17. Recomeço

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28 de Junho de 1969 

A própria existência humana é incongruente. As pessoas não são essencialmente boas ou ruins, mas uma balança das duas coisas que se desprende para um lado ou para o outro. Não existe vilão que não possua alguma qualidade, assim como não há um herói que não tenha defeitos. No final das contas, o que mede a qualidade humana são as ações que desempenha no mundo e a maneira como se relaciona com os outros. Taehyung tinha medo de que sua balança estivesse caída para o lado ruim. 

Avaliando as próprias atitudes, não conseguia encontrar um só motivo que o fizesse digno de ser considerado bom. Bastava retroceder alguns anos e relembrar todas as ações que o levaram até onde estava. Cometeu muitos erros e equívocos no passado, talvez isso justificasse o caos constante em sua vida flutuava. Como em um maremoto, seguia o barco sem muita certeza se sobreviveria à próxima onda. 

Naquele momento estava afundando. Não conseguiu dormir à noite, não por causa do pulso machucado e dos outros ferimentos que adquiriu durante a rebelião, mas porque não conseguia parar de imaginar onde Yoongi estava. Gostaria de pensar positivo, mas otimismo não era uma de suas qualidades. Sentia uma angústia dolorosa no peito, uma sensação horrível. 

E se ela estivesse correndo perigo? E se estivesse assustada? O que faria para ajudá-la se nem da própria vida conseguia ter controle? 

Precisava encontrá-la, mas não poderia fazer isso sozinho. Contou com a ajuda de Namjoon como o único aliado disponível e Jungkook pediu que Hoseok também ajudasse. Todos se reuniram no salão do Versalhes para tentar pensar em alguma ação conjunta. 

— O que aconteceu exatamente? — Hoseok perguntou andando de um lado para o outro enquanto tentava articular seus pensamentos. 

 — É difícil dizer, estava uma confusão ontem à noite. Yoongi estava lá no meio com algumas amigas, eu tentei me aproximar, mas um policial me encurralou. — Taehyung contou novamente a história que presenciou durante a madrugada. Reviver aqueles fatos em sua memória estava sendo uma experiência extremamente cansativa. — Depois disso não a vi mais. 

— Ela não pode estar com alguma dessas amigas? — Namjoon perguntou tentando pensar de forma racional. Ele era muito experiente em traçar estratégias, anos de prática finalmente serviriam para uma coisa boa. 

 — Não as conheço o suficiente para conferir, mas por que razão Yoongi viraria a noite longe de casa? — Tae escondeu o rosto nas mãos e suspirou profundamente. Cansado demais para conseguir pensar em alguma resposta. — Uma hora dessas já era para ter aparecido. 

 — Tentei achar pelo telefone, depois andei de carro pelo bairro. Nem sinal dela. Liguei para delegacias, hospitais, qualquer lugar na região onde ela possa ter ido parar, mas a resposta foi sempre a mesma. — Jungkook esclareceu tudo o que tinha feito. Sentado um pouco mais afastado, não conseguia tirar os olhos de Taehyung. Durante todo o tempo em que esteve no salão, percorreu o olhar pelas feições do rapaz, sentindo uma dor enorme em vê-lo tão abalado e exausto. 

— Existe uma diferença entre ligar e ir pessoalmente. — Observou Namjoon. — Principalmente quando se trata de pessoas como nós. 

Deixou o sentido da frase implícito. O que quis dizer é que um Estado que persegue pessoas como eles, jamais iria colaborar tão facilmente. Ainda mais depois de tudo o que aconteceu em Stonewall. Se queriam encontrá-la, seria preciso mais do que apenas ligações. 

— Vamos nos dividir em equipes e sair para encontrá-la. — Hoseok propôs energicamente. Taehyung jamais poderia imaginar que aquele rapaz se interessaria tanto em encontrar Yoongi. Nem se lembrava de já tê-los visto juntos alguma vez. 

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