No Antigo País, fazia parte da vida normal do Rei, oferecer audiências aos súditos, decidir as contendas desde propriedades e petições entre os nobres, passando por homicídios e outros crimes.
Quando Wrath se recusou a subir ao trono por uns dois séculos, a prática caiu em desuso. De alguma forma, tudo tinha mudado nos últimos tempos e a tradição voltou a ser seguida.
As audiências eram conduzidas na mansão onde Darius morava antes de ser morto pelo inimigo. E assim, diversos membros da raça vinham ver o Rei Cego a procura de conselhos, decretos e bençãos.
E a lista daquele dia estava cheia. Harry até pensou em abrir novamente as portas duplas para deixar o casal de vampiros saindo com o recém-nascido passar.
Era um casal plebeu, com roupas limpas mas simples. O pequeno milagre deles envolto em uma coberta modesta.
Normalmente, Harry teria apenas acenado com a cabeça ao saírem, mas olhou para aquela família e até mesmo se apressou em acompanhá-los até a saída, abrindo a porta pesada.
__ Cuide bem deles, - disse ao macho.
O cara pareceu confuso porque um Irmão se dirigia a ele e quando gaguejou, Harry apoiou a mão no ombro do vampiro, como se tentasse acalmá-lo.
__ Sei que fará isso.
__ Sim, meu senhor. - disse se curvando - darei a minha vida por eles.
Harry sorriu para a fêmea e para o bebê, com o cuidado de não tocar nenhum dos dois. Fazê-lo seria uma quebra de protocolo.
Mesmo estando no topo da cadeia alimentar da sociedade e, por isso mesmo, recebendo todo tipo de demonstração de honra e respeito, teria sido inconcebível no Antigo País, que um recém-nascido e sua mãe tivessem contato com um macho, mesmo em um ambiente formal, durante o primeiro ano de vida do bebê.
O interessante é que, desde que as audiências foram retomadas, Harry e os Irmãos voltaram a seguir os hábitos antigos. Parecia ser o mais correto.
Ainda mais nesse caso e naquele momento da vida, em que Harry sabia em primeira mão o que significa ser pai.
Por muitos motivos, Harry preferia estar em campo, ou dando um boa lição nos trainees, mas como nunca ficava 100% depois que a besta aparecia, era melhor que fizesse um pouco de trabalho burocrático naquele momento.
Todo Irmão precisava cumprir um turno ali, atendendo a tarefa de segurança pessoal de Wrath. Considerando-se humanos, redutores e membros da glymera ligados ao Bando de Bastardos, não arriscam com a vida do Rei.
Sempre havia dois dos Irmãos onde quer que o Rei estivesse. Nessa noite, eram Harry e Vishous, o que sempre acabava em diversão.
Em grande parte porque os dois podiam brincar de policial bom e policial mau. Ou seja, Vishous ficava ali sentado com seus olhos glaciais e cigarros enrolados a mão, fazendo os civis borrar as calças. Enquanto Harry era todo sorriso e cumprimentos gentis.
Uma rajada de vento frio entrou pelo átrio atrás dele e Harry se virou com um sorriso, para quem quer que fosse. Seu coração não chegou a parar, mas simplesmente morreu dentro do peito ao ver a pessoa.
O macho era jovem, saudável e musculoso. Não carregava armas evidentes, como se fosse um trabalhador manual em vez de algum tipo de lutador.
As roupas eram tão bem lavadas que os jeans caíam nos quadris como cortinas. E a jaqueta parecia leve demais para o frio de dezembro.
As botas de construção demonstravam uso contínuo. Nenhuma joia. Nada nas mãos. Não possuía qualquer cheiro estranho.
Mas todas essas observações eram circunstanciais, se comparadas aquela que cravou um estaca bem no coração de Harry.
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Blood
Teen FictionA irmandade da Adaga Negra, continua a treinar o melhor dos melhores, para se juntar a eles na batalha mortal contra a Sociedade Lesser. Entre os novos recrutas, Liam se revela um lutador astuto e vicioso. E também solitário por causa de sua tragédi...