Capítulo 1: Olhos Laranjas.

15.3K 1.2K 1.6K
                                    

O frio da madrugada entreva pela a janela e deixava o quarto completamente gelado. Mesmo enrolado em duas cobertas, podia sentir a temperatura baixa lhe recochitiar e fazê-lo tremer embaixo delas. Abriu os olhos por alguns segundos e levantou-se da cama observando o lado de fora da janela. Não estava afim de andar e pisar no chão tão frio, mas mesmo assim o fez, precisava fechar a janela, mas por algum motivo sentia que não deveria fazer tal coisa. Andou até as madeiras frias da janela, e as tocou com calma, começando a fechá-las. No entanto, algo lhe chamou a atenção no meio da escuridão, dois olhos laranjas flamejantes o encaravam com certa intensidade, enquanto andava em direção a sua pequena casa.

Era um grande lobo, mas não dava para saber qual era a cor da pelagem do mesmo, porque estava escuro demais. Jimin sentia um arrepio estranho no começo de seu espinhaço, que subia até seus cabelos ruivos, o deixando um pouco assustado. Era incomum ver um lobo por ali. Todos daquela região não eram puros, e sim mestiços. Metade humano e metade lobo. Os puros viviam no norte, bem longe dos mestiços - considerados inúteis para a sociedade. Tinham classificação comum de alfa, beta e ômega, assim como os puros, tinham também seus cios, mas o que diferenciava era na força, velocidade e todos os outros quatro sentidos, e claro, a capacidade de se transformar num grande lobo. O Park segurou firme as madeiras da janela, quando viu o animal sair do meio do mato e se transformar na forma humana, ainda com os olhos da mesma cor.

Não podia indentificar seu rosto, mas o cheiro marcante que vinha junto ao vento, era gratificante ao seu olfato. Tombou a cabeça de lado e continuou a observar o lobo, que agora estava na forma de um belo homem, não conseguia indentificar sua nudez mas podia ver o formato de seu esbelto corpo. Era algo técnicamente estranho se sentir atraído por aquele ser desconhecido, se perguntava internamente o que ele estava fazendo ali, tão próximo a sua casa, onde morava com os tios. Podia notar o movimentar das cabeleiras do homem. Não sabia dizer se ele era alfa, beta ou ômega.

Não sabia muitas coisas sobre os puros, porque não havia estudado ou prestando muita atenção nas aulas sobre estes, já que não via nenhuma extrema importância em saber sobre eles. Sentia-se triste pelo o fato de ter que conviver separado dos puros, por estes se acharem superiores demais, era algo extremamente ridículo. Além do mais, todos eram lupinos, apesar das diferenças. Jimin só sabia sobre os mestiços. Olhos vermelhos eram dos alfas, os amarelos dos betas e os azuis dos ômegas - como o seus são. Agora, aquele laranja era um mistério para si. Viu o homem dá mais alguns passos, e pode perceber seus lábios levemente entre abertos, com uma leve expressão de seriedade enquanto encarava o Park. Ele sussurrou algo que o Jimin não conseguiu ouvir muito bem, mas pode entender os movimentos da boca do outro.

Mestiço. Foi a palavra dita pelo lobo, antes dele se transformar e sai correndo pela a mata sem mais nem menos. O Park se estremeceu por inteiro ao ouvir o uivo alto estremecedor do lobo, mas algo lhe dizia que aquele uivo não pertencia ao ser de olhos laranjas. Então apenas suspirou e fechou a janela de seu quarto. Caminhou até sua cama e sentou-se sobre a mesma, pegando seu diário em cima da cômoda ao lado. Rastejou até a cabeceira e encostou as costas na mesma, colocando suas pequenas pernas debaixo da coberta. Abriu o seu diário e suspirou mais uma vez, sabia que não conseguiria dormir novamente, então apenas pegou seu frasco com tinta preta - que estava pela a metade - e sua pena branca de ponta fina, começando a escrever.

" 13 de outubro, quinta feira.

Hoje é meu aniversário. Felizmente completo os meus vinte anos de idade, e já sinto o cheirinho de liberdade. Desde que meus pais sumiram, quando eu tinha uns seis anos, passei a morar com os meus tios paternos. Eles não são pessoas ruins, mas sempre me "sufocaram" de certa forma, tentando fazer de mim um ômega perfeito. Eles sempre me treinaram para cozinhar, limpar, ter bons modos, ler e tocar instrumentos delicados, e também, não menos importante, dançar uma boa valsa. Nunca entendi para que tudo isso, eu me sentia sufocado por eles, nunca me deixavam brincar com os betas ou ômegas da nossa vizinhança. Me tratavam como se eu fosse de porcelana, e eu achava isso completamente ridículo, já que na terra dos mestiços, você tem que tentar sobreviver às coisas que acontecem pelo o simples fato de não termos o sangue puro correndo em nossas veias.

Prometido ao SupremoOnde histórias criam vida. Descubra agora