Te protegerei de todo mal

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ALERTA DE VIOLÊNCIA FÍSICA.

Entrando pelos fundos do estábulo, Cathy pode ouvir ruídos estranhos. Sem fazer muita movimentação que provoque alarde, decidiu ir até a baia de Annis, a mais óbvia, mas a que por ser tão óbvia a menina pouco usava, então talvez aquela fosse uma oportunidade.

Ao chegar perto do portão, ela encontra Ian segurando a mão da menina, enquanto a mesma está com um pelego sobre o rosto. A súbita vontade de gritar é interrompida pelo lapso de consciência de que precisa fazer algo mais efetivo. Rapidamente, mas sem fazer qualquer barulho que permita que seja percebida, Catherine vai até o compartimento de ferramentas e escolhe a que mais facilmente poderia auxiliá-la.

— Você não imagina o quanto é linda. — Ao ouvir Ian falando ela sentiu ainda mais repulsa e angústia e, então, atacou-o violentamente com apenas um golpe nas costas.

Caindo para o lado e com o sangue jorrando, ela retira pelego do rosto da menina e agradece que não tenha morrido sufocada. Tremendo da cabeça aos pés, Catherine carrega Rosalie no colo até o quarto sem nem mesmo olhar para trás. Havia feito o impensável, mas não se arrepende de ter acertado Ian com um machado. Seja o que fosse, faria o necessário para salvar a menina dela.

— Calma, minha querida, fique calma, estou aqui com você. — Ela diz, enquanto sobe as escadas com a menina no colo.

Havia passado pela cozinha e encontrado Gavin e Cristóvão conversando. Apavorados, os dois não entenderam, mas ela logo tratou de explicar nas entrelinhas, enquanto tremia de nervoso. Pediu que dessem um jeito na situação, mas não mencionou palavra alguma que a criança pudesse ouvir e ficar ainda mais transtornada.

Chorando compulsivamente, ela manteve a menina dentro do abraço. A criança parece em choque, não diz uma palavra e o silêncio provoca ainda mais dor. Aquele vazio em aberto, os sentimentos em conflito e a respiração descompassada. Com vestido azul de golas brancas bordadas em flores completamente rasgado na parte da frente, Rosalie estava abraçada ao próprio corpo. Pelo formato do rasgão, Cathy imagina que tenha sido a força, enquanto a menina tentava fugir da violência.

Observou as marcas nos pulsos e o rosto vermelho por tanto fazer força e clamar por socorro, concluiu brevemente que ela tentou fugir por muito tempo, que provavelmente gritou em desespero, mas ninguém conseguiu ouvi-la porque eles estavam no estábulo. Bem longe de tudo. Bem longe de todos. Aquela já não era a primeira vez que o destino que ela tanto empurrava para longe havia encaminhando-a ao caminho certo. Catherine procurava pela menina exatamente no momento em que a criança precisava. Foi a partir das instruções de Gavin que decidiu ir procurar Rosalie, porque a mesma também estava na busca dela.

Colocando a menina sobre a cama, Catherine não pensa duas vezes em pegar uma manta para cobri-la. Deixando-a enrolada, ela a abraça forte e fica tentando formular algo que pudesse dizer, mas é uma situação tão assustadora que não tem coragem de dizer qualquer coisa que possa provocar ainda mais dor. Lembrou então de presenciar e viver casos de violência, mas nenhum deles sequer podia ser comparado ao que havia vivido. Aquela sequência de acontecimentos, ouvir que a criança estava engolindo a saliva, ver que aperta os olhos para não os abrir e encarar a realidade que ela provavelmente quer apagar inconscientemente.

— Estou aqui. —  Conseguiu dizer. Aquele tanto foi o suficiente para entender que ela própria também vai desmoronar, porque sentiu a garganta em aperto — Prometo que irei te proteger de todo o mal que houver no mundo.

— O que eu fiz de errado? O que Ian queria? Ele ia me machucar.

— Ele nunca mais fará nenhum mal para ninguém, eu te prometo. — Foi o que conseguiu dizer, com a voz saindo por aquele entalado que aperta o coração.

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