Um Passo Atrás de Você (Conto 1 - Série Secrets)

Capítulo 17

Melissa tinha uma missão a cumprir com o seu país e o seu trabalho. E com Lídia Greenwood, que era uma boa pessoa que não merecia os filhos que tinha. Trabalhar no meio dos milionários era complicado, muitos se deixavam levar pelo poder que o dinheiro trazia, outros conseguiam manter um bom caráter, mas Melissa sabia que não era seguro colocar a mão no fogo por ninguém.

Carter continuava falando e atualizando os superiores sobre o plano de Melissa de confrontar Elizabeth sobre a filha adotiva Diana. Melissa já tinha repassado o plano mil vezes na cabeça, pensando em tudo o que poderia dar errado e em como escapar de cada uma das situações. Estava confiante de que tudo daria certo.

Sorriu para si mesma e Sebastian apareceu sorrindo em seus pensamentos. Rapidamente tentou reprimir aquele sorriso tentador. Se mexeu na cadeira incomodada.

— Já falamos sobre o plano milhares de vezes, Carter. Precisamos agir.

Carter deu uma risada alta e olhou para seu superior através da tela do computador.

— Melissa gosta de ação, senhor. Sorte dela que tem a mim para pensar em como a família Greenwood poderia nos destruir, se quisessem.

— Não haverá escapatória, Carter. Temos provas contra alguns Greenwood. Lídia não ficará do lado dos filhos já que eles não pensaram nela e nem no nome da família.

***

Ele estava esperando-a chegar. O corpo ansiava por vê-la, mas não admitiria isso nem para si mesmo. Tinha explicado tudo para West na noite anterior. Agora tudo parecia estar se encaminhando para o fim e ele estava torcendo para sair disso tudo sem se queimar — mais uma vez. Sabia que tinha que cumprir o acordo com a CIA, mas seu cérebro pensava em milhões de maneiras de fugir pelo mundo e deixar os figurões a ver navio. O problema é que nessa missão ele não ganharia nenhum dinheiro e o outro... Ele não queria nomear.

***

Lídia Greenwood estava ficando com o neto, Michael, em Chicago, por isso Melissa não precisou fingir que era a recatada Suzanna enquanto esperava Elizabeth chegar em casa.

O acesso à casa foi fácil, já que ela era uma funcionária da família. A desculpa de que precisava mandar por correio algumas coisas importantes para Lídia Greenwood foi o suficiente para abrirem as portas (o que ela achou completamente estúpido porque com o dinheiro dos Greenwood eles podiam comprar o que queriam ou precisavam quando quisessem).

Melissa estava atenta a todos os barulhos e seu coração disparou quando viu Elizabeth Greenwood entrar na biblioteca.

— O que está fazendo aqui, Suzanna. Minha mãe está viajando, não precisamos dos seus serviços.

Melissa levantou-se da poltrona e se aproximou um pouco do televisor. Elizabeth olhou para ela e percebeu pela primeira vez que a mulher não estava usando seus vestidos floridos e recatados e sim uma calça jeans skinny, uma blusa preta e botas tratoradas pretas.

Elizabeth riu.

— Ora, esta é você longe da minha mãe?

— Na verdade, esta é quem vai te mostrar quem roubou o cofre da sua família.

Elizabeth perdeu a pose momentaneamente.

— E como você descobriu?

Melissa ligou o televisor e o vídeo do dia do roubo apareceu. Melissa foi explicando os detalhes e porque achava que era Diana quem tinha roubado.

— Você acha que minha filha por ser adotada é LADRA, Suzanna? — Elizabeth veio para cima da outra e lhe desferiu um tapa.

Melissa anteviu o movimento, mas precisava estar sob controle e, Elizabeth precisava sentir que estava no controle da situação.

— O que você acha que vai conseguir de mim, menina? Dinheiro? Usou minha mãe como desculpa para tentar sujar o nome da família? Muitos outros tentaram e não conseguiram e garanto...outros muito mais espertos que você.

