04 | A dura realidade

197 41 376
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Atualmente...

Quando a dura realidade me encontrou eu estava encarando o teto do quarto ouvindo o barulho irritante de uma das máquinas que estavam ao meu lado. Passos no corredor não foram o suficiente para me fazerem desviar o olhar, eu estava em estado hipnótico ao lembrar de momentos do passado que não voltariam nunca mais. Um deles? Poder ouvir minha mãe brigando comigo novamente, ou fazendo seu teatro na frente de um Feldman quando só queria manter a aparência de uma boa família, mas ela mal sabia o quanto Violet Feldman tinha consideração por ela e por papai. Minha mãe nunca imaginaria que estaria condenada a sua cama e teria Violet ajudando a cuidar dela como se fosse um bebê.

– Kennedy? – a voz grossa combinada a cada som das letras do meu nome foram o suficiente para me fazerem piscar várias vezes sentindo os olhos molhados, mesmo que nenhuma lágrima tenha escapado por meu rosto.

Engoli o nó na garganta ao desviar o olhar do teto do quarto para a porta, encontrando meu pai parado nela. Os ombros curvados para frente, a barba grande demais e os cabelos brancos se tornaram uma imagem chocante para mim que não tinha notado o quanto ele parecia mais velho e mais... Como eu posso dizer? Cansado. Exausto. Papai não deveria estar dormindo de forma decente, muito menos vivendo de forma decente e eu sabia que parte da culpa era a minha por todo caos que se instalou em Waverly após o desaparecimento de Liza Muller.

– Vamos. – disse ele dando meia volta sumindo pelo corredor.

Em outros momentos eu diria que ele estava apenas me dando privacidade, mas na verdade eu sabia que ele estava tentando fugir de encarar a pessoa que transformou a vida da nossa família em um pesadelo e quase matou a própria mãe.

Quando sai do quarto, depois de trocar o jaleco hospitalar por minhas roupas normais, não olhei em direção a recepção quando caminhei rapidamente, com a cabeça baixa, em direção a entrada do hospital para encontrar papai me esperando dentro da camionete velha. A mesma em que ele tentou vender para conseguir mais dinheiro depois do que aconteceu com a mamãe, mas tudo o que ele conseguiu foi humilhação do dono do ferro velho, ameaçando-o a nunca mais pisar ali depois do que sua filha assassina fez. No caso, eu mesma.

Entrei no carro em silêncio, ele esperou até que eu colocasse o cinto de segurança para dar a partida fazendo o caminho para nossa casa. À medida em que nos aproximávamos, o nó em minha garganta crescia a ponto de impedir a passagem do ar, me deixando sufocada. Tossi algumas vezes tentando disfarçar e até mesmo expulsar a angústia que sentia naquele momento, era difícil demais ficar em casa quando tudo me trazia lembranças tristes onde um dia só havia felicidade, mas o homem ao meu lado estava irredutível em mudar de caminho, muito menos me deixar antes de chegarmos em casa e eu poderia arriscar dizer o motivo: Papai tinha medo do que iria acontecer comigo, isso porque ele havia acabado de sair de um hospital comigo e em outras vezes, precisou me buscar em uma delegacia.

Entre Segredos e SuspeitasOnde histórias criam vida. Descubra agora