Quando eu cheguei na academia, eu o ouvi antes de vê-lo.
Ele soluçava, e conforme socava o saco de pancadas ia perdendo o controle e soluçando mais. Me aproximei o suficiente para vê-lo através da parede espelhada da academia, mas ele não me notou. Estava ocupado demais tentando conter as lágrimas. Quem quer que tenha inventado essa besteira de que homens não podem chorar, eu queria poder visitar pessoalmente para mostrar com os meus punhos o quanto eu discordo. Se já tiver morrido, posso até levantar dos mortos só para ter o prazer de matar de novo.
Seja como for, ele falhou. Lágrimas desciam pelas maçãs do seu rosto e escorriam pelo pescoço até o peitoral, e os soluços, por Azarath, os soluços só ficavam mais altos. Ainda assim, ele continuava socando. Batendo sem parar, sem olhar para o espelho uma única vez.
E isso só confirmou o que eu já sabia. Eu faria qualquer coisa para que aquilo parasse. Daria qualquer coisa para que ele não precisasse soluçar nunca mais. Para que aquele som infernal deixasse de existir, e para que eu pudesse ter certeza de que nunca mais o ouviria novamente. Eu realmente o amo. Mesmo chorando, ele era a coisa mais bonita que eu já tinha visto.
O que, por Azar, eu poderia dizer? Desculpe por jogar seu coração no chão, chamá-lo de lagartixa e pisoteá-lo sem misericórdia? Desculpe por não conseguir interpretar emoções muito bem e literalmente não ter percebido nossas emoções mútuas durante todo esse tempo? Desculpe por saber que criaturas melhores poderiam te amar? Mas agora elas vão ter que passar por mim, e tudo o que eu já amei carrega a marca das minhas garras? Minha mãe. Azarath. Até Malchior! Tudo o que eu amo, eu destruo! Mas eu encontrei um modo de me perdoar toda vez. E como eu poderia me perdoar se eu te destruísse?! Dizem para acharmos o que amamos e deixarmos que nos mate, mas você nunca levantaria uma mão contra mim! Você me deixaria destruí-lo sem pensar duas vezes, e você não tem ideia de como isso me assusta. Amar você é como segurar uma faca contra a sua garganta, e você me amar é como me dizer onde cortar! É como se eu estivesse escrevendo meu nome em você com uma faca, e você me chama de sua, me chama de gentil, como quem não está prestando atenção. Você é frágil como uma flor, e eu sou frágil como uma bomba! Se eu explodir, ninguém me perdoará! Nem eu mesma me perdoaria! Existe amor em mim, com certeza, em quantidades dificilmente imagináveis, mas também existe raiva em uma quantidade inacreditável. Eu tenho o amor da minha mãe e a crueldade do meu pai, e se eu não posso satisfazer um, a minha natureza se certifica de que eu satisfaça o outro. Dentro de mim, eles travam uma guerra eterna, e qualquer um que esteja perto arrisca se tornar dano colateral! Você pode amar uma arma, amar um monstro, Garfield, mas isso não muda a natureza da coisa! Eu não tenho coragem de arriscar você.
Ele parou de linchar o saco de pancadas e virou para mim, como se soubesse que eu estava ali o tempo todo. Os soluços diminuíram, e puxou uma toalha de um dos bancos para enxugar o suor e as lágrimas. Logo que terminou, me olhou nos olhos.
- Alguém já disse que você projeta seus pensamentos muito alto quando perde a concentração?
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Bbrae- Accidentally
FanfictionUma festa, muita bebida. O que você esconde sóbrio, revela bêbado. Conteúdo Adulto.