22 de Maio de 1969
O calor do sol matutino tocou o rosto de Yoongi e ela sorriu. Amava sentir o abraço quente e reconfortante das primeiras horas do dia, sentia-se acolhida e motivada. Com o passar dos anos aprendeu a valorizar coisas simples como raios de sol, flores da primavera e o vento morno soprando e balançando seu cabelo. A manhã não poderia estar mais perfeita.
Pretendia comprar alguns itens que estavam faltando na dispensa e voltar para casa, fazer as próprias unhas, lavar o cabelo e se preparar porque teria uma grande noite. Jantaria com um rapaz, com quem estava mantendo uma relação já fazia alguns meses. Ele a presenteou com o par de brincos de ouro que estava usando — e no qual passava as mãos o tempo inteiro para garantir que eram reais.
Enquanto caminhava pela calçada e pensava sobre tudo isso ouviu um grunhido vindo de algum lugar muito próximo. Parou no meio do caminho e olhou para os lados tentando identificar de onde vinha ou se era coisa da sua imaginação. Havia um beco entre duas lojas, curto e estreito, comportando apenas algumas latas de lixo. Certamente o barulho tinha vindo de lá. Yoongi estreitou os olhos para tentar descobrir do que se tratava e levou um susto ao ver um corpo jogado no chão, no meio do lixo. Levou a mão à boca, abafando um grito e arregalou os olhos.
Instintivamente, foi se aproximando. Era um rapaz, usava um terno marrom escuro deitado de bruços na sujeira e grunhindo de dor, inconsciente. Yoongi se abaixou para ver de perto, cutucou o estranho com o indicador, mas não obteve resposta. Exalava um cheiro forte de álcool. Ela tinha que pedir ajuda ou aquele homem poderia acabar morrendo sozinho como um indigente. O primeiro impulso que teve foi empurrar o corpo para que ficasse de barriga para cima e fez isso com muita dificuldade. Quando viu o rosto teve um grande surpresa. As memórias do dia da inauguração do Versalhes vieram em sua mente. Conhecia aquele rapaz, era o amigo do Jungkook.
Ofegante, caminhou de volta à calçada para buscar ajuda. Gritou para que alguém pedisse uma ambulância, mas não obteve respostas. As pessoas que passavam direcionaram olhares curiosos, mas breves. Rapidamente seguiram de volta os seus caminhos. Que tolice dela pensar que alguém se preocuparia em ajudar uma travesti e um bêbado estranhos na rua.
Suspirou e revirou os olhos. Voltou-se novamente para o rapaz, dessa vez usando toda a força do seu corpo para levantá-lo e colocar o braço dele ao redor de seu ombro. A semi consciência de Hoseok ajudou um pouco, porém carregar aquele corpo enorme e pesado estava sendo uma tarefa muito difícil. Yoongi teria que atravessar um longo caminho recebendo olhares julgadores, quando poderia simplesmente fingir que não viu e seguir sua vida como muitas pessoas teriam feito.
Esperava que Deus estivesse reservando um ótimo lugar no céu para ela.
[...]
— O que vamos fazer com ele? — David perguntou, parado ao lado de Yoongi. Ambos estavam encarando o corpo de Hoseok deitado no quarto dela.
— Eu não faço ideia. — respondeu com sinceridade. — Devemos chamar uma ambulância?
— Espera ele acordar. Se estiver bem, damos um jeito de despachá-lo para casa; se não, chamamos uma ambulância.
— E se ele não acordar? — Lançou um olhar desesperado para o mais velho.
— Yoongi, olha só para esse garoto. Não é caso de morte, com certeza teve uma noitada e acabou assim. — Bagunçou o cabelo dela no topo da cabeça. — Fez um ótimo trabalho hoje, meu bem. Estou muito orgulho de você.
David lançou um último sorriso cansado e saiu do quarto porque logo mais tinha que trabalhar. Se não fosse pela ajuda dele em carregar Hoseok pela escada, Yoongi jamais teria conseguido levá-lo sozinha. Sinceramente, nem sabia onde tinha encontrado tanta força em carregá-lo, seus braços estavam doloridos e vermelhos pelo esforço.
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Feriado Nacional
FanfictionHavia algo de muito estranho no ano de 1969. Não eram os foguetes sendo lançados no espaço, nem o fim dos Beatles e muito menos o modo de vida dos hippies. Em Nova Iorque, Taehyung explorava a noite como Drag Queen, desafiando os limites da própria...