Melissa sentiu o fogo em seu corpo. Queria brigar com a mulher, mas manteve a cabeça baixa.

— E-eu...

— Sim, minha mãe é uma pessoa boa, mas esta família...não é. Nenhum Greenwood é e você mexeu com a família errada.

— Mas se eu mostrar esse vídeo para a sua mãe...

Elizabeth riu divertida. Melissa sentiu o poder dominando a outra mulher.

— Você não terá a chance.

— Mas... por quê? É seu dinheiro também, você foi traída.

— Acha que eu fui traída?

Melissa percebeu que Elizabeth sabia mais do que havia pensado. Num estalo percebeu que Elizabeth sabia tudo. Só precisava de uma maneira para fazer a mulher falar.

Elizabeth estava com lágrimas nos olhos. Olhou para Melissa e tentou engolir o choro. Nunca tinha contado aquela história para ninguém... Já tinha passado anos demais guardando tanta mágoa, tanto choro, tanta saudade.

— Elizabeth? — Melissa aproximou-se da outra mulher. Sentia que ela precisava desabafar.

— A família Greenwood não é nem de perto tão perfeita quanto aparenta. Meu irmão Edward sempre fez tudo o que quis e nunca sofreu nenhuma consequência. Já abusou de tantas funcionárias que perdi as contas. Eu me apaixonei e fui crucificada.

"Quando conheci a Isla eu estava perdida. Estava fazendo faculdade, por pressão dos meus pais, algumas amizades ruins, drogas... Um dia Isla me encontrou embaixo de uma árvore no campus desacordada. Quando abri os olhos estava coberta com um casaco verde quentinho e me deparei com olhos da mesma cor, ainda mais quentes. Isla me tirou do escuro, me trouxe para a luz, ela foi a minha luz. Ela é a minha luz..."

Melissa percebeu que Elizabeth não estava mais naquele cômodo, mas que estava presente em todos os momentos da história que contava agora.

— Até que um dia...alguém tirou a luz que ela tinha. Um veterano encontrou minha Isla voltando para casa sozinha uma noite e... Isla sempre quis ter filho, então decidiu ter a Diana. Naquela época eu não conseguia entender, fui contra a ideia e quis que ela abortasse, mas Isla insistiu. Pouco depois terminamos, eu não aguentava vê-la sofrer pelo que tinha passado e ao mesmo tempo feliz por estar carregando uma nova vida.

"Três anos se passaram e eu evitei trocar uma palavra sequer com a mulher da minha vida. Mandei flores nos aniversários, mas sem cartão. Mandei cartões postais dos lugares que queríamos viajar juntas, mas sem nenhuma palavra. Um dia estava almoçando com minha mãe quando chegou uma carta. Isla implorava por mim. Ela estava doente e não confiava a mais ninguém a filha querida.

Nunca conheci um amor como esse. Isla amou Diana mais que a própria vida e eu amei Isla mais que a minha. Agora amo Diana. Adotei ela e a amo cada segundo do dia, pois vejo nela a mulher que um dia amei.

Me vingo de toda a família que me rejeitou nos anos em que passei com Isla, me vingo do dinheiro que privilegia os homens, me vingo pelo amor."

Melissa olhou para Elizabeth, tentando não demonstrar nada, mas sentia tudo, sentia tanto. Aquela mulher amou mais do que um ser humano parecia ser capaz e tudo lhe foi tirado. Quando o mundo é muito cruel com as pessoas, as pessoas começam a ser cruéis com o mundo também.

— Mas o que você ganha roubando sua família?

— Não estou roubando, muito me pertence. Abri instituições para mulheres ao redor do mundo e mando dinheiro para ajudar. Temos demais e não merecemos. E você está olhando para o lado errado, menina...

— O que quer dizer?

— Pegou o membro errado da família.