03 | Odiando um Feldman part.2

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Três meses antes

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Três meses antes...

Estava sentada na varanda de casa depois de encontrar com mamãe no caminho de volta para meu cárcere. Não fazia parte do castigo ficar perambulando pela cidade com Stace e principalmente voltar para casa sozinha na hora que eu bem quisesse. Meus pais gostavam de mostrar responsabilidades e o fato de me levarem para casa dava a impressão às outras pessoas de que eu estava sendo punida, de uma forma ou outra. Nem mesmo quis entrar em casa quando mamãe estacionou sua picape do lado de fora da garagem e entrou para começar o jantar, fiquei na varanda sentada no balanço acolchoado que papai havia colocado para mim há muitos anos atrás.

O balanço de madeira que antes me engolia por inteiro, agora era aconchegante na medida certa.

Ao sul de Waverly, na zona rural, as coisas não eram tão movimentadas quanto nos outros lugares da cidade, mal se passava carro na rua de nossa casa e só havia duas casas nela, a minha e a fazenda dos Feldman. Na esquina com a rua Quatro, que dava início a rodovia 218 para Jackson, havia um fornecedor de equipamentos agrícolas, na qual papai era um cliente assíduo por trabalhar com isso na fazenda e frente a loja, havia um hotel duas estrelas para caminhoneiros que iam e vinham de todas as cidades ao nosso redor, atrás deles um Walmart para mostrar que não estávamos tão distantes da civilização. Tudo era muito calmo e tranquilo até mesmo com tratores que vez ou outra passavam pela rua em época de plantação.

Estava escrevendo em meu diário, não necessariamente sobre mim, mas sobre uma garota muito parecida comigo e que passava pelos mesmos dramas e questões existenciais como: O que eu estava fazendo ali? ou "Para onde devo ir quando acabar o colégio?"

Olhei para a casa frente a minha, fechando parcialmente o pequeno caderno com a caneta dentro marcando a página, estava a dois anos da universidade e não tinha certeza se queria continuar em Waverly. Apesar de amá-la com todas as minhas forças, apesar de gostar de algumas pessoas e de me sentir em casa, não sabia se esse sentimento era um mero conformismo por não ter conhecido outro lugar. As cidades vizinhas Jackson ou Shell Rock não contavam, já havia ido várias vezes para acompanhar papai ou mamãe quando precisavam comprar algo que só se tinha lá.

Me perguntei se Brandon gostaria de morar em outro lugar, se ele se empolgava assim como Cameron ao falar de Nova Iorque e Califórnia ou até Boston onde disse ter comido o melhor cachorro quente do mundo. Esse era o Cameron, divertido e faminto, já tinha quebrado todos os limites possíveis de etiqueta ao bater em nossa porta ao sentir o cheiro de comida nova, recém preparada e já nos acostumamos tanto com isso que era estranho ele não aparecer de repente, apesar da mãe brigar por causa disso e sempre pedir desculpas aos meus pais.

Lembrar de momentos como aquele me fizeram rir ao voltar para meu caderno e acrescentar mais um personagem na história, Cole - o faminto. Fui interrompida antes de terminar a frase com o som de pneus rasgando o asfalto ao dobrar a rua, revirei os olhos ao ver a picape do irmão mais velho, azul brilhoso como se recém saído do polimento dobrando a rua na contramão e estacionando frente a minha casa. Todos sabiam que aquela rua, frente às nossas casas, era sentido único, mas Aaron não se importava, ele sempre descia pela rua ao lado de minha casa para parar quase frente a casa dele.

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