[editado] - 13

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–  Arabella

   

    Achava bastante impressionante (e aterrador) o facto de algo, ou alguém poder mudar drasticamente a nossa vida num curto espaço de tempo. Como podia adivinhar que aquele homem ia ser a causa da minha mente inquieta e das minhas noites sem dormir? Como podia adivinhar que me ia apegar à sua existência? Como podia adivinhar que um dia ia necessitar do seu toque e da sua presença para me sentir mais completa? É como se tudo estivesse a acontecer rapidamente, exatamente à minha frente, e eu não pudesse fazer nada, mesmo que quisesse, uma vez que já estava enfeitiçada, presa na armadilha que tinha o nome de Luke Hemmings.

    O meu corpo estava presente no meu apartamento, mais precisamente no sofá duro da minha sala. Já a minha mente... provavelmente num universo paralelo

    Tinha uma tigela cheia de pipocas doces sobre o meu colo e o telemóvel à minha frente, pousado numa mesa de vidro pequena. O meu olhar alternava entre o ecrã da minha televisão e o meu pequeno objeto tecnológico, como se eu estivesse à espera de um sinal. O filme de ação que me encontrava a ver podia ser cativante, mas a minha imaginação tinha outras ideias neste momento.

    Um longo suspiro caiu por entre os meus lábios, acompanhado de um grunhido de insatisfação. Chutei a manta que me cobria as pernas para o chão e levantei-me, com o intuito de sair de casa. Hoje era feriado, e de certeza que não o iria passar trancada neste apartamento!

    Assim que me dirigi em direção à porta da entrada, o meu telemóvel começou a tocar, o que me fez correr até ao sofá. Saltei por cima dele, arrependendo-me logo de seguida, e agarrei no objeto que agora vibrava continuamente.

    Luke (NÃO ATENDER) está a ligar...

    "Porra" – murmurei. E a tentação foi mais forte que eu.

    "Estou?" – disse, tentando regularizar a minha respiração, uma vez que tinha corrido até ao sofá. Sempre odiei exercício físico.

    "Arabella!" – ouvi a sua voz pelo telemóvel, um pouco rouca – "Como estás?"

    "Estou bem..." – respondi, levantando uma sobrancelha – "O que se passa?"

    "O que se passa? Ah, nada de especial! Só quis saber como estavas nesta bela tarde" – ele disse – "Não queres ir beber um café comigo?" – perguntou, com algum receio, e pude reparar que estava nervoso. Estranho, vindo de Luke.

    "Um café... claro, porque não? Estava mesmo a sair de casa" – respondi, calçando as minhas botas.

    "Eu já estou aqui, à porta do teu prédio..." – declarou. Arregalei os olhos assim que o ouvi e quase que deixei cair o telemóvel.

    "E se eu tivesse recusado?" – soltei uma breve gargalhada, apercebendo-me que ainda estava de pijama. Descalcei as botas novamente e suspirei, dirigindo-me ao meu quarto. Decidi espreitar pela janela, com alguma curiosidade, e consegui ver a figura masculina de Luke na rua. Ele estava encostado a um poste de luz, com o telemóvel perto do seu ouvido, obviamente.

    "Não tinha pensado nessa opção" – ele disse, com honestidade – "Eu tinha a certeza que ias aceitar a minha proposta, visto que provavelmente não tinhas nada melhor para fazer" – consegui observá-lo a esboçar um sorriso. Indignada, abri a janela e chamei-o. Assim que olhou para cima, com confusão no rosto, mostrei-lhe o meu dedo do meio e tornei a fechar a janela.

    "Já não me apetece beber café" – disse-lhe com um tom enervado, desligando a chamada logo de seguida. Que lata! Mesmo que ele estivesse correto...

    Continuei a observá-lo pela janela, com cuidado, para que ele não me conseguisse ver. Luke ficou a olhar para o telemóvel durante alguns segundos, com um sorriso irritante no rosto. Poucos minutos depois, guardou o objeto no bolso das calças e deslocou-se até à entrada do meu prédio assim que viu uma das minhas vizinhas a sair com um cão ao seu lado, preso numa trela. Oh, que boa altura para ir passear o chihuahua, Adelaide!

    Com um sorriso charmoso plantado na sua face, segurou a porta da entrada à senhora, que lhe fez um gesto de apreciação. E, depois, deixei de o ver. Oh não...

    Rapidamente voltei para a minha sala, tropeçando nas botas que tinha deixado no meio do chão. Recompus-me e respirei fundo. Este homem conseguia realmente ter tudo o que queria.

    O som da minha campainha a ecoar fez-se ouvir, um minuto depois. Fiquei imóvel, ignorando o homem que estava agora à porta do meu apartamento.

    "Arabella, eu sei que estás aí. Foste bastante clara" – ele exclamou – "Peço desculpa se te ofendi, não era a minha intenção"

    Ao ouvir as suas palavras, caminhei até à porta e abri-a ligeiramente, colocando apenas a minha cabeça de fora. Luke tinha um sorriso forçado no rosto e as mãos nos bolsos.

    "Desculpe, mas não estou interessada no seu negócio, senhor" – eu disse-lhe, num tom de brincadeira. Preparei-me para fechar a porta novamente, mas o seu pé impediu-me de o fazer.

    "Já disse que não me apetecia beber café, Luke. Fica para uma próxima vez em que não sejas rude e saibas convidar uma mulher corretamente" – reforcei a minha resposta anterior. Ele colocou a mão na porta de súbito, para que eu não tentasse prendê-lo lá fora novamente. Entrou no meu apartamento sem a minha permissão e aproximou-se de mim, dando depois um leve pontapé na porta com o objetivo de a fechar por completo.

    "O que é que pensas que estás a fazer, Lu–"

    Fui interrompida, antes de poder terminar a minha frase. Luke colocou o seu indicador sobre os meus lábios, para que eu me calasse. Por mais impressionante que pareça, obedeci à sua ordem silenciosa. Aproximou-se vagarosamente de mim, até o seu nariz ficar a roçar ligeiramente no meu. Dei um passo atrás, agora sem coragem para falar. A minha indignação tinha sido substituída por um nervosismo arrebatador.

    Luke voltava a aproximar-se de mim sempre que eu andava para trás. Subitamente, as minhas costas bateram de leve numa das paredes da minha sala acolhedora. Aprisionou-me, de forma a que não houvesse maneira nenhuma de escapar, e engoli em seco.

    Os seus profundos olhos azuis fitavam os meus, de forma intensa. O seu maxilar estava cerrado e a sua expressão facial tensa, frustrada. De repente, a palma da sua mão foi pressionada contra a parede fria, mesmo ao lado do meu rosto. Encontrei-me, naquele momento, ainda mais enclausurada, sem saber o propósito e as intenções do homem perante mim.

    "Arabella..." – proferiu, baixinho – "Estou farto de esperar"

    Fiquei perdida assim que ouvi a sua afirmação. Porém, antes de conseguir responder, Luke fez algo que eu não estava à espera. Beijou-me.

Stolen Innocence ➤ Luke Hemmings [Edited]Onde histórias criam vida. Descubra agora