Entre Segredos e Suspeitas

15 | Meu fim? part.2

Separamos duas mochilas antes de sairmos em direção à cidade com nossas bicicletas. Não conversamos no caminho e não falamos uma com a outra quando chegamos aos trilhos antigos. Tive o cuidado para pararmos além das faixas da polícia que cobriam uma pequena parte dele e apesar de não ter nenhum policial por perto, eu sabia que não encontraria nada ali. Stacy e eu acompanhamos os trilhos em direção norte, estávamos a pé empurrando nossas bicicletas, atentas a qualquer coisa que estivesse no chão e pudesse ser usado como pista ou prova. Tinha na cabeça a história perfeita, encontrar algo de Liza, levar para polícia, verificar o DNA, encontrar o suspeito e trazê-la de volta. Pensava também na parte em que Brandon se declara para mim, mas mantinha essas cenas guardadas para não me distrair com elas.

Caminhamos até cercas que demarcavam a plantação dos Muller, olhei para minha amiga checando se ela também percebeu o quanto tínhamos andado. Do outro lado das cercas, a plantação de trigo estava crescendo na altura dos tornozelos, o que significava que em quatro meses estariam prontos para a colheita. Olhei pela extensão da plantação ao longe, era possível ver o primeiro andar da fazenda principal e do outro lado sabia que era a casa de Bryan Johnson, um casebre caindo aos pedaços.

– Tem certeza que quer continuar? – Stacy perguntou. Olhei para ela assentindo com a cabeça.

Deixamos as bicicletas junto à cerca ao passarmos pelo arame farpado, seguindo os trilhos. Enquanto caminhava, eu me concentrava em onde pisava e na plantação ao redor, tentando não deixar nada escapar. Sabia que estávamos à vista de qualquer pessoa que olhasse pela janela do casarão, mas não me preocupava. Eu sabia que poderia alegar que estávamos apenas caminhando pelos trilhos, apesar de estarmos em propriedade privada. Stacy caminhava em silêncio ao meu lado, e eu podia jurar que a via estremecer de vez em quando, mesmo com o sol quente sobre nossas cabeças. A brisa era agradável, mas não o suficiente para fazer alguém estremecer. Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos, estava me distraindo novamente, e não podia permitir que isso acontecesse, não naquele momento.

Estávamos nos aproximando do casebre de Bryan, tentei não olhar diretamente, com medo de que ele pudesse estar observando. Continuamos em frente, cada vez mais ao norte. Olhando de soslaio, pude ver que sua caminhonete não estava onde deveria estar, e a casa parecia deserta. Apesar do nervosismo que crescia dentro de mim, eu parei. Parei no meio dos trilhos, no meio do caminho, deixando Stacy seguir até perceber que eu havia ficado para trás. Olhei para a casa novamente e me permiti observá-la, buscando qualquer sinal de movimento nas janelas de vidro. O interior parecia tão escuro quanto à noite. Olhei ao redor e notei que não havia iluminação pública naquela área.

– Ken? – Stacy sussurrou ao se aproximar. – Não acho que a gente devesse fazer isso.

– Pode ficar aqui e avisar se alguém aparecer. – falei. Stacy me encarou por um minuto inteiro, mas eu não conseguia desviar o olhar da casa à procura de qualquer sinal de que encontraria Liza ali. – Tudo bem? – ela concordou com a cabeça me dando a segurança que eu precisava para correr até a casa.

Me escondi debaixo da janela que parecia ser dos fundos. A madeira cheirava ruim e parecia podre em vários locais naquela parte, como se estivesse mofada. Espiei pelo vidro observando o interior da pequena casa que dividia cozinha e sala de estar no mesmo espaço, havia uma porta entreaberta que suspeitei ser o quarto, o único quarto que parecia ter ali. Uma mesa estava no centro com um jarro de flores recém colhidas, a cozinha estava bagunçada com louça suja formando uma pequena pilha na pia, no sofá velho e surrado, um casaco jogado ali me fez tremer. Senti o suor deslizar pela minha testa, senti alguns pingos deslizando em minhas têmporas e apesar de estar debaixo de um teto, fazia mais calor do que o normal. Olhei para Stacy que me encarava de longe, estava com as mãos nos bolsos dos shorts balançando de um lado para o outro mostrando nervosismo.