Em algum lugar da floresta, Sara continuava sua corrida agora em sentido contrário. Conseguia ouvir não muito longe, a presença de seus irmãos. Ela não queria voltar agora, precisava de um pouco mais de tempo sozinha.
Virou em suas patas, adentrando a escuridão tão conhecida pela alfa. Os violentos ventos traziam consigo vários cheiros e sensações. Cheiros de terra, folhas, árvores, flores e um que destacava em meio à todos os outros.
Era doce e suave, diferente de tudo o que Sara já havia sentido - que não era pouco coisa-. O cheiro era doce e puro,também era selvagem e desconhecidos. O olfato apurado da loba, o sentiu adentrando todo seu ser.
O que poderia ser aquilo? Que tipo de criatura teria um aroma tão diferentes de tudo o que ela já havia conhecido?
Sem ter consciência de seus atos, Sara desviou de sua rota seguindo o estranho cheiro. De algum modo, desconhecido pela alfa, seu corpo reagiu instantaneamente ao doce cheiro e quando percebeu, suas patas já partiam velozmente seguindo a trilha de estranho cheiro e sensações.
Seu coração assumia batidas diferentes das que Sara já estava acostumada. Eram violentas e selvagens como se ele quisesse sair do lugar. Estava tomada por um misto de ansiedade e curiosidade.
Seja o que for, a alfa não gostava do que o aroma lhe causava. Fazia com que ela perdesse o controle do próprio corpo. Somente a loba alfa dominava no momento. Sara foi jogada em um canto escuro da mente do animal sem nem ter tempo de protestar.
Ali não existiam pensamentos, a razão se ausentou. Somente estava presente o extinto.Ela se movia somente pelo extinto e ele a guiava pelas camadas mais profundas da natureza.
Ao passo que chegava mais perto o cheiro foi ficando mais forte e junto dele estavam as batidas de um coração.
Não o coração da loba, mas sim o da criatura que o animal tanto ansiava. As batidas eram rápidas, não tanto quanto as de Sara, mas rápidas. Diminui os passos quando percebeu que estava perto. Ouvindo a respiração da criatura, ela parou antes que fosse descoberta.
Seus ávidos olhos avistaram à alguns metros à figura de uma humana. Ela parecia assustava e olhava para todos os lados tentando perceber a presença de algo. Seu peito subia e devia em um respiração desregulada confirmando o pensamento de Sara.
Ela estava com medo! Suas mãos tremiam enquanto segurava uma lanterna que não ajudava em muita coisa.
Sara sentiu seus músculos se contraírem com uma energia nunca sentida antes. Suas pupilas dilataram fazendo com que o azul de seus olhos quase desaparecessem. Tentou controlar o impulso de seguir até a mulher, mas não era ela que estava no controle, não mais.
As patas provocaram o barulho de galhos se quebrando atraindo a atenção da mulher que se virou abruptamente ficando de cara com a Fera.
Os olhos de Ava se arregalaram o máximo possível e ela podia jurar que o chão havia sumido em baixo de seus pés. Seu coração descontrolou dando a impressão de que a qualquer momento ele pudesse rasgar seu peito de dentro para fora. Lentamente ela levantou sua lanterna mostrando enorme fera.
Animal poderia fácil se fundir com a noite. Seus pelos eram negros no tom mais escuro que alguém poderia imaginar. Mas isso não era o surpreendente, o que fez Ava recuar foi perceber o tamanho da criatura. Era um pouco maior que ela, isso mesmo com a mulher de pé. Os olhos profundos num intenso tom de azul mas quase incobertos pelas enormes pupilas, fizeram com que Ava sentisse frio na espinha.
Eles pareciam cruéis demais para a indefesa fotografa. Os enormes dentes ficavam à mostra quando acompanhavam os altos rugidos que saiam da garganta da loba. Por se tratar de uma alfa, Sara exalavapoder e superioridade. Isso não só com os lobos, mas também para os humanos. Meras criaturas que poderiam morrer facilmente nas garras de um lobo.
A visão de Ava havia ficado turva, ela ainda não tinha percebido que estava chorando. Mas seus olhos não se mexiam, estavam ficados na criatura assassina que estava a poucos metros dela. Tão perto, que ela podia sentir a onda de calor que vinha de dentro da boca da fera.
Então era assim que ela morreria? Sua mente rapidamente criou várias formos em que ela poderia ser morta e nunhuma delas parecia indolor. Pensou em correr, mas sabia que rapidamente seria apanhada. Ficar parada ali também não parecia boa coisa, foi então que ela pensou no ditado que sempre ouvia sua mãe falar. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come! Essa literalmente era a real situação de Ava.
Pensou em seus amigos e em seu irmão. Quanto tempo até perceberem sua ausência? Teve a esperança de que eles poderiam ajudá-la se viesse à tempo, mas a esperança morreu assim que veio a conclusão de que se eles viessem, teriam o mesmo destino.
Se ela fosse morrer, morreria sozinha, sem levar mais ninguém com ela. Avaliando a situação, teve a conclusão de que teria que ser rápida.
A fera se aproximou lentamente fazendo com que Ava desse outro passo para trás. Ela tinha que ser rápida mas não tanto assim. Por sorte, eles continuariam dormindo e só acordariam no dia seguinte. Ou eles poderiam estar procurando por ela e caminhando para a a morte também.
O pensamento fez com que seu estômago se contorcesse.
Ava queria que aquilo acabasse logo ao mesmo tempo que não queria. Seu corpo petrificado ficou ainda mais tenso quando a criatura se aproximou ainda mais.
Os rugidos saiam de seu peito atingindo em cheio a fotografa. Vendo que a loba estava cada vez mais perto, Ava juntou os seus últimos resquícios de força - o que não eram muita coisa - girando em seus calcanhares e correu em sentido contrários das barracas. Correu, com se sua vida dependesse daquilo, o que não era mentira.
Seus pés não conseguiram a levar muito longe, pois, com apenas um salto a criatura pulou sobre ela fazendo com que fosse ai chão. Suas costas foram com força contra a terra fria. Por segundos, o ar sumiu de seus pulmões. Seu batimentos cardíacos batiam tão violentamente, que pareciam estar dentro de seus ouvidos.
Com os olhos fechado, Ava se preparou para o golpe que tiraria sua vida. Não tinha para onde fugir. Não tinha para onde correr.
Sentiu através da respiração do animal que ele só estava à alguns pequenos centímetros. Seu hálito era quente, e se antes já era difícil respirar, com a respiração do animal sobre si era pior ainda.
Como se eu precisasse respirar.
Ava pensou e riu em pensamento. Riu por estar rindo em uma situação daquelas e também por estar certa. Ela morreria de qualquer jeito. Por que adiar o inevitável? Seria melhor morrer sufocada do que virar comida de lobo!
Seus dedos estavam enfiados dentro da terra procurando algo em que podesse se agarrar. Seu corpo prensado sobre a terra queria mais do que tudo, o poder de se fundir à ela. Cada segundo era agonizante e a coisa piorou - como se fosse possível - quando o animal parou com o focinho quase encostando em Ava.
Ela esperou mas o ataque não veio. Lentamente a mulher abriu os olhos curiosa, pensando no porque de o animal não ter atacado. Seus olhos se abriram à tempo de ver os olhos quase negros se tornarem dois universos azuis e brilhantes. Eram os olhos mais lindos que ela já vira em toda a sua vida.