22 de fevereiro de 1969
Dia do presidente
A neve que cobria toda a cidade não impediu que Kim Taehyung saísse de casa naquele sábado para cumprir com sua missão. Ele estava determinado. Pegou o ônibus e adentrou no caos matutino de Manhattan usando um de seus casacos velhos e pouco eficazes para esquentá-lo nesse frio.
Taehyung detestava o inverno. Conseguia tricotar luvas, cachecóis, gorros e meias, mas não tinha dinheiro para comprar casacos novos. Era obrigado a se contentar com os antigos e remendados, bem como o falho sistema de aquecimento de seu apartamento. Ele precisava lutar para sobreviver às baixas temperaturas e era muito exaustivo e solitário passar por isso todos os anos.
Em outras circunstâncias estaria no sofá de casa escondido entre as cobertas, mas foi necessário sair naquele dia. Havia uma motivação muito clara para isso.
Era feriado nacional.
Isso significava que, além de inflar o ego nacionalista americano, seria uma ótima oportunidade para promover uma apresentação temática no Versalhes. Os clientes adorariam ver Vante Estelário dançar e cantar segurando a bandeira dos Estados Unidos homenageando o falecido George Washington. E, honestamente, Taehyung precisava fazer o possível para atrair clientes. Por isso, foi até o cenário mais importante de sua vida: Greenwich Village, o bairro mais subversivo da cidade.
Caminhou cabisbaixo pelas já tão conhecidas ruas até alcançar o prédio velho e sujo de tijolos vermelhos que estava fincado em suas lembranças. Entrou pelo hall porque sabia que a porta ficava sempre aberta e subiu as escadas deterioradas de madeira que rangiam a cada passo. No terceiro e último andar se dirigiu até o apartamento que conhecia bem, retirou do bolso uma cópia da chave e entrou.
Do lado de dentro, o apartamento continuava exatamente como era antes. Na pequena sala havia apenas um sofá estreito, um tapete velho, uma televisão ultrapassada e cortinas brancas impedindo a entrada de parte da luz das janelas. À esquerda ficava a cozinha e à direita havia o corredor que levava aos dois quartos e ao banheiro. Apesar de tudo, estar ali novamente era como voltar para casa.
Suspirou profundamente e percorreu todos os detalhes com os olhos. Deu alguns passos até o antigo quarto, imaginando que estava sozinho na casa.
— Tae?
Paralisou. Sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem e o coração saltar uma batida, e então virou-se na direção da voz dando de cara com Yoongi que o encarava com uma expressão incrédula.
— Tae! — Voltou a dizer a velha amiga. Dessa vez sorriu e correu na direção de Taehyung para dar um abraço que foi prontamente retribuído. — Eu senti tanto a sua falta.
Abraçar Yoongi depois de tanto tempo era como entrar em um sonho muito antigo. Apertou-a com força porque parecia inacreditável rever a única pessoa que fez jus ao sentido de família.
— Olha só para você. — falou analisando Taehyung dos pés à cabeça. Passou as mãos pelos braços dele como se estivesse ajeitando o casaco e o dedicou um sorriso de olhos brilhantes e marejados pela emoção do reencontro. — Está tão bonito. Preciso que me conte tudo.
— Não posso ficar por muito tempo. Pensei que você estivesse ajudando a distribuir sopa na igreja com David, por isso vim. — Admitiu e viu a expressão de Yoongi murchar. Colocou as mãos no ombro dela tentando de alguma forma consolá-la e disse: — Eu não quero que se preocupe comigo. Tenho um lugar para morar, um emprego de verdade e ainda consigo fazer shows. Não é como se eu estivesse em outro planeta, você pode me visitar sempre que quiser no Versalhes.
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Feriado Nacional
FanfictionHavia algo de muito estranho no ano de 1969. Não eram os foguetes sendo lançados no espaço, nem o fim dos Beatles e muito menos o modo de vida dos hippies. Em Nova Iorque, Taehyung explorava a noite como Drag Queen, desafiando os limites da própria...