Que?

- Chega de "Que" garoto! Você não tem moral pra falar nada.

Entreguei meu celular e garanti um mês sem poder sair de casa, exceto ir pro colégio.

Entrei no meu quarto e dei de cara com um monte de livros jogados no chão, livros que inclusive nem são meus. Outro entrou voando pela janela e acertou meu olho esquerdo, fui enfurecido pra janela.

- Mas que porra!

- Nossa teu olho esquerdo está vermelho, tua tia te bateu?

- Foi seu livro! Inclusive que merda é essa?

- Eu acordei e você tinha sumido, quando fui pra fora de casa tinha policias na frente da sua e quando fui perguntar o que aconteceu pra um ruivo ele simplesmente respondeu "Some e cuida da sua vida!", eu te chamei e nem sinal, e como eu não tenho pedrinhas como nos filminhos românticos usei o que estava mais perto.

- Seria trágico e sem graça eu ter morrido por causa de um livro de H.P. Lovecraft.

- Mas e aqueles policiais todos ai?

- Minha tia achou que fui sequestrado, agora tenho um mês de confinamento sem celular.

- Ah, verdade! Me passa seu número?

- Pra que?

- Pra eu não precisar usar meu amados livros!

- Não escutou a parte que estou sem celular?

- Poupe meu tempo com esse mimimi e diga logo.

- Não.

Fechei a cortina e resolvi guardar os livros jogados no chão para mim, tinha alguns que pareciam muito bons!

Dessa vez recebi um sapato na cabeça.

- Qual seu problema?

- Meu problema é que não tenho seu número!

- Pra que? Ele vai estar inativo

- Pra eu poder me masturbar olhando pra sua foto de perfil, é claro, pra que mais seria?

- Você é ridículo!

- Foi esse ridículo aqui que fez você g.....

Aprendi a lição e fechei a janela dessa vez.

Lobo 359Onde histórias criam vida. Descubra agora