Samantha Dias
Longe consigo escutar a sétima badalada de um sino de uma igreija que ainda não conheço, o som é melódico e ritmado, porém é como se fosse um despertador sem pilha, a cada batida o som é cada vez mais fraco, é bom ter tempo para reparar em coisas simples como o tocar de um sino envelhecido.
É o início de uma manhã diferente, uma que tanto ansiei, para mim e para a minha irmã Luana, que com certeza ainda dorme no quarto ao lado, algo que eu pretendo interromper claro.
Acordar a minha irmã não é o mais inteligente, secalhar é até perigoso agora que penso, mas vai ter que ser, assim que saíu da cama percebo que, finalmente, tenho alguma coisa para chamar de minha, e logo a vontade de acordar a Luana cresce mais forte, apresso o passo até chegar à cabeceira dela, a vida que escolhemos tem de começar a ser vivida.- Luana, acorda.- sussurro ao mesmo tempo que passo a mão no emaranhado ruivo de cabelos espalhados na almofada.
- hhhejehh nnnenn.
- Luana tem que ser, estas caixas espalhadas pela casa não se vão abrir sozinhas.- ao proferir as palavras Luana de imediato levanta a cabeça e a muito custo me olha.
- Nós conseguimos Sam, é mesmo verdade, estamos aqui.- disse-me, envolve a mão na minha e dá-me um puxão que me faz rolar na cama e ficar metade debaixo de mantas, cabelo e uma muito sorridente Luana.
- aí Luana, cuidado, tu tão feliz pela manhã é também uma novidade.
Luana é a minha irmã mais velha, sete anos nos separam, e um sangue diferente também. Apesar de ambas o sabermos, irmãs é o que sempre seremos. Luana foi adotada pela nossa mãe, Isabella.
Uma mulher forte e determinada que mantinha o célebre pensamento de que não precisaria de um homem para ser mãe, mas por mais que tentasse, inseminação alguma funcionou, médico após médico mantinham a mesma opinião, era preciso um milagre para que engravidasse, e aí surgiu Luana, uma bebé linda, parida de uma mulher acabada de falecer vítima do abuso de substâncias ilícitas e pai desconhecido, acolheu-a e foram realmente uma família feliz, as duas contra o mundo. A nossa mãe era afortunada, não muito rica mas através de bens deixados era o bastante para viver estável com Luana até ao fim dos seus dias, até que se apaixonou por um homem misterioso,o meu pai, que se revelou apenas interessado no que esta tinha, acabando por a abandonar com pouco mais de nada,isso e a mim.
A Luana tinha seis anos quando o tal milagre aconteceu, a minha mãe engravidou, mas quis o destino que esse fosse também o seu fim, momentos após o meu nascimento pediu uma caneta e um pequeno papel que depois de escrito entregou a Luana e partiu deixando no mundo duas meninas que viveriam uma para a outra, sempre.- Sim, é verdade estamos aqui. Obrigada Luana por não teres desistido de mim.- ao meu comentario Luana com muito carinho embalou o meu rosto em cada uma de suas mãos.
- Samantha eu nunca te vou largar, nunca, conseguimos finalmente vernos livres daquele inferno, vamos começar a viver as nossas vidas, tu podes estudar a história que tanto querias eu posso pensar finalmente na medicina que sempre quis, e em nada tens de agradecer, fazes parte de mim.
- sabes que não é verdade, podias ter saído de lá há mais tempo, sem mim e... - fui interrompida por Luana que com a ajuda do dedo indicador sobre a minha boca me silênciou.
- sshhhhh não voltes a pensar nisso, não era sequer uma opção para mim, só lamento que tenhas tido que viver tanto tempo assim. - Olhando nos olhos da minha irmã sei do peso que todos os dias carrega, devo-lhe tudo, desde sempre, mas também sei que eu não sou esse peso, sei que me ama assim como eu a amo.
A nossa vida nunca foi normal, a minha mãe morreu para que eu nascesse, e como não havia um pai nem um familiar, Luana tinha apenas sete anos quando fomos entregues a uma instituição, para mim era uma vida normal, nunca tinha conhecido outra, para a Luana não, ela sabia o que era amor, sabia o que era comer uma boa refeição ou dormir numa cama de verdade, sem ter que lutar cada segundo por cada uma dessas coisas, e durante muito tempo ela lutou pela minha refeição deixando a dela esquecida. Eu devo-lhe tudo. Abano-lhe a cabeça para confirmar que sei, ao que ela entende e depois de me dar um beijo na testa salta da cama, e lá esta ela o verdadeiro tornado que é a Luana.
- ok ok, vamos lá então menina, arrumar o que falta , e de seguida vou sair para comprar pão e mais algumas coisitas para a nossa noite.- noite? O que é que eu perdi?
- Noite ? O que é que tem a nossa noite Luana ?- perguntei-lhe realmente curiosa.
- vamos viver irmanita, vamos viver, hahaha nao me olhes assim, vamos sair para comer naquele Club que vimos ontem no fim da rua quando passamos.
- nao sei Lua, nós não conhecemos ninguém, nem se o bar é seguro.- viver toda a vida fechada nao foi o melhor incentivo para esta vida.
- Por isso mesmo Sam, precisamos de conhecer, viver, explorar, e só vamos comer alguma coisa diferente, temos finalmente algum dinheiro nosso, vamos devagar, mas temos de ir.- ela sabe que tem um jeito de me acalmar.
- tudo bem, eu sei que foi o que mais ansiei, viver realmente, e ... apesar do medo, tens razão, eu vou.
Apolo Romero
Ainda não são nem oito da manhã e já vou a caminho da segunda reunião, nem sei se reunião é o nome correcto para o encontro que tive a instantes, foi um lembrete, a família Romero nao dorme, a minha mãe, Madalena Gonzáles Romero é uma senhora, apesar de ser o pilar nao trata diretamente dos negócios da família, o meu irmão, Alfonso Romero ja faz a parte dele, eu como irmão mais velho e desde que o meu pai se foi, tive que assumir tudo. E com orgulho na verdade. A família para mim sempre foi tudo, é para o que vivo, não tenho tempo para muito mais, entre todas as casas de jogo que possuímos, clubes, lojas, até mesmo as ruas em que temos as maos, não me sobra tempo para ser outra coisa que não o temido Apolo Romero.
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Eu vou, prometo!
RomanceAlgumas horas de uma única noite foram o bastante para traçar um destino, ele prometeu, agora é lei. Doce, pacata e inocente, tudo o que o destino não a permite continuar a ser, por ela nem mesmo continuaria, podia acabar, doi, doi tanto, mas, ele...