Lance poderia viver um clichê.
Claro, isso se a garota que ele gosta gostasse dele de volta, se o melhor amigo dele ainda morasse na casa ao lado e se seus pais continuassem casados. Mas se havia um pouco de clichê em sua vida, ele devia aos bilhet...
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— Lance? McClain? Ser mais gostoso do universo? Alô?
Lance bufou, agarrou a almofada com mais força e afundou o rosto nela. A voz de Lotor vinha alta em seus ouvidos e aquilo fez com que suas sobrancelhas se franzissem em frustração — devia ser o quê? Sete da manhã de um domingo e já tinham mexido em suas coisas?
Já tinha dito a Rachel um milhão de vezes para não atender quando Lotor ligasse, os dois tinham uma amizade tão grande quanto o próprio Lance tinha com Lotor, e a última coisa que ele queria era que o amigo contasse para a irmã todas as coisas constrangedoras que ele havia feito na vida — e que não eram poucas, ele se via obrigado a admitir.
— Eu vou colocar sal no suco da Rachel 'pra ela aprender a não mexer nas minhas coisas. — Lance resmungou irritado, Lotor riu.
— Lance, abre os olhos.
E Lance o fez, erguendo a cabeça, coçando os olhos com uma mão enquanto a outra tateava em busca do celular que deveria estar perto do braço do sofá, mas tudo que seus dedos encontraram foi o que pareceu ser a ponta de um nariz.
Ele realmente abriu os olhos daquela vez, viu o corpo alto comparado ao seu sentado de pernas cruzadas no chão, viu o cabelo longo e platinado caindo como cascata pelos ombros, viu as íris violetas o encarando divertidas e carinhosas.
Em palavras mais simples, ele viu Lotor.
E aquilo foi o suficiente para que Lance jogasse os cobertores e travesseiros para o lado e se atirasse em cima dele, o derrubando no chão, o fazendo resmungar e rir ao mesmo tempo. A risada alta e até mesmo escandalosa que só fez Lance o agarrar mais forte e lembrar de todas as vezes em que ele teve que jogar travesseiros em Lotor para ele parar de rir depois de se enroscar na cortina praticamente todas as vezes em que ele "invadiu" seu quarto pela janela no meio da noite.
Lotor sempre havia sido daquele jeito, ele não conseguia simplesmente esperar o dia seguinte para contar ou mostrar para Lance as coisas que ele descobria. Como as conchas que ele trazia sempre que ia para a praia, ou algum site com uma teoria maluca sobre Pokémon, ou na época em que ele leu Harry Potter depois de Lance e aparecia todos os dias, sem exceção, em seu quarto apenas para surtar com ele por coisas que o próprio Lance já havia surtado.
A verdade era que Lotor gostava que o amigo fizesse parte de cada momento da vida dele, e Lance se sentia grato.
Por isso havia sido tão estranho quando na mesma noite em que Lotor e a família se mudaram de Altea para Daibazaal, ele não achou o amigo deitado em sua cama com as pernas para cima.
Continuou a ser estranho quando ele não pode invadir o quarto dele quando seus pais se divorciaram para o dar os melhores abraços consoladores do mundo.
E depois de alguns anos, continuava a ser estranho.
Mas era Lotor, ele de algum jeito misterioso sempre aparecia do nada, como se houvesse aprendido a se teletransportar e não tivesse contado a Lance como.
