Não vivemos na inquisição

231 25 1
                                    




— Posso falar com o senhor por um instante?

A entrada de um desconhecido na casa só se dá com a autorização prévia de Francis, mas não no caso de Juan, seu fiel amigo e companheiro de trabalho nas rotas de verificação relacionados aos ataques contra monarquia, em Glasgow.

Diferente dos demais, ele acessa a casa sempre que precisa conversar com Francis. É um dos entusiastas dos cafés de Gavin e vez que outra já tentou algo com Justine, apesar da mesma sempre recusar qualquer investida dele, que segundo ela é um falastrão de primeira.

— Por que a pressa? — Questionou, soltando o lápis sobre a mesa para observá-lo.

— Não, senhor, não há pressa, mas o ideal é que evitemos algo que poderá ocorrer caso o senhor não tome alguma atitude em breve.

— Entre, por favor. E feche a porta.

O escritório da residência dos Bauffremont é imponente e bastante grande. Existem muitos livros por toda a parte, além dos guardados na biblioteca, e muitos manuscritos e projetos escritos por Francis. Em uma das estantes estão algumas marionetes cuidadosamente selecionadas por ele, objetos diversos que, em sua maioria, foram presentes, um vaso ou outro, um pequeno quadro pintado por Marie e ao alto algumas esculturas produzidas pela mesma. Próximo da estante das marionetes, está a mesa para trabalhos manuais, uma maior para reuniões e uma outra para que ele possa realizar conversas breves.

— O que precisa? — Tentou incentivá-lo a falar, porque geralmente Juan não é de se esquivar.

— Senhor, sinto informar, mas existe uma nova ofensiva na cidade. — Disse sem se mexer ou demonstrar muito no semblante ansioso, que guarda informações preciosas.

— Contra quem?

— Mulheres da vida, senhor.

— Compreendo. — Francis sabe da existência de prostitutas na cidade, assim como também é obrigado a cobrar impostos das mesmas e verificar quantas de fato existem e em quais locais estão.

— Como devemos agir? — Buscando nele alguma resposta, fungou o nariz e deu uma leve coçada na tentativa de reduzir a coceira, tal qual sempre faz quando está no escritório, porque o aroma das flores não lhe é muito confortável.

— Não hajam.

— Como? — Perguntou.

— Não ouviu o que eu disse? Não quero que realizem qualquer tipo de ação contra elas. Estamos entendidos? E, por favor, pare de se coçar. Assim me deixa agoniado. Eu já lhe indiquei tratamento.

— Mas senhor?

— Juan, quem dá as ordens aqui?

— Desculpe, senhor. Mas são pessoas que estão atrapalhando o desenvolvimento de nossas famílias. Um dia poderá ser a sua também.

— O que está insinuando?

— O senhor nunca...?

— Juan, você é um grande amigo, pelo apreço que tenho por você, peço que não se atreva a completar essa frase. — Disse Francis, levantando-se da cadeira e colocando as duas mãos sobre a mesa para encará-lo.

— Perdão. — Suplicou.

—Nunca mais em minha presença ouse afirmar qualquer coisa contra minha pessoa e nem contra minha família. Eu nunca faria uma coisa dessas. Você fala como se não me conhecesse.

— Perdão, senhor. Me desculpe. Não foi com essa intenção e...

— Eu sei que não. Está desculpado. — Não riu, porque não é o correto. Sentiu uma pontada de desconfiança vinda do amigo e culpou-se por nem sempre ser sincero o suficiente com ele, dando margem para esse tipo de julgamento equivocado.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 17, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora