IX. 2

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Abadia

Fico olhando ele desmaiado na minha cama, estou em chamas, queria acordá-lo chupando, todavia, não sei muito sobre ele, logo após o momento de fúria e o seu desmaio, entrei em contato com seu Aranhos e me repassou o número de Dona Constância, que chorava no outro da linha, pedindo perdão pelo lado possessivo do menino dela, expliquei tudo que ocorreu e ela relatou como é uma mente com síndrome de Otelo, que provavelmente por ter me visto seminua, já construiu um monstro dentro dele que me acusaria de coisas absurdas, mas por ter sido pego de surpresa pela situação, o desmaio foi o resultado da exaustão do corpo, por ele, ter sido tão agressivo, comentou que dois dias atrás ele teve febre e me chamava. – Olhei pra ele ainda desacordado. – Agradeci a Conste, assim que ela exigiu que a chamasse e agradeceu pelo cuidado com o filho.

Cick e Celo saíram depois que colocaram o urso furioso, no quarto e levaram um pedaço da lasanha porque Cícero não ia perder a oportunidade e ressaltar que ambos entenderam a situação sobre a agressividade de Salul, já havia dito a Cick sobre a síndrome de Otelo e Celo na verdade foi um gentlaman e ainda sugeriu para que Cícero fique ciumento da mesma forma do urso.

- Abadia.

- Olá, Senhor Salul. – Finjo uma simpatia.

- Meu papel de babaca do ano, será exposto no prêmio do Oscar. – O olho de soslaio.

- A Conste disse para você não ir para Resende e ficar por aqui. – Ele me olha e meu corpo umedece. – Explicando melhor: Fique na casa de Aranhos. – O semblante dele entristece. 

Ouço batidas na porta e reconheço a voz.

- Não saia daqui pra nada, Salul. E não estou pedindo, é uma ordem.

Chego na sala, arfo e vou em direção para abrir a porta, já sabendo quem seja.

- O que quer aqui?

- Não me convida pra entrar? – Ela insiste em mandar no que devo fazer.

- Não a convidei, ma-mãe.

- Que história é essa que tem um homem a procurando e falando em nome do seu Pai?

Fico muda e não a olho, sinto um calafrio no corpo.

- Não faço ideia do que esteja falando.

- Eu dei sua parte quando vendi a casa que ficava na Bahia, contudo, posso acionar o meu advogado e também exigir... – Nem a deixo terminar.

- Eu não sei do que está se referindo, eu não sei de homem nenhum atrás de mim e muito menos essa chantagem desproporcional, o que eu me recordo é que papai morreu e nada até hoje foi esclarecido. – Ela tenta falar algo, porém não permito-. Todas as vezes que me deu dinheiro, disse que era ajuda financeira. Conforme, nesses dez anos que não convivemos juntas, me virei sozinha com ajuda de Flora e agora tenho Cícero. Todavia, quando decidiu minha vida, com aquele maldito aborto, julgava-me idiota, o que mudou? - Não era para ter chorado.

- Sempre essa ladainha, essa vitimização, foi um erro ter vindo aqui e como disse: ainda é a mesma idiota quando tinha dezessete.

Bato a porta com tanta força, que a fechadura quebra, meu corpo está trêmulo, porque consinto esse despautério, tenho que me livrar dessa culpa que ainda carrego, como se eu pudesse fazer alguma coisa dopada, choro, me culpo, esbravejo, grito que sinto a alma sair do meu corpo.

Noto uma mão me puxar e meu corpo amolece, as mãos amarram meu cabelo, secam as minhas lágrimas, puxa meu vestido, me põe nos braços e me leva para a cama, faz com tanta delicadeza que choro copiosamente, ele deita do meu lado e cobre com um lençol fino, até minha cintura, me abraça de lado e fica cheirando meu cabelo era a proteção que eu precisava de quem amava. Eu idolatrava minha mãe, por ela ser branca e eu negra, a mesma nunca deixou ninguém me diminuir, quem não gostasse de negros, perto de minha mãe, ouvia um discurso desde as pessoas escravizadas até o apartheid e por causa da minha gravidez, ela mudou.

Puta-Me. ( Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora